Sucedem-se declarações alarmistas dos centros de comando do grande capital. A Reserva Federal dos EUA fala em «riscos significativos» para a economia dos EUA. A nova chefe do FMI, Lagarde, fala num «colapso da procura global» (Independent 24.9.11) e – como se o FMI nada tivesse a ver com a situação – afirma que estamos perante «uma perigosa fase nova da crise» com um «círculo vicioso a ganhar ímpeto» e «ainda demasiadas dívidas no sistema» (Guardian, 15.9.11). O presidente do BCE, Trichet, «reconhece que a actual situação é mais precária do que quando colapsou [o colosso financeiro dos EUA] Lehman Brothers [em 2008]» (Independent, 25.9.11). O ministro das Finanças inglês, Osborne, afirma que «a zona euro é o epicentro dos problemas globais» o que, não deixando de ser verdade, esconde o facto de o Reino de Sua Majestade ser (per capita) «o país mais endividado do planeta» (Independent, 19.6.11). E de os EUA serem o epicentro da fase explosiva da crise em que o capitalismo mergulhou o planeta e o «parasita da economia global» para usar as palavras de Putin (Reuters, 1.8.11). Para o Independent (24.9.11) só nos salvamos com uma intervenção divina: «O mundo reza por um milagre económico».

Este alarmismo reflecte a realidade criada pelas próprias classes dirigentes. Mas serve também para preparar os povos para a nova operação de esbulho que preparam, nomeadamente na UE. Os jornais do passado fim-de-semana falavam de um «Plano Geithner para a Europa – a última hipótese de evitar a catástrofe global» (Telegraph, 25.9.11). Este plano prevê um novo saque do erário público para financiar a banca privada (primeira responsável da crise): «os bancos europeus terão de ser recapitalizados com muitas dezenas de milhares de milhões de euros, a fim de tranquilizar os mercados de que um incumprimento [falência] grego ou português não precipite o sistema numa crise financeira sistémica» (Philip Aldrick no Telegraph, 24.9.11). É a mesma conversa de sempre, para vender mais do mesmo, com resultados cada vez mais dramáticos para os povos.

A verdade é que o capitalismo não tem saída para a sua crise sistémica. E o espectro de um colapso reforça as suas tendências mais extremistas e agressivas. Como confirma a realidade dos nossos dias. A guerra da NATO na Líbia é um massacre de civis, de claros contornos coloniais. Vendida como «intervenção humanitária», hoje os jornais do sistema não têm vergonha em escrever títulos como: «Dirigentes rebeldes esperam submeter pela fome o bastião de Gadafi em Sirte» (Telegraph, 28.8.11). Ou textos como: «”Queremos poupar os nossos combatentes […]” afirma um porta-voz rebelde […] “Vamos entrar em Sirte nem que seja preciso cortar a água e a electricidade”, deixando que a NATO bombardeie em força a cidade» (AP, 2.9.11). Dito e feito: «Líbia: Força Aérea britânica leva a cabo a sua maior incursão aérea até à data» escreve o Telegraph de 16 de Setembro, quase um mês depois de as forças ao serviço da NATO tomarem Tripoli com um banho de sangue, e no dia em que uma ONU servil e suicida reconhecia os fantoches do CNT como «governo legítimo». Cinco dias depois, a NATO decidia (com que autoridade?) prolongar a sua guerra aérea por mais 3 meses. Já não há sequer uma folha de parra.

A espiral de exploração e guerra deixa apenas uma saída: a resistência. A silenciada, mas heróica, resistência dos habitantes de Sirte e de toda a Líbia não é algo de distante. Faz parte da luta dos trabalhadores e povos do planeta contra o seu inimigo comum: o imperialismo. Faz parte da luta que os trabalhadores portugueses levarão às ruas neste próximo sábado.

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Fonte: jornal Avante!