O que reivindica a Europa inteira da Alemanha? Assumir o pagamento da maior parcela de uma conta, cujo total ninguém conseguiu ainda calcular. Mas conhecem alguém correndo a pôr a mão no bolso sem sequer saber o que deve pagar? A questão é que a Europa não pode sair da crise sem a Alemanha e, muito menos, contra a Alemanha.

A superioridade econômica alemã coincide com sua emancipação política. O país não teme mais travar batalhas a favor de seus interesses nacionais. Angela Merkel substituiu o modelo da política alemã pós Segunda Guerra Mundial, que era caracterizado pela multiplicidade de participantes, com uma única tática. E exatamente isso praticou, também, por ocasião da crise na Grécia.

O equilíbrio pós-guerra, quando os alemães "dispunham sua economia à manipulação dos interesses europeus, enquanto a França os tornava apenas politicamente aceitos", foi derrubado.

Completando este fato uma geração de autoridades e políticos de ambas as margens do Reno, que não conheceram, essencialmente, estes a cultura daqueles, já existe a sensação de que os alemães não precisam mais dos franceses, como antigamente. O governo francês, frequentemente, considerava que a Alemanha deve simplesmente aprovar as idéias e as propostas dele, porque assim estava acostumada a França. Mas tudo isso, pertence ao passado.

Existem dois pontos de vista para a Angela Merkel. Um é que trata-se de um anão político. Uma mulher que sempre formula avaliações erradas e é superada pelas evoluções. Aceitou silenciosamente – como os demais empoados líderes europeus – na recente Reunião de Cúpula de 21 de julho passado o mal cheiroso acordo Finlândia-Grécia, mas esta semana repetiu suas críticas.

Uma chanceler que perde uma eleição local após outra e, para não perder a maior de todas – a próxima eleição para chanceler – chega ao ponto de sacrificar o futuro nuclear de seu país.

Fora do euro

O outro ponto de vista é que trata-se de uma talentosa líder que gerencia com destreza e sangue-frio uma extremamente, perigosa crise. Sim, não resta dúvida, os especuladores estão "fazendo a festa", mas a prioridade é "os preguiçosos vagabundos do Sul" colocarem suas finanças em ordem. Contudo, a chanceler alemã conquistou o primeiro lugar na famosa lista da revista Forbes como a mulher mais forte no planeta.

Alguns dias antes Joseph Stiglitz disse na BBC de Londres que "na realidade, seria melhor para o euro se a Alemanha o abandonasse, porque as consequências para a reestruturação da dívida da Grécia, de Portugal e da Irlanda seriam muito maiores".

O famoso economista e Prêmio Nobel de Economia, em sua importantíssima entrevista, sublinhou que "a falta de margens de manobras fiscais nos países da Zona do Euro que são atingidos mais pela crise de dívida somente tensionará o problema. Se a Europa decidir que a única forma para continuar "beliscando" de algum fundo de estabilização ou fundo de solidariedade é por intermédio de eurobônus, os quais a Alemanha abomina. Isto significa que a Alemanha deverá retirar-se da Zona do Euro", disse Joseph Stiglitz, sentenciando a posição do governo alemão como "dura e perigosa".

Entretanto, a "dama de ferro" da Alemanha disparou apressada rumo a Paris, a fim de impor – pela milionésima vez – seus pontos de vista para a salvação da Europa e do euro ao cada vez mais fraco presidente francês.

Em nome da salvação do euro, proclamou sua hegemonia plena. Os resultados da "histórica" cúpula são conhecidos: vestindo o manto da pureza ideológica e ostentando a feição da "boa dona de casa", que se prepara para ajuizar punindo todas as crianças travessas da Zona do Euro, "Frau" Angela Merkel apresentou um novo "plano de salvação" que inclui, entre outros, um âmbito de governança econômica "comum", sob o controle alemão, naturalmente, e um "cânone de ouro" para o "freio na dívida" e a redução dos déficits, que deverá ser submetido à Constituição de cada país integrante da Zona do Euro. Quanto ao eurobônus, simplesmente, esqueçam: Como ela disse, é "a última medida a recorrer".

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Fonte: Monitor Mercantil