Mais um lance agressivo no geopolítico jogo de xadrez do Sudeste Asiático realizou o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, provocando, em primeira fase, preocupação na China e na Indonésia para o início de nova corrida de armamentista na região.

Durante sua visita na Austrália e, por ocasião de seu discurso no Parlamento Federal local, Obama anunciou (pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial) uma escalada de aumento dos efetivos das forças armadas norte-americanas – exército, marinha e, força aérea – na Austrália já a partir do início do ano que vem, até 2017.

De acordo com informações de autoridades dos EUA e da Austrália, em “primeira fase”, cabeça de ponte das forças armadas norte-americanas na Austrália será a base militar de Darwin, situada no norte do continente australiano e distante a 820 quilômetros da Indonésia. Nesta base chegarão no início do ano que vem os primeiros fuzileiros navais dos EUA.

Foi esclarecido que, os EUA não pretendem – pelo menos agora – construir suas próprias bases, mas, ao que tudo indica, utilizarão as bases e demais instalações militares australianas. Por isso, a base de Darwin não será a única que “hospedará” as forças terrestres e aéreas norte-americanas, as quais, iniciarão a realização de exercícios militares conjuntos com forças australianas.

Outra base programada para ser usada pelos EUA é a base naval de Sterling, situada perto de Perth, no sudeste australiano. Mas, não exclui-se o uso de outras bases navais, aeroportos militares e portos, porque está previsto um incessante vaivém de forças, terrestres e aéreas norte-americanas.

Evitar surpresas

Supõe-se que, a nova investida norte-americana na Austrália (a qual, anotem, participa com toda a boa vontade em muitas intervenções imperialistas como, por exemplo, Iraque e Afeganistão) não ocorre somente no âmbito da aliança estratégica bilateral que já dura 60 anos. Mas, como explicou Obama em seu discurso, “a Ásia constitui desafio para a segurança e oportunidade para a economia”. Conforme esclareceu, ali (na Ásia) encontram-se as maiores forças nucleares do mundo e ali reside a metade da população da terra.

Ainda, Obama acrescentou que, “as evoluções (na Ásia) definirão e, muito, se o Século XXI será marcado por conflitos ou colaborações, por sofrimento humano ou progresso humano. Aqui estamos e aqui permaneceremos – disse Obama, enquanto, referindo-se ao governo de Beijing declarou – que, é equivocada a idéia de que tememos a China e que buscamos seu embargo”. Confirmou, ainda, que os EUA procurarão oportunidades de colaboração com o governo de Beijing, incluindo maior comunicação entre os exércitos, “a fim de promovermos a compreensão e evitarmos os erros”.

Seguramente, as confirmações de Obama não convenceram ninguém. Antes pelo contrário, aumentaram as preocupações de outros países da região (por exemplo, da Indonésia) que vêem a região adentrando em um período de forte movimentação militar, com visíveis características de uma nova e frenética corrida armamentista e escalada dos gastos de defesa. Ainda mais, quando figuras da Casa Branca esforçavam-se para justificar a decisão do governo, “murmurando” aos jornalistas a quadruplicação dos gastos de defesa da China na última década, a apresentação do novo caça bombardeiro chinês tipo “Stealth”, do novo porta-aviões da marinha chinesa e, de um modo geral, a modernização das forças armadas chinesas terrestres, navais e aéreas, assim como a decisão do governo de Beijing de reivindicar jazidas energéticas em regiões do sul do Mar da China, igualmente, reivindicadas por outros países como o Japão.

Nova fase de tensões

Assim, a presença militar na Austrália provoca preocupações e, uma autoridade da Indonésia apressou-se para observar que esta evolução provocará, eventualmente, um “círculo vicioso de tensão e desconfiança”.

Em Beijing, uma autoridade do ministério de Relações Exteriores, observou que, “não está na hora de intensificar alianças militares que não parece ser em benefício da região”. Em artigo o jornal Diário do Povo, destacou que, “a Primeira-Ministra da Austrália, Julia Guilard, talvez ignore que, a cooperação econômica Austrália-China não ameaça os EUA, mas, a aliança militar da Austrália com os EUA é contra a China”. E o artigo concluiu com a advertência de que, “se a Austrália utilizar suas bases militares para ajudar os EUA a atingirem os interesses da China, então, talvez ficará em fogo cruzado”.

Paralelamente, Yuan Peng, diretor do Instituto de Estudos Norte-Americanos da China para as Atuais Relações Internacionais, comentando no jornal Global Times a decisão do governo Obama de participar – pela primeira vez – na Conferência de Cúpula do Leste da Ásia, em Bali, Indonésia, disse que, “esta opção dos EUA revela, escancaradamente, a transferência do epicentro da estratégia dos EUA ao Oriente com o interesse dos EUA concentrando-se na região da Ásia-Pacífico na próxima década”.

Destaca-se que, no momento em que, o presidente dos EUA chegava em Bali, Indonésia, para participar da Conferência de Cúpula do Leste da Ásia, o exército norte-americano realizava em sua base no Havaí, o primeiro tiro experimental de um foguete supersônico teleguiado que, segundo comenta-se, proporcionará aos EUA a possibilidade de atingir alvos dentro de uma hora em qualquer ponto do mundo, no âmbito do Programa “Avançada Arma Supersônica (Advanced Hypersonic Weapon)”.

A conjuntura temporal e o simbolismo do lançamento experimental é, ao que tudo indica, indicativo dos novos e perigosos planos imperialistas que os EUA estão preparando na região da Ásia-Pacífico, utilizando a Austrália como “cabeça-de-ponte”.

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Fonte: Monitor Mercantil