É fato que a participação da economia grega na Zona do Euro, mesmo sem a necessária preparação, proporcionava grandes possibilidades de crescimento ao país, mas, simultaneamente, criava obrigações consideráveis para o exercício da política macroeconômica e corretiva nacional, considerando que a política monetária encontrava-se nas mãos do Banco Central Europeu (BCE).

Só o fato de as taxas de juros de endividamento serem restringidas a um dígito criava as premissas de um impressionante aumento de investimentos no país. Simultaneamente, o clima de segurança contra riscos cambiais e de outras naturezas por causa da integração da Grécia na União Monetária Européia garantia maciço fluxo de capital estrangeiro para investimentos produtivos.

O aumento dos investimentos domésticos e estrangeiros iria assim melhorar a produtividade da economia grega e resultaria em aumento da competitividade internacional dos produtos gregos aumentando as exportações.

Desta forma, o nível de vida se elevaria, enquanto as remunerações dos trabalhadores aumentariam, baseadas sobre o crescente nível de produtividade por intermédio da reavaliação tecnológica doméstica da produção que prometia o aguardado aumento dos investimentos.

A convergência dos níveis de crescimento com os outros países europeus reunia grandes possibilidades para concretizar-se, fato que não tinha acontecido durante os primeiros 20 anos de integração da Grécia na União Européia (1981-2001).

Dívidas para consumir

Infelizmente, de tudo isso que era aguardado e que traria o verdadeiro crescimento à economia grega, somente o mínimo tornou-se realidade e, muitas vezes aconteceu exatamente o contrário.

As baixas taxas de juros aumentaram muito menos os investimentos do que o consumo, tanto do Estado, quanto, também, dos cidadãos, enquanto investimentos estrangeiros produtivos permaneciam somente perspectivas.

A facilidade de endividamento proporcionou ao Estado a possibilidade de endividar-se, a fim de ampliar o setor público da economia e distribuir rendimentos, tanto aos trabalhadores, quanto às empresas. Simultaneamente, grande parcela de cidadãos encontrou uma forma fácil para elevar o nível de consumo no endividamento, a fim de atingir e muitas vezes superar os padrões de consumo dos países europeus mais ricos.

Os crescentes ritmos anuais de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) apoiavam-se mais sobre o consumo do que sobre a produção, enquanto as importações cresciam já sem nenhuma restrição cambial.

O aumento da produtividade não conseguiu melhorar a competitividade internacional dos produtos gregos, a qual piorava incessantemente, enquanto a flexibilização da política fiscal e de renda, assim como a falta das necessárias mudanças corretivas, mantinham uma inflação mais alta na Grécia, em relação com a média na Zona do Euro. O déficit de pagamentos externos superou qualquer anterior, enquanto o déficit fiscal e a dívida pública configuravam-se menores do que eram na realidade.

Abandono do euro

Quando a crise econômica mundial restringiu, drasticamente, a liquidez, nem o Estado, sequer os bancos e, consequentemente, muito menos os cidadãos poderiam então contrair empréstimos com facilidade, a fim de manter o falso bem-estar. A crise de endividamento trouxe à superfície todas as patologias congênitas da economia grega e resultou na situação atual.

Parece que uma grande oportunidade por causa da participação do país na Zona do Euro corre o risco de perder-se com responsabilidade primeiro dos governantes e, em continuação, de todos aqueles que poderiam influenciar as evoluções.

O esforço que é feito agora, com a limitada solidariedade da União Européia, além de sua tecnocrática e política habilidade em aproveitar a oportunidade, exige tais ritmos de adequação, após as negligências de décadas, que a sociedade grega não parece, obviamente, capaz para absorver, com visível risco de catastrófica falência e saída do país da Zona do Euro.

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Fonte: Monitor Mercantil