Abram as mentes os atentos aos presságios. Meditem todos sobre o que vem das terras acobertadas pelos lençóis maranhenses. E decifrem a mensagem emoldurada na saudação: “Nós vencemos, pai, os comunistas venceram”. Abram as mentes os atentos aos presságios. Meditem todos sobre o que vem das terras acobertadas pelos lençóis maranhenses. E decifrem a mensagem emoldurada na saudação: “Nós vencemos, pai, os comunistas venceram”.

O pai, a quem se dirigiu essa mensagem, era um deputado estadual em 1964. Chama-se Sálvio Dino. Por suposto envolvimento com os comunistas, foi cassado pela ditadura militar. O filho, Flávio Dino, acaba de ser eleito governador do Maranhão, e é o primeiro governador comunista do Brasil.

A batalha eleitoral que elegeu Flávio Dino está eivada de significado e lições. A última das velhas oligarquias instaladas em terras nordestinas, a oligarquia dos Sarney, travou sua batalha final. E perdeu. O quadro eleitoral foi muito intricado.

Das profundezas sociais e territoriais do Maranhão, um desejo de mudança vinha se adensando há algum tempo. O povo demonstrava exaustão de ver seu Estado, há anos, nos últimos lugares das classificações nacionais, nas páginas policiais e governado por um mesmo grupo. Um comunista e seu partido compreendeu este desejo, o incentivou e o assumiu, Flávio Dino e o Partido Comunista do Brasil. E começam a organizar o enfrentamento.

A velha oligarquia, sentindo ameaça no horizonte, lança mão de seus últimos trunfos. Primeiro tenta acabar com a própria frente, chamando seu líder para uma “composição” onde “todos ganhariam”. Flávio recusa e se coloca como candidato do enfrentamento. A oligarquia estrutura sua chapa encabeçada por Lobão Filho. Depois, passa às pressões “por cima”, para não permitir que partidos à esquerda, como o PT, apoiassem o Flávio. Termina conseguindo retirar apoios e neutralizando forças que poderiam dar ao Flávio uma vitória acachapante. Mas os comunistas não esmorecem e passam a aglutinar todos os que quisessem virar a página atual de atraso da história do Maranhão. E a frente cresce.

A tática comunista revelou-se correta, e foi administrada com a necessária habilidade. Como o PT foi obrigado pela sua direção nacional a apoiar o candidato da oligarquia dos Sarney, a candidata Dilma ficou em situação difícil, mas não gravou para a TV pedindo voto para o Lobão Filho. No curso da campanha, deixou-se fotografar com Flávio Dino, e permitiu a divulgação da foto. Quando Eduardo Campos passou pelo Estado, foi recebido por Flávio, que tinha o apoio do PSB. Forças que estavam com o Aécio Neves, também participavam da frente renovadora, e quando o Aécio esteve no Maranhão, foi recepcionado por Flávio.

Durante toda a campanha, a coligação “O Maranhão é de todos nós” foi ampla, mas não escondia que fora aglutinada pelo PC do Brasil, do qual Flávio é dirigente nacional. Não esconderia nem se quisesse, pois a toda a hora as forças oligárquicas lembravam à população essa condição do Flávio, através de inquirições provocadoras e de renitente apelo ao mais canhestro anticomunismo. De sorte que, os 63% de votos dados ao Flávio Dino foram dados pela população a um comunista, denunciado com fúria por seus adversários e assumido com orgulho por ele próprio.

Por isso, foi de um simbolismo grande o recado que Flávio Dino encaminhou a seu pai e através dele, a todo o povo, logo após saber de sua eleição: “Nós vencemos pai, os comunistas venceram”.

Sim, os comunistas venceram. Não sozinhos, não excluindo aliados, porque isto nunca nos interessou, mas com nossas marcas características, aglutinando correntes heterogêneas, respeitando-as segundo seus interesses específicos, dando consistência ao discurso da frente, dirigindo-a democraticamente e incorporando à campanha o entusiasmo e desprendimento da militância comunista.

O PC do Brasil tem apoiado com todas as forças o ciclo progressista que o país vive, aberto com o primeiro mandato de Lula. Irá agora, com a maior decisão, pela vitória no segundo turno da candidata que tem tudo para aprofundar as mudanças em curso no país, Dilma Rousseff. Faz isto, porque seu compromisso é com o processo em curso, com o progresso do Brasil e com os ideais maiores socialistas dos trabalhadores brasileiros.

O velho partido da classe operária brasileira, o partido do socialismo, tem enfrentado, contudo, problemas, Numa conjuntura ascensional, que conta com seu apoio destemido desde o início, tem tido dificuldades em crescer, particularmente na frente parlamentar.

O protagonismo que agora o PCdoB passa a ter no Maranhão, no quadro geral de uma sociedade capitalista, sob um governo progressista, que esperamos que prossiga, o da presidenta Dilma, cria uma situação nova onde o Partido poderá, pela primeira vez no Brasil, mostrar a forma comunista de governar em situação de transição, na economia, no social, no cultural, frente às liberdades, política e de consciência, e no plano ético. Suas ações poderão ser bem marcadas. Seu pensamento, suas ideias, poderão ser explicitadas e mais divulgadas.

As primeiras declarações de Flávio Dino apontam nessa direção. As 20 cidades de menor IDH do Estado terão um plano de “providências especiais”. Ante o descalabro das contas públicas, haverá um “pacote de medidas de probidade e transparência”. Ante a evasão dos recursos públicos, a promessa de “retirar nosso Estado das páginas policiais”. Para a falta de médicos que sacrifica o povo, uma versão estadual do “Mais Médicos” e no enfrentamento da questão da moradia o “Minha Casa Meu Maranhão”.

Nós, comunistas de todo o Brasil, saudamos com o maior entusiasmo a vitória de Flávio Dino no Maranhão. Sem arroubos, mas com a responsabilidade e a humildade que nos é própria, vamos mostrar mais a nossa cara, as nossas bandeiras, nossa identidade, vamos ter mais protagonismo, dar o exemplo de nossa capacidade de trabalho e de nosso trabalho na decência, na simplicidade, sem corrupção e sem desmandos. Para usar uma forma já talhada pelo Flávio Dino, será um “governo democrático e popular, baseado na soberania dos pobres”.

*Haroldo Lima é membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil e da sua Comissão Política.

Publicado no Vermelho