Sempre que meus pensamentos recaiam sobre ele, ao longo dos últimos anos, a mensagem era sempre a mesma: “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor (…) Eu sou brasileiro e não desisto nunca”. E essa será sempre a imagem que dele terei. Penso que José Alencar não foi vencido pelo câncer, ao contrário, ele o venceu!

Não se trata aqui de uma nota açucarada, mas o reconhecimento do papel cumprido por um homem que ousou “traçar a sua história com plena consciência do que faz”.

Um sentimento desenvolvido em minha juventude – influenciada pela militância no movimento estudantil – é o de admirar meus pares. Pessoas que, como eu, fizeram opções por causas que nos levem a um mundo de mais igualdade. O tempo, a vida e a práxis, porém, nos ensina a amplitude e a complexidade desses sentimentos.

Em minha vida adulta, curiosa que sou das discussões acerca das classes sociais no Brasil, da luta de classes e da formação da consciência política, aprendi a respeitar e valorizar a trajetória de personalidades que, oriundas de diferentes classes sociais, se comprometem com a sua condição de classe. José Alencar, penso, foi uma dessas personalidades. Tanto que, fez a única opção possível: uma aliança com o povo ao se associar ao projeto de Poder desenhado pelos trabalhadores e liderado por um conjunto de forças personificadas pelo então operário, Luis Inácio Lula da Silva.

Lênin, ao tratar da conquista do Poder político pelo proletariado escreve que a arte do político e a justa compreensão de seus deveres “consiste, precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tomar vitoriosamente o Poder; em que pode, por ocasião da tomada do Poder e, depois dela, conseguir um apoio suficiente de setores bastante amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não-proletárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, consolidar e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo para si massas cada vez maiores de trabalhadores”.

Ouso considerar, portanto, que a participação de José Alencar no cenário de acirradas disputas políticas entre o projeto neoliberal e o projeto das forças progressistas e democráticas teve, historicamente analisando, um caráter pedagógico: educando, instruindo e atraindo, não necessariamente só as massas, mas sobretudo, a militância organizada dos movimentos sociais e dos partidos políticos que tinham grande dificuldade de compreender o que ressaltava Lênin, citando Marx, sobre a ideia de que a aliança do proletariado com a pequena burguesia poderia, em determinadas situações, representar um avanço na luta: “Se a união é verdadeiramente necessária, escrevia Marx aos dirigentes do partido, façam acordos para realizar os objetivos práticos do movimento, mas não cheguem ao ponto de fazer comércio dos princípios, nem façam “concessões” teóricas”.

José Alencar, um representante do empresariado, soube com muita precisão o momento exato de se colocar a disposição de sua classe, do Brasil e dos brasileiros. Sua aliança não implicou “comércio” dos seus princípios, uma vez que seguiu adotando postura propositiva e crítica, ao mesmo tempo.

A maior homenagem que qualquer brasileiro pode prestar a esse homem e sua família, nesse momento, é a reflexão de quão importante foi para todos nós a sua contribuição. O Brasil mudou, mas ainda não foi o bastante. É fundamental que os seus ensinamentos sirvam para continuarmos nos rumos da mudança, construindo um Brasil democrático e soberano, com um novo projeto nacional de desenvolvimento que abarque todo o povo brasileiro.

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Mstre em educação, professora do IFMT e membro da direção estadual do PCdoB – MT