Em meio aos inúmeros tiroteios cometidos por adolescentes em escolas, os norteamericanos estão cautelosos com a gritaria sobre a autoria das bombas da maratona de Boston. Talvez um reflexo sutil das diferenças entre republicanos e democratas. Nos governos Bush, a associação de atentados terroristas com árabes ou algum país rico em petróleo era quase imediata. As autoridades dos Estados Unidos elevaram, nesta terça-feira (16), para 176 o número de feridos nas duas explosões. Do total, 17 estão em estado grave. Pelo menos três pessoas morreram.
A aparente precariedade dos atentados desta segunda (15/4), comparada aos aviões sequestrados atingindo ícones da opulência imperialista, também fazem com que o noticiário evite pintar o quadro de grandes organizações terroristas cercando a América do Norte.  Os atentados parecem ter mais semelhança com aqueles cometidos por fundamentalistas da extrema-direita dos EUA ou os bombardeios anticivilização do intelectual superdotado Ted Kaczynski, o Unabomber. Timothy McVeigh, em 19 de abril de 1995 cometeu um dos maiores ataques terroristas da história dos EUA, para se vingar de servidores federais, em Oklahoma City. O resultado foi de 168 mortos e mais de 500 feridos tendo como alvo das bombas o Edifício Federal Alfred P. Murrah.

Seja de terroristas escondidos em cavernas do Afeganistão, ou de intelectuais de Harvard, a explosão visa sempre o american way of life: sua capacidade de acolher estrangeiros, sua capacidade de devastar a natureza para construir ricas metrópoles ou sua capacidade de invadir a soberania de um país para se apropriar de suas riquezas. Embora esse tipo de atentado seja relativamente frequente no mundo, a atenção excepcional dada pela mídia aos EUA se deve, principalmente, ao caráter paranoico, belicista e vingativo daquela nação. O mundo fica apreensivo diante de qualquer ataque ao gigante norteamericano, pois as consequências costumam atingir a todos que mantêm relações com aquele país, em alguma medida, e muda o destino de países que recusam relações diplomáticas com os EUA, como Iraque ou Afeganistão, Síria ou Irã, Palestina ou Líbia, Cuba ou Coreia do Norte.
As explosões de baixo alcance atingem uma das cidades mais importantes dos EUA, próxima a Nova York, em meio à crise de guerra verbal entre Coreia do Norte, Coreia do Sul e Estados Unidos. No dia em que se esperavam disparos de mísseis na Península Coreana, a tranquilidade tensa se manteve entre os dois países asiáticos, enquanto um evento esportivo em dia calmo de feriado foi abalado por bombardeios coordenados e misteriosos na costa leste dos EUA. As explosões podem não ter qualquer vinculação ideológica, talvez uma motivação individual qualquer ou mesmo um acidente. Difícil de aceitar. Afinal, no país da CIA e do FBI, dado a delicadeza com que o assunto é tratado, mesmo que não haja um motivo ideológico, ele pode ser inventado.
No país mais armado e habituado a movimentar sua indústria armamentista para reagir a qualquer ameaça externa, todos podem ser o inimigo. A vingança faz parte da cultura cidadã dos americanos, que se expressa na forma de crianças revoltadas com o assédio moral, que metralham os coleguinhas e professores; nos extremistas de direita contrários à miscigenação ou imigração que expressam sua “opinião” explodindo hospitais; ou na forma das plateias dispostas a assistir a execução de um criminoso condenado; no apoio à tortura de suspeitos de ameaçar a Segurança Nacional; ou na forma das inúmeras ocupações militares que promove mundo afora para garantir o controle sobre governos que os contrariem.
“Cada vez que são usadas bombas contra civis inocentes, trata-se de um ato de terrorismo”, afirmou o presidente Obama. Embora já tenham testemunhado inúmeros ataques terroristas com bombas, nunca foram considerados ataques sistemáticos ou frequentes, como aqueles que ocorrem em Israel, a partir da resistência palestina. No entanto, criar o terror e pânico numa população paranoica como os ricos, modernos e seguros moradores da costa leste, é algo que acende um sinal de alerta. Melhor saber que o inimigo é externo e pode ser combatido à distância com drones, do que não encontrar pistas do autor e suspeitar de ameaça doméstica. O terror pode ter origem em gente branca, bem nascida e sem sotaque, com bandeira hasteada no quintal da bela casa de subúrbio.