Enquanto o governo monta seu ministério, a oposição começa a definir a composição de seus gabinetes na Câmara e no Senado.

O assunto seria menor, não fossem as movimentações que começam a acontecer e mostram claramente o que os oposicionistas pretendem.

Os gabinetes de alguns dos expoentes do PSDB na Câmara e, principalmente, no Senado se articulam para trazer técnicos que combinem experiência de governo e capacidade para lidar com dados que possam ser usados contra o atual Governo.

O principal objetivo é transformar diagnósticos e achados técnicos em factoides, discursos políticos, furos para a mídia, suporte ao comentarismo golpista e replicação de mensagens nas redes sociais. Eventualmente, fundamentos para ações judiciais.

Os escolhidos para dar suporte aos políticos formarão um time de técnicos, a maioria egressos do Governo Federal (de carreira ou do período FHC) e de governos estaduais, como o de Minas Gerais.

Os gabinetes de José Serra, Tasso Jereissati e Antonio Anastazia, no Senado, estão montando suas equipes com essa orientação.

Aécio quer manter colaboradores de campanha próximos e ativos

Aécio deve estender a estratégia para o próprio PSDB, do qual é presidente, tentando montar algo como um governo paralelo, principalmente com sua fundação partidária – o Instituto Teotônio Vilela.

A ideia é, com recursos do Fundo Partidário, criar grupos de investigação em várias áreas (economia, políticas sociais e política externa) para fornecer elementos a serem explorados no discurso de oposição.

O quadro se completa com um time de analistas que já são utilizados corriqueiramente como “especialistas” pela mídia, mas que participaram ativamente da formulação do discurso de campanha de Aécio. Não à toa, Aécio continua a chamar Armínio de “o meu ministro da Fazenda”.

A ordem é não dispersar esses colaboradores e, de qualquer maneira, mantê-los remunerados na continuidade desse trabalho.

Uma série de consultores de maior envergadura – ex-ministros do Supremo, ex-secretários de governos estaduais, consultores de grandes empresas – deve fazer parte de um outro jogo combinado.

A ideia é que sejam contratados para consultorias governamentais do PSDB, ou em secretarias que o partido comanda em governos de outros partidos.

Esses consultores de luxo forneceriam dois tipos de trabalho: um, de natureza oficial e mais “pasteurizado” para o consumo desses órgãos públicos, outro de cunho eminentemente partidário, tal como uma espécie de amostra grátis, como demonstração do espírito de colaboração e como um investimento no futuro – na medida em que sonham em ganhar espaço em seu sonhado futuro governo tucano.

Também há consultorias de grupos com interesses contrários ãs políticas do atual governo que, “graciosamente”, entregarão seus números e análises para serem empregados pela oposição.

Dinheiro público e privado patrocina discurso afiado e mobilização permanente

Um volume razoável de dinheiro público e privado será gasto pela oposição para movimentar esse conjunto de analistas, consultores e comentaristas em atividades que misturam algum verniz de academia, um tom de indignação e um viés de mobilização.

O padrão de ataque é, a partir de um mote – um assunto com gancho na conjuntura-, usar o seguinte “script”: “os números mostram que tal coisa vai mal”; “o governo faz tudo errado”; “ninguém aguenta mais”; “vai piorar se esse governo não acabar logo”.

O formato é feito sob medida para unificar discursos, produzir manchetes e artigos de opinião, até terminar em “memes” para as redes sociais, discursos de plenário no Congresso e mesmo ações judiciais.

O formato prevê uma série de “produtos” como seminários, debates e conferências, livros e blogs de opinião e noticiosos, entre outras iniciativas, todas com endereço certo: replicar opiniões contrárias ao governo Dilma, aos partidos que a apoiam, ao ex-presidente Lula, ao pensamento de esquerda e às relações do Brasil com os BRICS e os países do Mercosul.

A estratégia não é de todo nova, mas ganha escala e foco a partir de 2015.

Uma das avaliações que se faz no PSDB, junto com um grupo de colaboradores mais próximos, responsáveis por acertar essa estratégia, é que iniciativas como o Instituto Millenium, embora importantes, se mostraram tímidas demais para a dimensão que a oposição pretende adquirir.

O uso do poder de fogo da grande mídia foi o lado que melhor funcionou, inclusive em um momento em que se considerava que a oposição estava sem rumo e sem cara.

Agora que o quadro mudou, pretende-se combinar melhor o jogo. A mídia que ganhou o apelido de PIG (partido da imprensa golpista), popularizado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada, expôs-se demasiadamente.

Embora, com isso, tenha demonstrado seu compromisso orgânico com o principal partido de oposição – na verdade, foi o partido que sempre se prestou a ser seu bom garoto de recados -, essa imprensa depende de manter algum nível de credibilidade e de audiência entre eleitores cada vez mais desconfiados do viés de suas reportagens.

Desses, apenas as revistas como Veja e IstoÉ são consideradas como tendo assumido um caminho sem volta, o de tropa de choque do golpismo midiático.

Para os demais, a percepção é de que suas ações mais agressivas só virão a ocorrer se respaldadas por uma estratégia mais pulverizada, disseminada e até originada pelas redes sociais. Do contrário, a ação pró-tucanos cai no vazio.

A representação do PSDB junto ao TSE, levantando questionamentos sobre o processo eleitoral baseadas em supostas mensagens provenientes das redes sociais, embora tenha sido considerada uma trapalhada, é uma estratégia que deverá ser utilizada mais intensamente para outros temas – aqueles que não necessariamente tenham como destino imediato os tribunais superiores, e sim
a opinião pública.

Para o PSDB, ações judiciais devem estar no fim da linha, e não o começo de tudo, sendo antes preparadas por um trabalho de mobilização da opinião pública que prepare o terreno para golpes mais ousados, na esfera institucional.

Governo desceu do palanque mas não subiu a rampa

Em suma, o PSDB não desceu nem irá descer do palanque. Sua campanha de terceiro turno está a pleno vapor.

Enquanto isso, o governo e os partidos aliados é que andam meio calados e sumidos.

Na semana de guerra no Congresso pela aprovação da flexibilização da meta de superávit, enquanto se via um baile agressivo da oposição, a reação das deputadas do PCdoB, Jandira Feghali e Vanessa Grazziotin, e os discursos dos deputados gaúchos Paulo Pimenta e Henrique Fontana e do senador do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias, foram os únicos lampejos de alguma resposta minimamente à altura.

É pouco. É como ter disponíveis apenas uma pá para cuidar de uma avalanche.