As eleições de domingo realizam-se num momento de agravamento acelerado da crise do capitalismo. Na União Europeia discute-se abertamente se o euro e a própria UE podem ser salvos. Sucedem-se golpes, reuniões (que eram para ser) secretas, declarações contraditórias reveladoras de desorientação. Os «planos de salvação» das troikas do grande capital financeiro agravaram o desastre da Grécia e da Irlanda. Portugal está na mesma «rampa de afundamento».

O professor de Economia na Universidade de Dublin, Morgan Kelly, escreve: «Com o Estado irlandês a caminho de dever 250 mil milhões de euros em 2014, está a tornar-se inevitável uma prolongada e caótica falência nacional. […] A Irlanda enfrenta a ruína económica» (Irish Times, 7.5.11). Tal como a Argentina em 2002, a Irlanda enfrenta a ruína económica, não porque se tenha revoltado contra as políticas neoliberais, mas porque as seguiu à risca. A ruína é para o povo irlandês, mas quem criou o problema foi o grande capital financeiro, que amealhou milhares de milhões ao longo destes anos. E quem decidiu que seriam os povos a pagar os desvarios da grande finança foi a UE e «o Banco Central Europeu, que de forma desavergonhada representou os interesses dos credores irlandeses e insistiu [que o Estado] pagasse a totalidade das obrigações dos bancos [privados]» (Morgan Kelly). São lições que os portugueses terão de ter presentes ao votar no domingo.

Quem se ilude que as troikas “salvem a situação” verá as suas ilusões destroçadas pela realidade. As troikas não visam salvar povos ou países, mas sim salvar o grande capital financeiro das grandes potências. Escreve outro professor de Economia (Michael Hudson, Universidade do Missouri; Counterpunch, 27.5.11) «”salvar o euro” é um eufemismo dos governos para a salvação da classe financeira […]. O objectivo é preservar o valor das euro-dívidas devidas à Alemanha, Holanda, França e às instituições financeiras (para eles não haverá sacrifícios). Os custos serão pagos pelo trabalho e pelas empresas. […] Os credores sabem que o jogo terminou. O que estão a fazer é a arrecadar tudo aquilo que conseguirem […] para depois fugir para os seus centros financeiros nos “offshores”». Este “jogo do empurra” das dívidas fará estragos dramáticos. A revista alemã Der Spiegel escreve (24.5.11): «Enquanto a Europa anda preocupada com uma possível reestruturação da dívida da Grécia, enormes perigos pairam noutro lado: na contabilidade do Banco Central Europeu. O guardião da moeda única aceitou milhares de milhões de euros em valores arriscados como garantias para empréstimos visando sustentar os bancos de nações em apuros». Quando chegar o inevitável momento de pagar a factura do lixo tóxico que está a ser transferido da banca privada para o BCE, esquecer-se-ão que o BCE é “independente”. Nessa altura, os buracos serão dos contribuintes.

A situação dos EUA não é melhor. O dinheiro fictício (QE e QE2) com que tentaram relançar a economia não deu resultados. A espiral de endividamento é já há muito insustentável. Obama afirmou que se o Parlamento dos EUA não autorizar mais endividamento (acima do actual tecto de 14,3 milhões de milhões de dólares!) «poderá desmoronar-se todo o sistema financeiro» (Telegraph, 16.5.11) ou seja, o papel mundial do dólar. O outro pólo da tríade imperialista, o Japão, está a braços com uma terrível crise económica, ambiental e humanitária. Este agravamento simultâneo da crise acirra todas as contradições inter-imperialistas, facto sobre o qual Dominique Strauss Kahn terá agora muito tempo para reflectir.

A comunicação social de regime refugia-se num mundo de faz de conta (como a “morte do Bin Laden” e os casamentos reais). Até a criminosa guerra de agressão imperialista à Líbia, que está a ser aproveitada pelos centros imperialistas para pilhar o riquíssimo fundo soberano do Estado líbio, não é notícia. Mas a escalada de agressão não pára. Nos últimos dias, UE e EUA impuseram novas sanções à Venezuela, à Bielorússia, à Síria. Os alvos das agressões são claros. O imperialismo tenta sair do atoleiro pela via da guerra. É preciso lançar uma pedrada neste pântano. E para os portugueses, o voto na CDU é um passo imprescindível.

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Fonte: jornal Avante!