Para Rodrigo de Carvalho, escrever o livro cumpre com o desafio de apresentar aos leitores, de forma crítica, um elemento histórico como o impeachment de um presidente da República. Além disso, o autor destaca que procurou compreender o fato a partir da atuação dos movimentos sociais, destacadamente do papel dos estudantes. Mas não deixou de considerar a fragmentação das classes dominantes que até então apoiavam aquele governo.

O sociólogo explica que a escolha de falar sobre o impeachment se deve por verificar que o tema ainda não havia sido explorado por completo. “Escolhi o impeachment por achar que o meio acadêmico, a intelectualidade, carecia de uma abordagem mais ampla do que representou o processo. Além disso, falamos do primeiro impeachment de um presidente da República em nosso país”, externou.

Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois, explica que o tema marca o período recente da história do nosso país. Segundo ele, Rodrigo de Carvalho enfrenta esse tema afirmando que a luta pelo impeachment foi uma prova de fogo para a nascente democracia brasileira e ajudou a impulsioná-la.


Fábio Palácio, Rodrigo de Carvalho e Adalberto Monteiro

“A partir de uma linguagem despojada e de forma multilateral, ele examina esse tema com maestria. E, embora ele use um tom vigoroso e declaradamente defenda um ponto de vista, o leitor verá que o livro é marcado pela abrangência. Ou seja, se, por um lado, ele dá voz aos vencedores, por outro, ele dá voz aos vencidos”.

Adalberto ainda frisa que ”o livro reúne um amplo levantamento histórico, com entrevistas importantes, inclusive com o presidente Collor, além de fazer um debate sobre as questões relativas ao modelo político que vivíamos naquela época. Desse modo, Rodrigo de Carvalho nos oferece uma grande contribuição, ao reunir em pouco mais de 300 páginas esse momento histórico que foi e é tão importante para a história política do Brasil”, enfatizou.

Renato Rabelo, presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), lembra que o Fora Collor foi um momento emblemático para a luta democrática e popular do país. Segundo ele, Rodrigo de Carvalho não resgata apenas um importante momento da história, ele resgata a luta de toda uma nação, que naquele momento assumiu, mais uma vez, as rédeas da história.

Renato Rabelo e Rodrigo de Carvalho

“Ele coloca na devida medida o papel do movimento estudantil, dos movimentos sociais – em particular da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) -, como núcleo propulsor. A obra nos brinda com um conjunto de reflexões que nos fazem entender melhor o que aconteceu. Pois, naquele momento, lutava-se contra um modelo selvagem, lutava-se pela defesa dos interesses nacionais e populares”, afirma o presidente do PCdoB.

Isolamento Político

Com emoção, Nivaldo Santana, vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), lembrou o grande protagonismo da juventude no movimento que ficou conhecido como Caras Pintadas. O movimento foi liderado pela UNE e pela UBES, que organizaram grandes mobilizações de massa, com ampla participação dos trabalhadores e do movimento sindical.

“Acredito que o episódio que culminou com o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo foi uma demonstração inequívoca do grande isolamento político que ele empreendeu. Um exemplo concreto dessa afirmação foi a postura que Collor assumiu ao mandar agentes da Polícia Federal invadirem o diário Folha de São Paulo para vasculhar sua contabilidade após um virulento editorial”, rememorou.

Segundo o dirigente, “Collor não tinha apoio nem das forças populares e democráticas, que notadamente se opunham à agenda neoliberal de seu governo, nem dos setores significativos das classes dominantes. Essa soma e esse isolamento é que explica a grande mobilização e a derrocada do seu governo”.

Juventude aguerrida

Em entrevista, André Bezerra, membro do Comitê Central do PCdoB, relembrou a força que o movimento estudantil empreendeu naquela época. Segundo ele, a UNE através de uma bandeira que vinha sendo costurada no país inteiro de respeito à gestão pública, conseguiu levar adiante essa pauta e alinhá-la à luta de que era preciso modificar a política do governo, juntando tudo isso em grandes movimentos pela saída do presidente Collor através do impeachment.

Para Bezerra, que naquela época compunha a Executiva Nacional da UNE, “vivia-se uma onda de sentimento nacional que colocava a juventude em um patamar de destaque. Desse modo, o movimento estudantil, notadamente a UNE e a UBES, foi o estopim que detonou o processo de saída de Collor. Esse movimento foi, de certa maneira, um renascer do movimento estudantil. Os estudantes vão às ruas, aos milhares, todos juntos pelo Fora Collor”.

Ele frisou que “a importância desse momento para o país é da contribuição que os estudantes dão naquele momento, contestando o projeto neoliberal que começava a ter força no país. Ou seja, a partir de um movimento concatenado, milhões de estudantes de todo o Brasil rechaçaram essa política”.

Ismael Cardoso, que é secretário de comunicação da União da Juventude Socialista (UJS), parabeniza a iniciativa de se publicar um livro com esse viés crítico e destaca que o impeachment do Collor não é somente o marco nacional, ele se converteu em um marco da história mundial.

“O Fora Collor foi algo que saiu do povo, que com luta e mobilização mostram que uma parcela da sociedade estava atenta ao que se instalava no país naquele período. Aquele momento também foi uma primavera, e resgatá-lo serve como instrumento de conhecimento e baliza nossa luta nos dias de hoje”, externa o Ismael.

Luta contra o neoliberalismo

O jornalista José Carlos Ruy lembra que o Fora Collor foi um grande movimento político de massa, fruto da indignação popular. “Naquele momento, estudantes, sindicatos de diversas categorias, partidos políticos, entre outras organizações, se mobilizaram numa das maiores manifestações públicas da história, que ficou conhecida como Movimento dos Caras Pintadas, uma marca grafada pelos brasileiros que saíram às ruas das principais capitais do país com o rosto pintado nas cores verde e amarelo, gritando a palavra de ordem ‘Fora Collor!’”.

Ruy lembra que a história é uma ciência difícil, principalmente quando trata do tempo presente, mas este desafio foi enfrentado com brilho por Rodrigo de Carvalho ao escrever o livro A era Collor – da eleição ao impeachment, que a Fundação Maurício Grabois e a Editora Anita Garibaldi acabam de lançar.

Segundo ele, “o livro de Rodrigo de Carvalho está à altura do desafio. Ao cobrir um período histórico que inclui a campanha das Diretas Já, o fim da ditadura militar e a eleição presidencial de 1989, na qual Lula foi o fantasma que amedrontou a classe dominante brasileira”.

O jornalista ainda afirma que o autor descreve o painel necessário para a compreensão da encruzilhada histórica que o país vivia e para o entendimento do levante da juventude e dos brasileiros contra Collor, presidente que inaugurou o neoliberalismo no Brasil. Trata-se de uma obra fundamental para o conhecimento da história recente do Brasil.