O intenso processo de discussão das virtudes (uma ênfase no desenvolvimento inclusivo, que reduziu a desigualdade) e dos defeitos (a crise mundial de 2009 levou ao esquecimento do “longo prazo” e às intervenções pontuais) que reduziram o crescimento no governo Lula-Dilma, mostram três fatos:

1) Que o Brasil aproveitou bem o “bônus” externo do crescimento das exportações mundiais a partir de 2002, construindo uma numerosa mas modesta classe média, inserida numa economia de 200 milhões de potenciais consumidores estimulados por um crescente acesso ao crédito;

2) Que a redução da desigualdade de renda ajudada pela revolução demográfica foi significativa, mas não substancialmente diferente da revelada por nossos parceiros latino-americanos;

3) E que a objeção aos programas de redução da desigualdade e inclusão social como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, é motivada menos pelo “egoísmo” de quem já tem, do que pelo sentimento “moral” de que seus beneficiários não os “merecem”.

A origem dessa “moral” indecente é a crença desinformada que os recipientes dos programas “não merecem” a ajuda porque não fizeram como eles que: trabalharam duro, esforçaram-se para aprender no emprego, construíram suas casas com suas próprias mãos nos dias de folga, não se divertiram com a paternidade “irresponsável”, sacrificaram-se para educar os seus filhos e “mereceram”, portanto, o crédito e os bens que têm. Trata-se de uma generalização fácil e pouco justificável diante da melhoria de foco dos programas e das condicionalidades impostas aos seus recipientes.

Um aspecto importante não considerado nessas diatribes, é que a maior coesão social produzida pela inclusão é favorável ao desenvolvimento econômico que beneficia a todos e, na vigência de bons programas, particularmente aos estratos de rendas mais baixos. Basta ver o diferencial de crescimento da renda real do primeiro decil da distribuição de renda com relação ao último.

Mais do que isso, desde a Constituição de 1988 estamos trabalhando para construir uma sociedade civilizada, caracterizada pela ênfase na “igualdade de oportunidades”, isto é, na qual cada cidadão dependa cada vez menos do lar em que nasceu, de sua cor ou do seu credo, como tem insistido a presidente Dilma.

Essa “igualdade de oportunidades” é fundamental para a construção de uma aceitável “justiça social” nos resultados obtidos por cada um na sociedade competitiva em que vivemos. Na partida da corrida, todos têm que ter as mesmas condições de educação e saúde. O lugar na chegada dependerá do seu DNA e da sua sorte. Viva a aceitação da diferença, porque é ela que garante a liberdade…

Publicado na Folha de S. Paulo