Há poucos dias foi o poderoso Deutsche Bank (alemão) a anunciar demissão de 9 mil trabalhadores bancários para “melhorar a frágil situação do banco”, descreve o Financial Times. Isso representaria 9% do staff do banco, sendo que quatro mil demissões dessas ocorrerão na Alemanha. Além, o banco resolveu reduzir em 6 mil, dos 30 mil consultores externos usados em área com a de tecnologia e informação. Também saindo fora de dez mercados, principalmente em cinco países da América Latina, com a venda do Postbank (subsidiária) o Deutsche passará o “facão” em nada menos que outros 19 mil empregos!

Mas qual a razão essencial das medidas tomadas pelo Deutsche, o maior dos bancos da Alemanha? O próprio FT esclarece mais adiante que, pagante de uma multa de U$ 2,5 bilhões tomada por sua participação no escandaloso episódio de manipulação da Libor britânica (taxa de referência para juros interbancários, tabelada em Londres), culmina-se a demissão de seu executivo-chefe adjunto A. Jain [2]. O que foi seguido por nova falcatrua envolvendo o banco, desta vez na Rússia, então flagrado em lavagem de cerca de US$ 6 bilhões, nos últimos quatro anos – o diário londrino omite menção à operação de lavagem. [3] 

Grande banco lava e financia o “terrorismo”

Não à toa temos registrado uma comprovação indisfarçável do contubérnio fraudulento e criminoso do atual sistema financeiro internacional: em 17 de Julho de 2012, tornou-se público e comprovado que David Bagley, diretor mundial do banco HSBC para regulamentação pediu demissão em sessão no Senado dos EUA. A sessão fora convocada para Bagley ser formalmente acusado, após investigação, de permitir operações de lavagem de dinheiro do narcotráfico (cartéis do México), bem como de dinheiro proveniente de financiadores de “grupos terroristas” (Arábia Saudita). A alta direção do banco sabia de tudo! [4] O banco tem raízes mergulhadas em guerras coloniais e comerciais conduzidas pelo imperialismo inglês na Ásia.

De acordo ainda com extensa reportagem da irreverente (e insuspeita de “esquerdista”) revista Rolling Stone, durante pelo menos cinco anos esse maior banco britânico ajudou a lavar centenas de milhões de dólares para traficantes de drogas, incluindo o cartel de Sinaloa do México, declarou o ex-procurador-geral de New York Eliot Spitzer: eles “fazem os caras em Wall Street parecerem bonzinhos”.

O banco HSBC também lavou dinheiro para organizações terroristas ligadas à Al-Qaeda, para gângsteres russos, entre outros; teria transacionado com o Irã, Sudão e a Coréia do Norte, países sancionados pela ONU. “Além de ajudar assassinos, traficantes de drogas, terroristas e estados desonestos”, auxiliando fraudes fiscais comuns para esconder muito dinheiro – afirma com todas as letras Jack Blum (advogado e ex-investigador do Senado dos EUA), chefe de uma investigação de suborno importante contra a empresa Lockheed em 1970. “Eles violaram todas as malditas leis que constam no livro”; “Eles fizeram todas as formas imagináveis e possíveis de negócios ilegais e ilícitos” – disparou então Blum, na mesma reportagem.

Oligopólio bancário global, gigantesca especulação sistêmica

Para François Morin, economista, professor emérito em Toulouse e membro do conselho geral do banco central francês, uma “hidra” mundial bancária nasceu há cerca de dez anos, e já tomou conta de todo o planeta. [5] Apenas 14 bancos com importância sistêmica “fabricam” derivativos, cujo valor imaginário (o montante dos valores segurados) chega a US$ 710 trilhões, ou mais de 10 vezes o PIB mundial (Produto Interno Bruto).

Conta ainda Morin que, desde 2012 autoridades judiciais dos Estados Unidos, britânicas e a Comissão Europeia aumentaram investigações e multas que demostram que muitos desses bancos – especialmente onze deles (Bank of America, BNP-Paribas, Barclays, Citigroup, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland, UBS) – montaram sistematicamente “acordos organizado em bandas”. Isto é, construíram um oligopólio movido à uma cartelização sistêmica. O que pode ser visto na citada operação de manipulação da Libor e do mercado de câmbio, que levou a imposição de multas de muitos bilhões de dólares, prática esta cada vez mais generalizada.

