Há pouco estive na Grécia, numa Atenas espectral: negócios escusos, manifestações em toda a parte, escolas sem livros, hospitais sem seringas. Um país paralisado. A Grécia podia ter sido salva no início da crise com apenas 30 bilhões de euros. Ao invés disso, a Troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI) exigiu colossais planos de austeridade que fizeram o PIB grego cair 12%.

E fizeram a dívida saltar a 165% (no início era 120%). Uma cura que acabou por matar o paciente.

Quantos bilhões de euros foram presenteados aos bancos nestes anos? Por que, em vez disso, para salvar os Estados o dinheiro vem emprestado (dívida que se acrescenta à dívida) e os empréstimos são condicionados a manobras de lágrimas e sangue? Qual é a lógica louca que se esconde por trás de tudo isso?

É a loucura do neoliberalismo falido.

Uma loucura inútil e danosa. O que acontecerá de fato, quando outros títulos gregos decaírem? Recomeçará o filme: concedem empréstimos, a Europa exige mais austeridade; a economia cai, mas as dívidas são honradas por meio do massacre social. Uma espiral que encontrará seu fim somente com a queda definitiva da Grécia e com esta de toda a Europa. Porque se a Europa não está em condições de salvar a Grécia, como poderá na necessidade salvar a Itália que tem uma dívida cinco vezes maior?

Há uma coisa, porém, que salta aos olhos e torna a tragédia grega plasticamente real. A Grécia é o quinto importador mundial de armas. É o país europeu com a mais alta despesa militar: cada ano mais de 3% do PIB se destinam à defesa. Ou melhor, para comprar os refugos militares da França e da Alemanha. O Wall Street Journal revelou há algum tempo que Merkel e Sarkozy tinham imposto a aquisição de submarinos, navios, helicópteros e tanques de guerra como condição para desbloquear o plano de ajuda à Grécia.

Cortam os salários e as pensões. Os trabalhadores são demitidos e o país é massacrado. As despesas militares, contudo, não são tocadas jamais. Exatamente como na Itália com os F35.

Resta uma esperança. A Grécia irá às urnas em poucos meses. As pesquisas mostram a queda dos socialistas (abaixo de 10%) e a ascensão vertiginosa dos partidos de esquerda, em conjunto acima dos 40%. Parece que o povo grego compreendeu.

* Oliviero Diliberto é secretário nacional do Partido dos Comunistas Italianos (PdCI)

Fonte: Blog Il Fatto Quotidiano