Um Obama fraco, submetido aos republicanos e às sandices do Tea Party, não tem as mínimas condições de enfrentar a crise fora dos tresloucados parâmetros neoliberais. "Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel da direita norte-americana”, diz Maria da Conceição da Tavares, com propriedade.

Claro que se repete uma espécie de bordão sobre o fracasso das políticas neoliberais, o que hoje é mais do que evidente. No entanto, lamentavelmente, em todos os cantos onde a crise se apresenta mais gravemente, como nos EUA e na Europa, são eles, os neoliberais, que se encontram à frente dos destinos políticos de suas nações. E o remédio para a crise é mais do mesmo: corte de gastos públicos, ajuda aos bancos e a todos os grandes capitalistas que tenham sido atingidos pela turbulência, estímulo ao desemprego, privatização e aumento da carência dos serviços públicos. A população mais pobre e os trabalhadores são inevitável e gravemente afetados.

Não nos consola, mas cabe lembrar que há pouco tempo os EUA consideravam-se os donos do mundo, e agora vêem-se diante de contradições tsunamicas. Debilitado, como a velha Inglaterra, no final do século XIX. São as ironias da história. Na crise, avulta a diminuição do papel dos EUA no cenário mundial. Perdeu inteiramente as condições políticas de ditar o que fazer aos demais países. Mesmo que saibamos que a crise é de longa duração e suas conseqüências, graves, é preciso enxergar alguma luz no fim do túnel, e sempre pela política.

Conceição Tavares tem uma convicção, que me parece acertada a longo prazo: a crise só será efetivamente superada "com uma democracia reinventada pela participação popular". Afinal, essa crise revela, de maneira clara, a incompatibilidade visceral entre mercados financeiros desregulados e valores da democracia. Mais do que nunca, é hora de insistir na participação popular, na idéia de que os povos têm que tomar o destino das nações e da humanidade em suas mãos. Pode ser uma construção demorada, mas indispensável.

Pensando nos países do Sul, e especialmente nos latino-americanos, creio que esses têm que insistir em crescer, mesmo que em níveis menores, garantir seus mercados internos, o emprego, a atividade produtiva dos nossos trabalhadores, proteger suas indústrias, como tantos deles, com governos progressistas e de esquerda, têm feito no Continente. O governo brasileiro, desde a posse do presidente Lula, tem procurado distribuir renda. O crescimento do Brasil, dentre os emergentes mais destacados – Índia, China, Rússia e África do Sul, que com o Brasil conformam o bloco denominado BRICS – tem se dado com distribuição de renda, diferentemente dos demais desse bloco, que também cresceram muito. Essa estratégia, com todas as dificuldades, deve continuar.

Diferentemente das nações do Norte, aonde se concentra o olho do furacão da crise, as nações da América Latina têm adotado outro caminho político, não mais pautadas pela maldição do neoliberalismo. Nossos povos têm preferido apostar em programas políticos à esquerda, reformistas, capazes de enfrentar os desafios sociais, e de tentar, sempre, crescer distribuindo renda, e sem se subordinar às diretrizes do centro do capitalismo internacional.

A saída é sempre política, e por isso, creio, sem subestimar a gravidade da crise, que estamos, o Brasil e nossos irmãos latino-americanos, mais capacitados a enfrentar essa turbulência, que inevitavelmente atinge a todos, face à natureza universal do capitalismo nessa etapa da história da humanidade. O mundo deve escutar o ruído dos ventos do Sul, não mais o do Norte.

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Jornalista, escritor, deputado federal (PT-BA)

Fonte: A Tarde