Na segunda-feira, o jornal New York Times revelou que a CIA havia enviado dezenas de milhões de dólares para o presidente afegão, Hamid Karzai. Os pagamentos em dinheiro – entregues todo mês em seu escritório – chegavam em maletas, mochilas e sacos de plástico, e tinham por objetivo comprar a lealdade do líder caprichoso. Mas, segundo o jornal, o caso contribuiu mais para alimentar a corrupção no Afeganistão do que qualquer outra coisa – aquela mesma corrupção contra a qual o governo americano vem fazendo uma cruzada.

Nada disso deveria surpreender. A CIA tem uma longa história de despejar dinheiro em chefes de Estado amigos, muitas vezes com resultados que guardam uma estranha semelhança com os esforços da agência em Cabul. A CIA teve um primeiro gosto do que alguns sujeitos com maletas poderiam conseguir em 1948 quando comunistas ameaçavam ganhar eleições na Itália, e ela montou um programa de transferência de grande somas de dinheiro para seu partido político preferido, o democrata-cristão. E funcionou. Os democrata-cristãos superaram os comunistas e venceram a eleição. Mas este primeiro sucesso se revelaria posteriormente enganoso. Quando, em 1970, a agência tentou repetir sua campanha na Itália, ela jogou um papel involuntário ao financiar um fracassado golpe neofascista e o terrorismo de direita.

É um padrão – sucesso ofuscante seguido de uma derrota esmagadora – que se tornou bastante familiar na história da agência. Quando, em 1953, a CIA teve êxito na derrubada de Mohammad Mossadegh no Irã, isso foi visto como o melhor momento da agência. Numa única cajadada, ela havia tolhido a influência soviética no Oriente Médio e se assegurado de uma parte vital dos suprimentos globais de petróleo.

Isso deu à agência a impressão de que seus agentes podiam derrubar governos quando lhes desse vontade – não muito diferente de como a CIA derrubou o Taleban no Afeganistão – e que dólares americanos manteriam a salvo os interesses americanos. Uma vez concluído o golpe com sucesso, Kim Roosevelt, o agente da CIA que o arquitetou entregou US$ 1 milhão em dinheiro a Fazlollah Zahedi, que assumiu o cargo de premiê de Mossadegh. Com o dinheiro na mão, Zahedi prontamente tratou de se entender com a oposição. E todos sabemos o que veio em seguida, em 1979.

Como em Teerã, a CIA descobriu em Saigon que derrubar um governo era bem mais fácil do que juntar os pedaços em seguida. Depois que um golpe apoiado pela CIA derrubou Ngo Dinh Diem em 1963, seguiu-se uma situação caótica, com golpe após golpe no meio da confusão. Nguyen Van Thieu consolidou finalmente o poder, e a CIA foi rápida em se colocar por trás dele, entregando US$ 725 mil ao líder sul-vietnamita entre 1968 e 1969. Foi mais um investimento perdido da agência.

Quando a CIA teve dificuldade de fomentar golpes, ela se serviu de uma ferramenta muito mais precisa – o assassinato.

Patrice Lumumba, por exemplo, representava um problema para o governo Eisenhower, que temia que o líder congolês pudesse criar uma Cuba na África. Embora os soviéticos duvidassem das credenciais comunistas de Lumumba, Eisenhower ordenou a morte do líder congolês, uma missão que a CIA apoiou com sucesso em 1966 via um novo e promissor protegido, Mobutu Sese Seko. Com Lumumba fora do caminho, e US$ 250 mil em dinheiro, armas e munições da CIA, Mobutu assumiu o controle do país e iniciou um regime assassino e corrupto que durou três décadas. Mobutu – que foi incluído na folha de pagamento da CIA – mostrou-se um aliado confiável dos Estados Unidos na Guerra Fria, mas também preparou o terreno para o caos e a violência que hoje dominam o Congo.

Talvez algum dia a CIA aprenda com seus erros. 

Elias Groll é jornalista do Foreign Policy.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK para O Estado de S.Paulo