A diferença é que os Brics são só uma ideia mercadologicamente bem-sucedida. Não envolve compromissos: cada um de seus componentes mantém suas próprias políticas fiscal, monetária e cambial, cuja eficácia depende da situação global em que estão inseridos. Para entender isso, basta considerar um país com deficit fiscal elevado acompanhado de deficit em conta-corrente insustentável, o que significa que ele precisa eliminá-los ou minorá-los, ou seja, deve reduzir a demanda do governo.
Pode fazê-lo de duas formas (ou com uma combinação das duas): corte de despesas e/ou aumento seletivo da tributação. Precisa, ao mesmo tempo, atingir dois objetivos: 1) reduzir seu excesso de demanda e 2) alterar a estrutura produtiva aumentando as exportações e diminuindo as importações.

Um experimento “intelectual” tem suportado a lenda de que um programa fiscal virtuoso -a contração fiscal expansionista- pode modificar todas as expectativas dos agentes e, quase imediatamente, produzir um significativo aumento dos investimentos financiados externamente e destinados à exportação, resolvendo os dois problemas.

Infelizmente, os ajustes reais são muito mais lentos e dolorosos, principalmente se o país estiver num regime de câmbio fixo irretratável e a maioria dos países para os quais exporta estiver nas mesmas condições, como é o caso da “Eurolândia”. A solução que eventualmente poderia ser razoável para cada país transforma-se num desastre coletivo, quando utilizada por todos ao mesmo tempo.

Desde 2008, era evidente, por motivos econômicos e políticos, que só a “virtude fiscal” não poderia ser a solução para o reequilíbrio da “Eurolândia”, como insistia a Alemanha. O ajuste interno sem a possibilidade de desvalorização cambial equivale a uma amputação sem anestesia que, cedo ou tarde, derrubará todos os poderes incumbentes com ele envolvidos.

É exatamente o que está ocorrendo em cada país submetido às eleições -e, provavelmente, acontecerá na própria Alemanha, que há menos de um mês continuava a opor-se à ação mais desembaraçada do Banco Central Europeu.

Com a ameaça do “populismo” -que, obviamente, não vai resolver nenhum problema e pode, na verdade, criar alguns politicamente insolúveis-, parece que caiu a ficha: a própria chanceler Angela Merkel anunciou, na última semana de abril, que a União Europeia precisa de um programa “para estimular o desenvolvimento econômico”.

Há qualquer coisa de novo sob o sol?

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Fonte: Folha de S. Paulo