Leia também: Desvendando Marina, Por Rogério Cezar de Cerqueira Leite

O marinista rebate: “Marina acredita que o ser humano é uma criação de Deus; o professor Rogério Cezar e outros, idênticos a ele, acreditam que os seres vivos vieram de uma ameba, de uma gosma, da seleção natural (…)”

Como é que é?
A campanha de Marina irá ridicularizar a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, a maior conquista da ciência em milênios? Que permitiu salvar milhões, quiçá bilhões de vidas, e transformou o pensamento humano?
Todos os remédios produzidos no mundo, que salvam milhões de vidas diariamente; todos os estudos agronômicos, que permitem a produção agrícola em larga escala, matando a fome de bilhões de seres vivos; todos os avanços da ciência, da cultura e da tecnologia que vemos hoje derivam, de uma forma ou outra, de alguns pilares científicos que sustentam a vida humana em nosso planeta.
Um desses pilares é a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, hoje comprovada por inúmeros estudos e pesquisas arqueológicas.
Aliás, vou comprar um exemplar da obra-prima de Charles Darwin, porque pelo jeito precisaremos dela nessa campanha.
A lenda de Adão e Eva é uma ficção literária. Linda, metafórica. O texto bíblico tem poesia, lições morais e profunda espiritualidade.
Sou um leitor voraz e apaixonado do Velho Testamento.
Mas daí a acreditar no criacionismo, há uma diferença tão grande como rir de um desenho do Pica Pau e acreditar que seja um documentário.
A própria Marina Silva tem sido deliberadamente ambígua quando trata do creacionismo. A “nova política” não rasga votos, e Marina tem força junto a fieis de igrejas fundamentalistas.
Aliás, Marina só ganha de Dilma entre os evangélicos. Entre católicos, na espontânea do Ibope divulgado ontem, Dilma tem 34% dos votos, contra 22% de Marina, no primeiro turno. No segundo turno, as duas estão empatadas entre os católicos, com 43% cada.
Em seu site, Marina tenta responder à pergunta sobre creacionismo. Em suas próprias palavras:
“Um jovem me perguntou o que eu achava de as escolas adventistas ensinarem o criacionismo. Respondi que, desde que ensine também a teoria da evolução, não vejo problema.”
Ela não faz qualquer defesa da teoria da evolução das espécies. E quando afirma que não é criacionista, faz apenas uma ressalva “técnica”. Mas não toma posição em favor da ciência.
Ora, a gente até entende que candidatos majoritários fujam da questão do aborto com evasivas.
Mas ser evasivo quanto ao criacionismo, aí já é demais.
Uma coisa é acreditar em Deus. Uma coisa é acreditar que Deus criou a vida. Muitos cientistas acreditam. Outra é negar a evolução das espécies. Isso me parece inadmissível.
Será que Marina vai propor um “plebiscito” para o país decidir se viemos ou não de Adão e Eva?

Darwin versus Criacionismo

Leia o texto de Edson Barbosa em resposta a Desvendando Marina, Por Rogério Cezar de Cerqueira Leite

TENDÊNCIAS/DEBATES
Desvendando Rogério

Marina Silva é a melhor contribuição que o Brasil pode oferecer à humanidade em oposição a fundamentalismos, do religioso ao financista

Não conheço pessoalmente o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, mas creio ser um homem bom, é servidor do povo brasileiro, físico de extrema importância para a academia, cientista renomado em todo o mundo. Pelo que li no seu artigo “Desvendando Marina”, publicado nesta Folha no domingo (31), penso que ele também sofre de “desordem do desenvolvimento neural” e, acrescento, espiritual.

O professor Rogério Cezar revelou uma face reducionista, preconceituosa e ignorante a respeito de Marina Silva, mas não creio que ele seja um homem de má-fé.

Marina acredita que o ser humano é uma criação de Deus; o professor Rogério Cezar e outros, idênticos a ele, acreditam que os seres vivos vieram de uma ameba, de uma gosma, da seleção natural, do próprio umbigo, da convicção que têm da própria humildade ou presunção. E daí?!

O professor ataca Marina Silva com o cutelo de um inquisidor medieval. Ele escreveu: “Percebo no fundamentalista cristão uma arrogância incomensurável, que apenas pode ser entendida como uma perversão intelectual, que não pode deixar de impor tendências cujos limites são imprevisíveis”. E conclui o artigo destilando um cientificismo tosco: “O fundamentalismo de Marina Silva não decorre da ignorância, mas de um defeito de percepção. Os especialistas chamam essa condição de desordem do desenvolvimento neural”. Por essa razão, torcem contra. Ora, prezado mestre da ciência, há tantas razões mais honestas para se torcer contra ou a favor de algo ou de alguém.

Nesse capítulo, Marina Silva é a melhor contribuição que o Brasil pode oferecer à humanidade em oposição a todo tipo de fundamentalismo, do religioso ao financista, até ao vaidoso fundamentalismo cientificista, que destrói milhares de famílias deste país todos os dias, na bala e na fome.

Marina é o singular mais plural que o Brasil pode oferecer ao mundo. Sobrevivente da violência e das doenças no meio do seringal, alfabetizada aos 16 anos, professora, ex-ministra do Meio Ambiente, ela é a autoridade mais respeitada pela comunidade internacional que luta pelo desenvolvimento com autossustentabilidade. Ao lado de outras personalidades mundiais, como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, conduziu a bandeira olímpica na abertura da Olimpíada de Londres, em 2012. Parece até que era um sinal.

Convivi com Marina nesses últimos 11 meses da vida de Eduardo Campos. Fui responsável, ao lado de um grupo de amigos, pela comunicação política de ambos rumo à Presidência da República. Marina não é fundamentalista, professor, ela é respeitosa e ecumênica.

Marina Silva não é arrogante, tem autoridade, escuta, escolhe, decide. Era assim Eduardo, é assim Marina. Nem sempre acerta, mas ela me apresentou sempre a capacidade de rever, de reconhecer e de mudar, como espero que mude sua opinião, professor.

Para não concluir sem reconhecer méritos no artigo do mestre Rogério Cezar, adorei o romantismo barroco, quando diz que reconhecemos em Marina um “caudal aurífero eleitoral”.

Como postou no Facebook recentemente o grande poeta Caetano Veloso, “o que está à nossa frente é a nossa respeitabilidade como nação. Recusar isso seria estar cego para toda luz”. É verdade.

EDSON BARBOSA, 57, jornalista, é um dos integrantes da coordenação de comunicação da campanha da candidata à Presidência da República pelo PSB, Marina Silva