Quem tem medo do Japão? Se alguém formular esta pergunta nos países desenvolvidos do Ocidente, constatará que cada vez mais ocidentais enfrentam a experiência do país do Sol Nascente como pesadelo. E em grau, aliás, que faz com que muitos mencionem o perigo de "niponeização" dos EUA, da Grã-Bretanha e, até ainda da Alemanha, se não for modificado radicalmente o quadro que existe hoje na economia real e nos mercados.

"Tudo se assemelha com um cenário análogo àquele do Japão. Estou mais nervoso do que nunca", declarou ao jornal britânico Financial Times Soucil Badhavani, fundador do homônimo fundo e ex-membro da Comissão de Administração do Banco Central da Grã-Bretanha. "É algo mais do que inédito que estas comparações tenham base", argumenta o CEO da empresa de administração de capitais Double Line.

Richard Milne, o jornalista que assina a análise do Financial Times, anota que "o mais importante dado que conduz à conclusão da "niponização" encontra-se no custo de endividamento dos três países mencionados (EUA, Grã-Bretanha e Alemanha). Se tomarmos como ponto de referência a evolução que registram em 15 anos os títulos estatais dos três países, constataremos que existe uma semelhança digna de destaque com a correspondente dos bônus japoneses, no período 1988-1996".

E Richard Milne prossegue: "O que seguirá é crítico. Recorda-se que, a partir do momento em que os desempenhos dos títulos estatais japoneses quebraram a barreira de 2%, em 1996, não existiu período seguido e digno de destaque durante o qual permaneceram acima deste nível."

"Mas, dia 18 os papers dos EUA despencaram abaixo de 2%, pela primeira vez depois de 1950. Na sexta-feira, obviamente, se recuperaram levemente e, à tarde, seu desempenho conformava-se em 2,08%. Contudo, vários investidores avaliam que a queda continuará, enquanto outros não hesitam em colocar na alça de mira 1,75%", conclui Milne.

Não é bem assim

Como é natural, existem também pontos de vista opostos. Andrew Milligan, diretor de Estratégia Internacional da Standard Life Investments, afirma que, "o mergulho do Japão foi decretado por oito dados: o crash nos preços das ações e imóveis, nos bancos-jumbi (que desabarão se lançarem suas perdas nos livros), a deflação, as zeradas taxas de juros de endividamento, os becos sem saída políticos, o débil crescimento fiscal e, finalmente, a alta relação da dívida em relação com o Produto Interno Bruto (PIB)".

"Dizendo muitas bobagens", diz Milligan. "Poderíamos dizer que o Ocidente tem todos estes oito dados. Mas se examinarmos cada país sozinho, então, a conclusão não é igualmente visível".

Também Jim Rad, analista estratégico do Deutsche Bank, avalia que "no período em que o Japão foi obrigado a enfrentar este problema importante, era um caso isolado em um mundo desenvolvendo-se velozmente, no final da década de 1990. Hoje, ao contrário, a maior parte do mundo ocidental encontra-se no mesmo barco".

"Obviamente", como observa Keith Weid, do Schroders Fund, "esta constatação não resulta, obrigatoriamente, em conclusões otimistas. Trata-se de uma dificuldade adicional. O Japão foi obrigado a recuar, empurrado por uma forte economia mundial", destacou, insinuando, indireta, mas, claramente, que algo assim não prevalece hoje.

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Fonte: Monitor Mercantil