Publicado no Monitor Mercantil

Roma – Abala-se a Europa inteira pelo resultado das eleições aqui, na Itália, e sacode-se o mundo todo, mas Philip Roesler, presidente do Partido dos Democratas Livres e ministro de Economia da Alemanha, permanece totalmente insensível: “Não existe para a Itália opção alternativa nas reformas que já têm sido definidas”, declarou de forma agressiva.

Também absolutamente harmonizado com esta linha de raciocínio mostrou-se Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu – presidente da União Européia (UE) – ao afirmar sem ter sido convidado: “Deverão continuar as reformas e a adequação fiscal (é como os empoados tecnocratas denominam a selvagem frugalidade). Não existe caminho de volta, não existe opção alternativa”.

Também sem ter sido convidado, José Manuel Barroso Durão, presidente da Comissão Européia, órgão executivo da UE, resolveu dar sua opinião e destacou que “a Itália precisa de um governo que tenha a coragem de resistir contra as preocupações de curto prazo e demonstre, também, a capacidade para explicar à opinião pública qual é o exigível e quais serão as consequências se seguirmos uma caminho diferente”.

Em outras palavras, a UE quer um governo italiano que jogue no lixo a expressa vontade dos italianos e continue exercendo a mesma política que os eleitores condenaram nas eleições, “zerando” o imposto pela Alemanha primeiro-ministro Mario Monti e desabando seu partido em quarto lugar com apenas 10% dos votos.

Em seguida surgiu o totalmente desconhecido e recém imposto presidente do Eurogroup, Jeroen Dijsselbloem, determinando que “os acordos deverão ser cumpridos”. E por fim, Olli Rehn, comissário da Comissão Européia para Assuntos Econômicos, proclamou: É óbvio, autocompreensível e importante que a Itália deve continuar as reformas”.
Recado ignorado

Após todas estas inaceitáveis manifestações sob o ponto de vista democrático destas autoridades da UE, somente como ironia poderá ser interpretada a confirmação do porta-voz da Comissão Européia, Olivier Bijaoui: “Recebemos a mensagem das urnas das eleições italianas”.

Em seguida, ele mesmo voltou atrás deste seu argumento com a frase seguinte: “Recebemos a mensagem das urnas das eleições italianas, mas a Itália tem assumido compromissos, os quais deverá cumprir. O programa que adotou a Itália nos últimos 15 meses era em direção do destino correto. Os compromissos são válidos ainda. A Comissão Européia espera da Itália o cumprimento de seus compromissos”.

Em pânico, Durão vociferou: “Espero que não se trata de entrarmos na tentação e endossarmos o populismo por causa dos resultados eleitorais em um país-membro.” Em seguida convocou, essencialmente, os empoados líderes da UE a ignorarem qualquer mensagem política enviada pelos cidadãos de um país-membro da UE e da Zona do Euro – no caso da tão importante Itália, terceira economia da Zona do Euro e quarta da UE, tão importante e tão grande a ponto de ser membro do G8″. Foi realmente apoteose da jactância e da fanfarrice dos empoados burocratas de Bruxelas, se não da inimizade que alimenta a UE contra os povos da Europa.
Alemanha ganha

Dispensável destacar que, a partir do momento quando sequer os empoados líderes políticos e as autoridades da UE e da Comissão Européia não tentaram sequer dissimular seu o ódio e ojeriza que sentem contra os italianos, porque estes recusaram-se e concordar por intermédio do voto com a política da UE que os destrói e aprofunda a miséria, a imprensa, especialmente da Alemanha, imediatamente após a divulgação dos resultados das urnas, partiu para a agressão. Escreveu improváveis tolices políticas. “Eleições do caos” foi o título de reportagem da revista Die Spiegel.

“Eleições cujas consequências poderão ser catastróficas para a Itália e a Europa” foi a manchete do jornal Berliner Zeitung. Já o sério e conceituado jornal da direita alemã Frankfurter Allgemeine Zeitung argumentou que, “quando a lógica dorme, triunfam os populistas”. “O inacreditável resultado das eleições na Itália provoca perplexidade”, sentenciou jornal de linha dura da direita alemã Die Welt.

Que ninguém se engane. Os alemães não são politicamente tolos a ponto de não compreenderem o que aconteceu na Itália, ou o que está acontecendo na Espanha, na Grécia, em Portugal e na Irlanda. Corretamente, contudo, insistem para ser continuada a mesma linha da liquidante frugalidade por tempo indeterminado pelo simples motivo que, com esta política, a Alemanha desfruta de gigantescos benefícios econômicos e políticos.

Aliás, até o presente momento os alemães não sofrem de nenhuma, especificamente, consequência por causa de sua política, com exceção, talvez, do ódio anti-alemão rapidamente disseminado em toda a Europa. Se, em algum momento, avaliarem que assim não dá mais, simplesmente mudarão de política. É assim que os alemães vêem o imbróglio do Velho Continente.

Sucursal da União Européia.