No final dos anos 60, Honestino era uma das lideranças mais perseguidas pela ditadura militar (1964-1985). Volta e meia, era preso e torturado. Quando optou pela clandestinidade, teve a residência, em Goiânia, invadida inúmeras vezes por agentes da repressão. O irmão, Norton, foi detido numa dessas invasões. Quando voltou para casa, descobriu que o pai, Benedito, tinha morrido ao volante do automóvel, depois de passar várias noites em claro, à procura de notícias dos filhos.

Cinco anos depois, foi o próprio Honestino que desapareceu para sempre. Já na presidência da UNE, ele foi preso em 10 de outubro de 1973 pelo antigo – e odioso – Cenimar (Centro de Informações da Marinha).  Ao saber da prisão, a mãe, Dona Maria Monteiro, iniciou uma busca em vários órgãos de segurança, sem encontrar o filho. Em dezembro, teve a garantia de que poderia visitar Honestino, durante o Natal, no temido PIC (Pelotão de Investigações Criminais do Exército) de Brasília. Mas, chegando ao local, foi informada de que o filho não estava lá.

A família teve de esperar 23 anos até que o governo reconhecesse que Honestino era, de fato, uma dos mortos da ditadura – seu assassinato só foi admitido, oficialmente, em 12 de março de 1996. Desde então, a família Monteiro Guimarães abraçou ainda mais a missão de preservar a memória e o legado de Honestino – recusando-se, por sinal, a tratar o caso como mais um “desaparecimento”.

“O termo ‘desaparecido político’ é bonitinho, mas têm quatro crimes por trás dele”, disse o irmão Norton, nos anos 2000, em depoimento ao projeto Memória do Movimento Estudantil. Segundo ele, Honestino e outros “desaparecidos” da ditadura foram, na realidade, vítimas de sequestro, tortura, assassinato e ocultação de cadáver. “São quatro crimes, sendo três hediondos, subentendidos debaixo do termo ‘desaparecido político’.”

Em 2007, no 50º Congresso da UNE, em Brasília, Honestino recebeu uma memorável homenagem póstuma. Na plenária final do encontro, a gestão presidida por Gustavo Petta promoveu o lançamento de um documentário sobre seu ex-presidente. À mesa da solenidade, diante de 8 mil estudantes, estavam Norton e Dona Maria, ambos emocionados. “Na época de meu filho, os militantes se encontravam na clandestinidade – tinham de criar estratégias para se esconder da polícia”, declarou Dona Maria, mãe de Honestino e guerreira nata. “Ver esses jovens aqui hoje representa para mim a vitória dos estudantes, que também é a minha e de meu filho.”

Norton Guimarães faleceu em 2008, aos 57 anos, vítima de um acidente de moto. Na época, exercia o cargo de servidor da servidor do Senado e continuava a luta em defesa da preservação da história de Honestino. O corpo do ex-presidente da UNE nunca apareceu – mas a batalha de sua família foi decisiva para a conquista de avanços no direito à memória e à recuperação da verdade histórica. Um marco dessa luta foi a instalação da Comissão Nacional da Verdade, em maio de 2012, pelo governo Dilma.

Ao morrer, na madrugada de hoje (20/9), aos 84 anos, Dona Maria estava às voltas com um Brasil ainda problemático – só que, indubitavelmente, mais democrático, livre e soberano. Os estudantes já não estão em situação de resistência armada – mas, sim, ao lado de governos progressistas, como coautores deste novo Brasil. Quase 40 anos depois da morte de Honestino, o movimento estudantil continua do lado certo – e a luta dos Monteiro Guimarães e dos estudantes e brasileiros é mais vitoriosa do que nunca.