O previsível aconteceu. Vaccari foi preso. A direita necessitava de novos fatos midiáticos para acusar diretamente o PT nas investigações sobre a Petrobrás.

Esta campanha tocada, principalmente, pelos meios de comunicação, cobrem as investigações sem dar o devido espaço para o outro lado, distorcem os fatos, caluniam pessoas e entidades – por exemplo, a Rede Globo chama o “Mensalão” de “Mensalão do PT” –; convocam as manifestações de rua; entre outras canalhices.

A articulação dos meios de comunicação com setores do Ministério Público, Polícia Federal e outras fontes do Poder Judiciário, que deveriam preservar o “sigilo de justiça”, igualmente é notória. Quando a Polícia Federal pulou o muro de casa de Vaccari para intimá-lo a prestar depoimento coercitivamente no mês de março, a imprensa já tinha sido avisada e estava presente.

O problema não é alguém se tornar suspeito e investigado por alguma razão. Porém, no caso vigente, Vaccari nunca se recusou a prestar depoimentos e compareceu em juízo sempre que chamado, atendeu à convocação da CPI e teve sua conta bancária vasculhada. Portanto, ele poderia perfeitamente responder ao processo em liberdade.

Mas não. A acusação se tornou política, envolveu também sua família e “vazou” para mídia. Hoje, todos que acompanham o caso sabem a sua renda e patrimônio, bem como a de sua esposa, filha e cunhada. Aliás, sua cunhada foi vítima de outra arbitrariedade quando foi presa por seis dias ao ser confundida com sua irmã (esposa de Vacari) nas imagens de um caixa eletrônico no momento em que esta realizava depósitos bancários.

O objetivo deste comportamento arbitrário dos procuradores, policiais e até do juiz é vazar informações para ver se elas geram novas informações e aproveitar para “queimar” o réu diante da sociedade e deixar dúvidas na mente de seus companheiros de luta, pois a distorção e as mentiras da imprensa são impressionantes.

Eu conheço Vaccari há mais de 25 anos, quando ele já era dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Sempre foi leal e ético com os trabalhadores, bem como com os seus colegas de trabalho. Foi da diretoria do DIEESE e da Executiva Nacional da CUT, onde atuamos juntos. Numa demonstração de coragem e compromisso com o Sindicato dos Bancários, ele também assumiu a presidência da Bancoop num momento de grandes dificuldades dessa entidade.

Quando o Presidente Lula assumiu o governo do Brasil, Vaccari compôs o Conselho de Administração da Empresa Itaipu Binacional. Ele ficou na função até o final de 2014. Posteriormente, foi para a Executiva do PT em 2010 e se aposentou do Banco Banespa/Santander, através do Banesprev. Aliás, sua esposa já havia se aposentado, também do BANESPA, e atualmente trabalha em sua própria clínica de psicologia.

Menciono esta carreira para colocar em pratos limpos algumas tergiversações e insinuações maldosas dos meios de comunicação e dos agentes judiciários sobre o patrimônio e a renda do Vaccari, que somam a renda de vários anos para dar a impressão de valores maiores e insistem responsabilizá-lo por atividades anteriores a 2010, quando ingressou na Executiva do PT. A sua família é de classe média e com uma filha única que se formou médica e se casou com um médico.

Aliás, a prisão ocorreu exatamente depois de seu depoimento na CPI da Lava Jato, onde Vaccari apresentou os dados inequívocos que comprovam que as doações das empresas investigadas ao PT foram quase nos mesmos montantes doados a outros partidos, como o PSDB e PMDB, nas mesmas épocas. Ou seja, demoliu a tese de que as doações ao PT seriam ilegais ou fruto de propina. Foi por isso que foi preciso inventar suspeitas de enriquecimento ilícito de Vaccari e de sua família para tentar “justificar” essa prisão completamente ilegal.

Por isso tudo não podemos vacilar na defesa do PT e do nosso companheiro João Vaccari, pois ambos estão sofrendo uma covarde tentativa de linchamento moral. Nossos adversários já falaram em acabar com a nossa “raça” e, agora, começam a levantar a hipótese de extinguir o partido através de uma ação na justiça. Aliás, a via judicial tem se tornado o refúgio da mídia conservadora e da direita, que não conseguiram ganhar no voto as últimas quatro eleições que disputaram. Não conseguiram daquela vez e não vão conseguir agora também.

Kjeld Jakobsen foi secretário de Relações Internacionais da CUT e hoje é diretor da Fundação Perseu Abramo

Publicado em Agência PT, em 30 de abril de 2015