Multinacionais como a Yum! Brands Inc. e a Manpower Inc., atraídas pelo ritmo impressionante do crescimento na China e outros mercados emergentes, estão investindo agressivamente nesses países, o que propicia mais crescimento lá, mas também inflação.

Esses mesmos executivos – diante da lenta expansão e da incerteza sobre os orçamentos e as políticas de governo – estão agindo com cautela nas economias desenvolvidas, o que só aumenta ainda mais a própria lentidão que deixa as empresas temerosas.

O desequilíbrio da economia mundial deve se tornar um tema importante quando executivos, autoridades, acadêmicos e jornalistas se reunirem no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, que começa hoje. Ele também é um dos principais fatores por trás do novo foco na competitividade dos Estados Unidos expressado pelo presidente Barack Obama no tradicional discurso anual sobre o Estado da União ontem à noite.

São amplos os sinais de que a recuperação está ocorrendo em duas velocidades diferentes.

A rede de lanchonetes Yum! vai construir cerca de 900 restaurantes das marcas KFC, Pizza Hut e Taco Bell este ano; 80% delas serão em mercados emergentes. Só a divisão chinesa abrirá entre 500 e 600 novas lojas. "As grandes oportunidades em nosso segmento estão no mundo em desenvolvimento", diz Graham Allan, que comanda a divisão internacional da Yum! "Nossa intenção é ir atrás delas."

A AkzoNobel, fabricante holandesa de tintas, planeja abrir duas novas lojas por dia na China e está despejando dinheiro em seus negócios de químicos para fabricação de celulose e papel no Brasil. O diretor-presidente, Hans Wijers, diz que sua maior preocupação nos mercados emergentes é: "Será que estamos crescendo com rapidez suficiente?" Enquanto isso, ele teme o excesso de capacidade nos EUA e na Europa.

Em muitos mercados emergentes, é como se a crise nunca tivesse acontecido. Na China, as vendas anuais de automóveis subiram vertiginosamente para mais de 18 milhões em 2010, ante 5 milhões em 2005. Nos EUA e na Europa as vendas ainda estão menores que as do auge antes da crise. A General Motors Co. vendeu mais carros na China ano passado que nos EUA. O PIB real aumentou mais de 70% na China desde 2005 e cerca de 55% na Índia, mas apenas 16% nos EUA.

O dinheiro está fluindo para os aquecidos mercados emergentes, criando pressões inflacionárias que as autoridades desses países não estão conseguindo conter. As reservas internacionais – quanto os bancos centrais possuem em divisas estrangeiras – subiram fortemente desde a crise. Atualmente em mais de US$ 5 trilhões, elas estão seis vezes maiores que há dez anos, segundo cálculos do Federal Reserve, o BC dos EUA. A China tem cerca de metade desse total, pouco mais de US$ 2,6 trilhões.

O Fundo Monetário Internacional calcula que as economias avançadas do mundo vão crescer a um ritmo anual de 2,5% em 2011 e 2012, enquanto os mercados emergentes devem crescer em média 6,5%. No mundo desenvolvido, "o crescimento segue lento, o desemprego ainda está alto e as novas turbulências na periferia da zona do euro estão contribuindo para o riscos econômicos", afirmou o FMI num relatório recente.

Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-economista-chefe do FMI, diz que a diferença no crescimento provavelmente será maior na próxima década que na passada. As economias em desenvolvimento, por sua vez, vão "enfrentar muitas pressões causadas pelo sucesso delas".

À medida que mudam as tendências de crescimento, Vineet Nayar, diretor-presidente da HCL Technologies, uma empresa indiana de terceirização que está crescendo rapidamente, enxerga uma transformação no pensamento dos executivos. Antes da crise, diz ele, muitas empresas de países ricos se contentavam em contar apenas com o consumo doméstico. Hoje em dia seus líderes estão insatisfeitos com o mercado interno, e estão "famintos", diz ele. Ao mesmo tempo, os executivos das economias em desenvolvimento "tinham aspirações, mas não tinham confiança antes da crise. Hoje eles contam com uma quantidade incrível de autoconfiança que não existia alguns anos atrás".

Uma pesquisa da PriceWaterhouseCooopers com mais de 1.200 diretores-presidentes, realizada entre setembro e dezembro, documenta essa tendência. Entre os executivos baseados na América do Norte, 94% preveem crescimento da receita na Ásia, 80% na América Latina e apenas 67% enxergam chances de expansão na América do Norte, com outros 51% prevendo crescimento na Europa Ocidental. Os executivos europeus têm visões ainda mais díspares – 48% preveem crescimento em sua terra natal, mas 86% acham que haverá crescimento na América Latina e 92% o enxergam na Ásia.

A pesquisa não tem só más notícias. No relatório de 2010 da PWC, apenas 27% dos entrevistados na Alemanha esperavam contratar mais pessoal no país; em 2011, a fatia subiu para 62%. E 55% dos executivos pretendem contratar nos EUA, ante 39% ano passado.

E os executivos estão menos temerosos de que os grandes países ricos vão fechar seus mercados para os concorrentes emergentes. O protecionismo comercial foi considerado uma preocupação na pesquisa da PWC em 2009 e em 2010, mas sumiu da lista em 2011. "Esses mercados são tão interconectados hoje em dia que protecionismo não é a maneira de resolver esses problemas", diz Dennis Nally, presidente da divisão internacional da PWC.

Embora desfrutem das benesses do crescimento rápido, os países em desenvolvimento também enfrentam os riscos do presente desequilíbrio na expansão mundial. Uma ameaça é o excesso de confiança, um ingrediente crucial das bolhas imobiliária e de tecnologia que assolaram a economia global na última década e dos excessos financeiros da Ásia nos anos 90.

"A euforia que ocorreu nos países emergentes, especialmente a China e a Índia, será um pouco temperada pelas preocupações com superaquecimento e bolhas de ativos", diz Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS Global Insight.

Ele está especialmente preocupado com a bolha imobiliária que está se formando na China. O valor de todos os imóveis do país, calcula ele, é igual a 3,5 vezes o valor de seu PIB anual – uma proporção com implicações alarmantes, porque sugere que as residências chinesas estão supervalorizadas. A proporção nos EUA entre o valor das residências e a produção econômica foi muito menor, 1,8, durante a última bolha imobiliária. "É motivo de preocupação", diz Behravesh.

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Fonte: The Wall Street Journal, no Valor Econômico