“Que dilúvio! Que enchente!
Meu senhor e mestre, ouçais meu chamado!
Ah, aí vem meu mestre!
Como preciso de vós!
Dos espíritos que convoquei,
Senhor, LIVRAI-ME!”
                  J.W. Goethe, O aprendiz de feiticeiro*

A oposição na Ucrânia e seus patrocinadores-pagantes nos EUA e na União Europeia convocaram os espíritos da direita, dos fascistas, para montar um golpe contra presidente eleito e para impor os objetivos daqueles patrocinadores pagantes à opinião pública ucraniana.

Agora… aqueles espíritos recusam-se a sair de cena:[1]

Era difícil saber o quanto dos gritos de fúria que se ouviam na 6ª-feira à noite na Praça Independência era pura fúria e prepotência, ou eram gritos finais de ira antes do esvaziamento de três meses de protesto, ou, ainda, se eram o anúncio de ainda mais violência, possivelmente pior, que há pela frente.

Vividamente clara, contudo, era a enorme distância que se abriu entre as lideranças políticas do movimento e um movimento de rua que foi radicalizado e escapou ao tênue controle pelos políticos.

Dmytro Yarosh, líder do Setor Direita, uma coalizão de grupos nacionalistas de linha duríssima, reagiu contra as notícias de um acordo – com o que arrancou urros de aprovação da multidão.

“O acordo que assinaram não corresponde às nossas aspirações”, disse ele. “O Setor Direita não deporá armas. O Setor Direita não levantará o bloqueio à frente de um único prédio público, até que nossa principal demanda seja cumprida – a renúncia de Yanukovych.”

Mas mesmo que Yanukovych renuncie, as demandas dos ‘manifestantes’ fascistas não terminarão. Hoje, o rabino chefe da Ucrânia instruiu os judeus a deixar a cidade de Kiev – e teve boas razões para fazê-lo.[2] O Setor Direita e o Partido Svoboda são conhecidos por furioso antissemitismo.

Ontem, 67 membros do partido governante das regiões mudaram-se para a oposição – que agora tem maioria no Parlamento. O Parlamento então alterou a Constituição para retirar poderes da presidência, demitiu o ministro do Interior que ordenou que a Polícia protegesse os prédios do Estado e libertou a corrupta “princesa do gás” da Ucrânia, [Yulia] Tymoshenko,[3] que estava na cadeia.

Putin deve estar rindo.

O que os propagandistas no ‘ocidente’ jamais dizem é que Tymoshenko foi condenada à prisão por causa de um negócio de gás pelo qual teria favorecido a Rússia. Foi condenada e presa por ter aceitado pagar aos russos preços super aumentados. Yanukovych – que Putin odeia e despreza como ‘perdedor’ –, está fora do governo. Tymoshenko, a mulher que Putin sempre gostou de ter como parceira em lucrativos negócios de gás, está de volta.

Dado que a indústria ucraniana não é viável sem acesso aos mercados russos e que a Ucrânia depende completamente da energia que a Rússia lhe fornece, sempre forneceu e continuará a fornecer, a Rússia, agora, está em posição muito confortável na Ucrânia. Pelo menos metade da população ucraniana é pró-Rússia. Nenhuma ‘revolução colorida’ versão 1.0, 2.0 ou 3.0 e nenhuma empréstimo do FMI em troca de ‘austeridade’ conseguirá alterar esses fatos.

Partes da Ucrânia rapidamente darão sinais de anarquia, com os tais ‘manifestantes’, e vândalos, que protestaram sem qualquer objetivo claro, fazendo uma rápida transição para atividades criminosas. A ‘oposição’ agora no poder terá de apresentar resultados e, pressionada, rapidamente se partirá em mil pedaços. As forças fascistas, que a imprensa-empresa ‘ocidental’ insiste em chamar de “nacionalistas”, concentrarão mais poder.

Os aprendizes de feiticeiro nos EUA e na União Europeia acabarão por compreender que são incapazes de controlar os espíritos que convocaram. E terão de chamar o mestre, para devolver às respectivas tocas os espíritos que Washingoton e Bruxelas convocaram. O número de Discagem Direta Internacional que terão de chamar começa com 007 495.[4] ****

* GOETHE, J. W. O aprendiz de feiticeiro, São Paulo: Cossac y Naif (ed. bilíngue port./al.). Trad. Mônica Rodrigues da Costa, Col. Dedinho de prosa, 2006 (em http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10183/O-aprendiz-de-feiticeiro.aspx ). [NTs]

[1] http://www.nytimes.com/2014/02/23/world/europe/ukraine.html?ref=world&_r=1

[2] http://www.haaretz.com/jewish-world/jewish-world-news/1.575732

[3] Sobre ela, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Yulia_Tymoshenko (ing.)

[4] DDI de Moscou (http://dialcode.org/Europe/Russia/)

Publicado em 22/2/2014, Moon of Alabama – http://www.moonofalabama.org/

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu