A expectativa de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos está mudando o ­fluxo de capitais internacionais. O Brasil tem um déficit em conta corrente enorme (que deve bater neste ano em 70 bilhões de dólares), de forma que começou a se preparar para um novo cenário de redução no ingresso de dólares. Acontece no mercado brasileiro e nos demais países emergentes. O­ ­ministro Guido Mantega tirou o IOF das operações com derivativos porque o tributo era um impedimento à ­entrada de dólares.

A retirada do imposto poderá contribuir para amenizar a alta da taxa do dólar, mas não vai alterar de forma importante as cotações.  Nem era o objetivo principal da medida. Ela afasta o atrito colocado na engrenagem de modo a permitir que rode um pouco mais livremente. O IOF era um impedimento a mais que agora foi retirado.

O aumento da volatilidade nas transações com as taxas do dólar, nas últimas semanas, foi turbinado por um comunicado do presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Ben Bernanke, entendido pelos mercados financeiros como um sinal da iminência do anúncio da redução dos estímulos ao crescimento da economia norte-americana.

Um programa sustentado pela compra do equivalente a 85 bilhões de dólares em títulos públicos e papéis de hipotecas, mês a mês, desde setembro de 2012. A expectativa de que a redução das compras poderia ser anunciada na reunião de junho produziu intensa especulação com a moeda dos EUA e a alta na taxa de juros norte-americana. Ao cabo, o Comitê de Mercado Aberto do Fed, após se reunir na quarta-feira 19, concluiu: o desemprego ainda está alto demais e por esse motivo as compras serão mantidas, até que melhore ­significativamente a perspectiva do mercado de trabalho.

A taxa de desemprego nos Estados Unidos continua a rodar em 7,6% e espera-se que caia um pouco mais (para 7%) no fim do ano, quando então se admite que poderá ter início o declínio gradual no volume das compras de títulos, ao longo de 2014. A posição anterior de Bernanke é de que se deveria esperar um nível de desemprego de 6,5%, mas agora o presidente do Fed admite que a redução do programa de compras poderá começar “no fim do ano”, quando a taxa beirar os 7%.

É difícil antecipar em que medida os mercados vão reagir e como os agentes se comportarão. O fato é que os EUA ­estão em um novo processo de ­desenvolvimento e a continuidade do crescimento da economia depende ­basicamente das expectativas. Em todo o mundo, os sistemas financeiros operam com a perspectiva das mudanças da política americana.

No penúltimo encontro com os membros do Conselho de Governadores e representantes dos bancos centrais regionais, o presidente do Federal Reserve dera um sinal ao mercado com aproximadamente o seguinte significado: “Prestem atenção, porque vovó está se preparando para subir no telhado…” O entendimento dos mercados foi de que a “vovozinha” subiria mesmo no telhado e logo: era o fim do programa de incentivos, o que elevou a taxa de juros nos Estados Unidos.

O movimento de capitais, portanto, está mudando de direção, e o Brasil tem de estar preparado para enfrentar a nova situação. Aqui, quando o ministro da Fazenda retirou o IOF dos derivativos, muitas pessoas entenderam a medida como um instrumento destinado a conter a alta do dólar. E não se deram conta de que não era apenas isso. A grande maioria das críticas às decisões do ministro Guido Mantega tem sido absolutamente injustificada. Diz-se: “Ele não sabe o que quer”, porque introduziu a cobrança do IOF recentemente “e ­agora retira o imposto”.

Há uma grande incompreensão, pois a política econômica precisa estar sempre pronta a reagir se o mundo mudar. Precisa estar antenada à realidade. Então, engana-se quem acusa o ministro de ter errado duas vezes: quando colocou o imposto e também quando o retirou. É algo impossível: ao menos uma vez ele deveria ter acertado.

Das duas, uma: se ele errou quando retirou, então acertou quando colocou. São, obviamente, críticas emocionais de pessoas que não querem admitir que a medida é correta

Publicado em Carta Capital