A opinião do Velho Graça entronizou-se como uma amostra da relação de amor e ódio que intelectuais brasileiros mantiveram com o futebol.

No campo do ódio, nenhum foi tão longe quanto Lima Barreto (1881-1922), que combateu a “coisa inglesa”, mas com um pano de fundo: os negros como ele eram discriminados nos clubes pela “aristocracia que se baseia na habilidade dos pés”.

A opinião de Graciliano também não deve ser lida ao pé da letra: era um veículo para a ironia de defender a rasteira como esporte nacional…

Em contrapartida, o maranhense Coelho Neto (1864-1934), pai do craque Preguinho, foi um dos maiores incentivadores do esporte na década de 1920.

Artistas da pena celebraram artistas da bola. João Cabral de Melo Neto (1920-199), pernambucano que jogou no América do Recife, louvou o “ritmo líquido” do palmeirense Ademir da Guia, enquanto o fluminense Vinicius de Morais (1913-1980) exaltou o “pé-de-vento” Garrincha, “mais rápido que o pensamento”.

Nesse jogo literário, o artilheiro foi o paraibano José Lins do Rego (1901-1957), torcedor de arquibancada e cartola, um dos raros grandes escritores a buscar no futebol material literário, com crônicas reunidas no livro Flamengo É Puro Amor.

Afinal, como observou o historiador inglês Eric Hobsbawm, falecido no mês passado, o futebol brasileiro reúne, tanto quanto a literatura, “a condição de arte.”

Fonte: Diário de S.Paulo