No caso de Dynéas Aguiar, que completa 80 anos dia 30 de janeiro, isso é muito concreto, o que pede registros singulares de cada um de nós. Sessenta deles foram dedicados ao trabalho do Partido Comunista do Brasil.

Há dez dias, recuperado de sua afecção crônica, ele ligou imperativo e animado: “precisamos marcar reunião para retomar o trabalho interrompido”. Mas o principal da ligação era outra coisa: “Vocês me deram uma ajuda de custo para os medicamentos. É hora de cessá-la, porque já os consigo no sistema público. Esse recurso serve melhor ao partido”.

É uma lição da abnegação de Dynéas: o partido em primeiro lugar.

Há um outro registro, que me é muito caro e pessoal. Dynéas morou comigo em tempo de mais uma reorganização do partido, após a Chacina da Lapa e um pouco antes da legalização do partido. Convivi com um homem simples, culto, disciplinado ao extremo, solidário, humano – quando da morte súbita da pequena netinha, a sua dor sincera nos contagiou.

Quantas lições de integridade de vida!

Mais um. Num tempo determinado, Dynéas julgou melhor afastar-se do trabalho de direção. Propôs adotar militância de base, em Campos do Jordão, São Paulo. Foi uma dura prova para ele, nas condições daquele tempo, ou da compreensão que tínhamos – era ainda tempo de alguns dogmas e restrições férreas. A vida mostrou que ele mantinha a mesma consciência e eu sustentei que ele faria novo percurso em outra situação, mantendo os mesmos compromissos com o partido. Foi uma celeuma! Não havia a compreensão na época que temos hoje sobre a política de quadros: liberdade de pensamento, não imposição de opções. Errei no episódio: apesar de defender tal opinião não logrei mantê-la integralmente no momento; faltou-me discernimento e até mesmo maturidade de enfrentar algo que nos desafiava como renovação de concepções e práticas.

Eis aí uma lição indireta propiciada para nossa política de quadros. Atuamos com homens livres, comprometidos por consciência; não adianta impor nada, em determinadas condições, nem fazer juízos sumários ou doutrinários sobre o compromisso dos quadros. Ao contrário, ter uma visão estratégica de seu papel, de seu aproveitamento na luta em diferentes circunstâncias.

Dynéas fez-se líder em Campos do Jordão, secretário municipal de cultura e vice-prefeiro prestigiado e querido. Hoje, no município, queremos vencer as eleições a prefeito.

De onde provém essa força de Dynéas? Como se forjou? Como pode se manter até os 80 anos atuais? Como pode se forjar nos quadros nas condições atuais?

São as muitas perguntas que querem ser respondidas pelo partido, apreendendo lições.

Consciência, em primeiro lugar. Consciência histórica, revolucionária, compromisso integral com ela. No caso de Dynéas, foi essencialmente a de um autodidata. Sempre estudou o marxismo e sempre manteve uma visão estratégica do projeto partidário, o que está na base de seus compromissos e coerência.

Mas a consciência teórica nem sempre se transforma em compromisso ideológico maduro. Dynéas o forjou em condições outras, até extremas, próprias de seu tempo de jovem: o partido em primeiro lugar, até com o preço da vida se necessário. Foram forjados sempre a partir da condição de militância. O ideal do partido como caminho. Isso significa o compromisso estratégico com a corrente comunista.

Mas atuam nesse caminho características pessoais, de integridade, de ética e valores, de disciplina e coletivismo, que cada um traz consigo e aprimora na vida partidária. Isso é notável: tenho certeza de que Dynéas responderá à indagação “de onde provém essa força” de maneira direta: “vem do Partido Comunista do Brasil!”. Isso é exato, mas não é natural; é revelador da concepção de mundo que cada um de nós tem.

Como forjar e manter características desse tipo – consciência, compromisso estratégico, integridade – num tempo em que predomina a pequena política do cotidiano, tempo em que se repõe a cada passo o espontaneísmo e corporativismo que não ascende ao nível de um projeto político nacional, ou então a pesada carga de pragmatismo que assola a política, desmoralizada por força de uma luta política e ideológica incessante?

Esse é o esforço permanente do PCdoB. Esse é o desígnio da política de quadros. O que nos leva a dizer: nunca perder de vista a perspectiva a estratégica, a vocação para a grande política transformadora, o compromisso com uma perspectiva partidista transformadora, com atitude militante.

Isso é o que faz de nossa luta pelo socialismo não apenas – embora essencialmente – um projeto político, como igualmente um ideal de vida, uma vida a serviço de ideais.

Não vai se repetir a mesma trajetória de Dynéas Aguiar, mas a substância é a mesma, é a ela que queremos promover nas condições modificadas do tempo atual.

Essa a essência das lições que retiramos do seu exemplo. Cada um de nós poderia aduzir uma série de depoimentos pessoais, pois é muito longa e profícua sua participação na vida partidária. Digo simplesmente, de forma coletiva, que cada um de nós se daria muito por satisfeito se pudermos chegar aos 80 anos com a mesma coerência, dedicação e compromisso com a causa do socialismo, do povo trabalhador, da nação e da democracia.

Singelamente, esta é a homenagem, apesar do registro pessoal, que lhe é prestada pelo Secretariado Nacional do partido, de nossa Escola nacional, de toda a direção estadual do PCdoB.

Dynéas Aguiar, você é muito importante para nós. Obrigado por seu exemplo.

Fonte: Blog do autor