Um tema recorrente no debate público é o baixo crescimento da produtividade brasileira, questão fundamental para o desenvolvimento do país. Entre 2003 e 2010, o Brasil cresceu com redução de desigualdades. A base do mercado de trabalho brasileiro tem crescido desde o começo da década a taxas indianas. Diferente do passado, a nossa dificuldade maior tem sido o desenvolvimento do segmento moderno da economia.

Mesmo em 2012 o mercado de trabalho continuou aquecido, com rendimentos crescentes destoando dos movimentos do PIB e próximo ao pleno emprego. É exatamente pela proximidade do pleno emprego que a sustentação do crescimento brasileiro requer ganhos de produtividade. A partir de uma decomposição do crescimento do PIB per capita entre crescimento da produtividade (medida como PIB em relação ao pessoal ocupado) e da taxa de ocupação, de participação no mercado de trabalho e do estoque de pessoas em idade ativa, verificamos que mais de 50% do crescimento observado entre 2001 e 2009 se deu pelo crescimento da quantidade de trabalho. Em outras palavras, no período recente, crescemos incorporando pessoas ao mercado de trabalho, o que é positivo, mas tem limitações prospectivas.

Crescemos incorporando pessoas ao mercado de trabalho, o que é positivo, mas tem limitações prospectivas

A produtividade da economia cresceu 1,1% ao ano, em média, nos anos 2000. Taxa pouco superior àquela observada nos anos 90, mas insuficiente para sustentar um alto crescimento econômico, especialmente se considerarmos o fim do bônus demográfico face ao envelhecimento da população.

Produtividade é uma variável essencialmente microeconômica. Ampliar a produtividade agregada da economia requer que as empresas se tornem mais competitivas. Para isso é necessário apostar na inovação, na qualificação da mão de obra e na melhoria da infraestrutura. É preciso, portanto, um conjunto de políticas públicas que tenham um horizonte de tempo mais longo do que as políticas macroeconômicas tradicionais.

A inovação tecnológica, representada pela criação de novos produtos e novos processos produtivos é um dos elementos fundamentais para os ganhos de produtividade no nível da firma. Estudos do Ipea mostram que empresas inovadoras apresentam indicadores de produtividade pelo menos 20% maiores que os das não inovadoras. Além disso, empresas inovadoras tendem a ser mais produtivas e mais competitivas no mercado internacional, além de demandarem mão de obra mais qualificada e mais bem remunerada.

As Pesquisas de Inovação Tecnológica do IBGE têm mostrado um paulatino crescimento das taxas de inovação na indústria brasileira, com alguma aceleração entre 2005 e 2008. Essa taxa passou de 31,5% em 2000 para 38,1% em 2008. O mesmo movimento aconteceu com os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em relação ao PIB, que passaram de 0,97% do PIB em 2005 para 1,16% do PIB em 2010. No que diz respeito ao investimento empresarial em P&D, passamos de 0,49% para 0,54% do PIB entre 2005 e 2008. Esse indicador, na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é 1,63% do PIB.

Esse crescimento de 10% no indicador P&D empresarial/PIB, no caso brasileiro, está muito abaixo daquele verificado na China, e nos países desenvolvidos. A Espanha, país que tradicionalmente tem níveis de inovação e de investimentos em P&D similares aos do Brasil, ampliou em 23% o indicador P&D empresarial/PIB. Mesmo os EUA, um dos países que mais investia em P&D, apresentou um crescimento superior ao brasileiro. Se mantivermos essa taxa de crescimento do P&D/PIB, extremamente positiva para nossos padrões históricos, levaríamos mais de 20 anos para alcançar o esforço tecnológico atual da Europa, por exemplo.

O relativamente pequeno avanço recente do país em termos tecnológicos contrasta, entretanto, com um avanço muito mais expressivo na produção científica brasileira. O Brasil vem aumentando de forma significativa sua participação na produção científica mundial, de 1,1% para 2,3% na última década. O país também saltou de menos de 150 publicações por milhão de habitantes no início da década para quase 250 publicações por milhão de habitantes atualmente, algo muito próximo à média mundial. Entretanto, o conhecimento produzido pelas universidades e instituições de pesquisa tem dificuldades em chegar ao setor produtivo brasileiro.

Todos esses indicadores apontam a urgência que o país coloque a inovação e o progresso técnico no centro de sua estratégia de desenvolvimento sustentado. Por isso, é extremamente bem vindo o lançamento de um conjunto amplo e ousado de medidas de estímulo à inovação pelo governo brasileiro. É crucial ampliar o crédito para financiar a atividade inovativa, priorizar gastos e focalizar em segmentos estratégicos, integrar os diferentes instrumentos de apoio à inovação, tais como subvenção, capital de risco e o próprio crédito, além de fomentar a interação entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo brasileiro. Os efeitos de políticas como essas serão sentidos no longo prazo, mas estão no caminho certo. Se essas políticas forem efetivas, certamente o desafio da produtividade não será tão grande no futuro quanto é hoje.

Marcelo Côrtes Neri é presidente do Ipea e professor da EPGE/FGV.