Coincidindo com o avanço da “globalização financeira”, o super-oligopólio bancário tornou-se muito rico: o balanço total dos 28 bancos do oligopólio (50,341 trilhões de dólares) é superior, em 2012, à dívida pública global (48,957 trilhões de dólares)! Suas dívidas privadas tóxicas foram maciçamente transferidas para os Estados, na última crise global. Ao lado de montanhas de riqueza fictícia, por suposto.

Na argumentação de Morin, depois dos anos 1970 os Estados perderam “toda a soberania monetária” – sendo eles os responsáveis. A moeda agora é criada pelos bancos, na proporção de cerca de 90%, e pelos bancos centrais (em muitos países, independentes dos Estados) os restantes 10%. Além disso, a gestão da moeda, através de taxas de câmbio e taxas de juros, está inteiramente nas mãos do oligopólio bancário, que tem todas as condições para manipulá-los. O desastre “está diante de nós” conclui Morin; e se um novo terremoto financeiro ocorrer – “as condições estão maduras” – os Estados estão exauridos, e será “ainda mais grave do que o precedente”.

Fraude bancária no Brasil

No último dia dezoito, veio à luz no Brasil [6] que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negocia acordos com bancos que estão sendo investigados por “supostas” (?) manipulações nas taxas de câmbio no Brasil, entre 2009 e 2011, pelos quais eles terão que entregar provas de cartel para obter redução de penas.

Dos 15 bancos investigados, logo uma surpresa! Os mesmos HSBC e DEUTSCHE encabeçam a lista junto ao Banco Standard de Investimentos, o Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, o Barclays, o Citigroup, o Credit Suisse, o J.P. Morgan Chase, o Merrill Lynch, o Morgan Stanley, o Nomura, o Royal Bank of Canada, o Royal Bank of Scotland (RBS), o Standard Chartered e o UBS.

Provando cabalmente que nada há de “suposto” na operação fraudadora multinacional no país, o suíço UBS já assinara em julho passado um “acordo de leniência” assegurando documentalmente ter havido sua participação na patifaria planejada e executada! Mas  há – diz-se no jornal – ainda 30 pessoas físicas suspeitas de participação na roubalheira.

Marx e o sistema de crédito

Para Marx, a consequência decisiva do desenvolvimento capitalista converge para o que denomina de “moderno sistema de crédito”. Ou seja, na medida em que: (i) a concentração (e centralização|) de capitais; e, (ii) o moderno sistema de crédito são por ele considerados as principais “alavancas da acumulação capitalista”. Nele localiza os pressupostos sobre o impulso à superacumulação de capital tendo por base a dinâmica permanente do capital financeiro (capital-dinheiro ou capital monetário) e sua direta relação com superacumulação, especulação e crises. Em suas visionárias palavras: 

“Se o sistema de crédito é o propulsor principal da superprodução e da especulação excessiva… (…) acelera o desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado mundial… (…) Ao mesmo tempo, o crédito acelera as erupções violentas dessa contradição, as crises… (…) levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo”. [7]

NOTAS
[1] Em: “A teoria do desenvolvimento econômico”, J.A. Schumpeter, Abril Cultural, 1983 [1911], p. 86).
[2] Acompanhe esse revelador episódio aqui: https://br.noticias.yahoo.com/mundo-econ%C3%B4mico-pol%C3%ADtico-comemora-demiss%C3%A3o-diretores-deutsche-bank-174848465–sector.html
[3]Ver:http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/detalhe/presidentes_do_deutsche_bank_renunciam_apos_escandalo_das_taxas_de_juro.html
[4]Ver: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/55138-hsbc-lavou-dinheiro-diz-senado-dos-eua.shtml
[5] Em: “A hidra mundial. O monopólio bancário” (http://outraspalavras.net/posts/os-28-bancos-que-controlam-o-dinheiro-do-mundo/).
[6] Em: “Bancos negociam acordos com o Cade”, J. Basile, Valor Econômico, 18/11/2015.
[7]  Ver: O Capital, Livro 3, volume 5, p. 510, Civilização Brasileira, s/data.