O famoso Copom reúne-se por dois dias a cada 45, para decidir sobre o nível da taxa básica de juro nominal, a Selic. Ela deve influenciar a taxa de juro real de longo prazo que -com algumas hipóteses heroicas- determina o nível da demanda privada: consumo e investimento e, numa larga medida, as “exportações líquidas” por seu efeito sobre a taxa de câmbio.
As outras componentes da demanda global -o consumo e o investimento governamentais financiados pela receita de impostos e pelo acréscimo do endividamento público- são largamente discricionárias e, portanto, menos sensíveis

à Selic. Isso sugere que, sem uma coordenação adequada entre as políticas monetária e fiscal, os seus efeitos são mais problemáticos.

Como deveria ser evidente, todo o trabalho do Banco Central por intermédio do Copom é tentar ensinar os “mercados” a pensarem como ele. É isso que lhe confere a “credibilidade” para induzir as “expectativas inflacionárias” -estas, sim, o mais importante fator na taxa de inflação efetiva.

No caso brasileiro, essa é uma tarefa ingrata: temos quase uma dezena de índices de inflação (não creio que exista nada igual no Universo), divulgados diariamente pelos jornais e martelados no rádio e na televisão pelo menos quatro vezes por dia, frequentemente com comentários de “especialistas”, que produzem mais ruído do que esclarecimento.

Eles contribuem para criar uma espécie de esquizofrenia no leitor ou ouvinte incauto: de manhã, o índice semanal cresceu, mas, em compensação, o feijão caiu! À tarde, o índice quinzenal diminuiu, mas, atenção, a carne subiu!

Um passo à frente na transparência seria divulgar não apenas o voto de cada membro do Copom, mas um resumo de meia dúzia de linhas sobre as razões do voto. Este não depende apenas da visão de cada um sobre o estado geral da economia interna e externa, mas, principalmente, da sua ideia sobre a diferença entre o nível corrente do PIB e o que ele supõe que seja o PIB “potencial”, uma variável fugidia, cujos erros de estimativa podem ter custos sociais muito importantes.

Queiramos ou não, gostemos ou não, são suas decisões que determinam nosso emprego, nossa remuneração e o bem-estar de nossa família. É imperioso, portanto, saber se a importância que lhes damos também lhes dá maior sabedoria.

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Fonte: Folha de S. Paulo