Fazemos promessas para mudar de vida, olhando sempre para cima e para mais longe, buscando novos e cada vez mais difíceis desafios. Por que tem de ser assim por toda a vida, mesmo quando o tempo que nos resta é cada vez menor?

Do jeito que vamos indo, com tudo tendo que ser sempre mais e melhor, todos tendo que vender mais e consumir mais, a economia mundial crescendo sem parar, mesmo em tempos de crise, com cada vez mais carros, aviões, navios, fábricas e usinas poluindo o ambiente, shopping centers se multiplicando como cogumelos por toda parte, lojas, bares e restaurantes lotados, uma hora este nosso velho mundo vai explodir em todos os sentidos.

Como ninguém tem fôrças para mudar o mundo, muito menos para fazer ele parar, poderíamos pelo menos começar a pensar em mudanças possíveis na rotina de cada um de nós. Quem sabe, com o tempo, as coisas não começam a desacelerar e melhorar a chamada qualidade de vida?

Apenas oito anos atrás, o principal objetivo do presidente Lula que assumia o governo era combater a fome, garantindo a cada brasileiro pelos menos três pratos de comida por dia. A desnutrição de milhões de brasileiros ainda era o maior problema de saúde pública.

Nesta sexta-feira, fiquei sabendo pelo noticiário que 50% da nossa população já está acima do peso e crescem assustadoramente os problemas de obesidade, incluindo o autor destas mal traçadas linhas, que mais uma vez está fazendo tratamento para largar o cigarro, e sofre os efeitos.

Parece o destino daquelas regiões que são assoladas ora pelas secas, ora pelas enchentes. Será que não pode haver um meio termo, um ponto de equilíbrio nas nossas vidas e nas nossas terras, ou este permanente querer mais não será a própria causa das tragédias naturais e humanas que afetam o mundo todo também cada vez mais?

Fiquei pensando em tudo isso num recente retiro espiritual do meu Grupo de Oração ao notar que algumas pessoas estavam falando demais, até mais rápido do que pensam, com opiniões formadas e definitivas sobre todos os assuntos espirituais ou terrenos, como se quisessem convencer os outros de que aquele era o único caminho.

Não só em retiros, que deveriam ser redutos de silêncio e meditação, mas em quase todos os lugares aonde vou, tenho notado que as pessoas todas estão falando cada vez mais, cada vez mais alto, o tempo todo, sem dar tempo de pensar no que estão dizendo.

Na internet, do mesmo jeito, autores e leitores escrevem cada vez mais comentários sobre tudo que lhes vem à cabeça, repetindo sempre as mesmas certezas, transformando opiniões pessoais em dogmas, como se estivessem querendo criar uma seita de seguidores.

É impossível ler todas as mensagens que me mandam o dia inteiro, todo dia. Às vezes, nem dá tempo de abrir os e-mail para saber do que se trata. Desta forma, estaremos nos comunicando e fazendo entender mais ou menos?

A partir desta constatação, comecei a pensar para quantas coisas poderíamos nos propor menos em lugar de mais neste raiar de outro ano da nossa breve passagem pela terra _ quer dizer, inverter um pouco este jogo de perde e ganha que está ficando cada vez mais chato e perigoso.

Por exemplo: poderíamos começar nos propondo consumir menos, menos tudo. Porque muitas outras coisas estão relacionadas a esta febre de ter e ser mais: trabalhar mais, comprar mais, vender mais, viajar mais, comer mais, beber mais, competir mais, assumir mais compromissos, ganhar mais, poluir mais, querer mais, exigir mais de si mesmo, desmatar mais, buzinar mais, gritar mais, brigar mais, correr mais, jogar mais, blasfemar mais, se estressar mais e, assim, ter mais chance de ir parar num hospital do que chegar à felicidade.

Se não trocarmos todos estes mais por menos, uma hora acabaremos consumindo a nós mesmos.

Pode parecer incoerência minha fazer esta proposta ao final de um ano estafante de trabalho e compromissos variados em diferentes áreas de atividade, às vésperas da viagem a um dos maiores templos do consumo do mundo. Eu sei, mas só o fato de me permitir tirar duas semanas de férias de verdade com a família já pode ser um bom sinal de mudança.

Espero que não me entendam errado, imaginando que sou contra o progresso da humanidade, um hippie gordo e careca meio fora de época, que está voltando agora de Woodstock. Não estou dando receita para ninguém. Esta é apenas minha intenção neste final de ano, resume o que penso e sinto neste momento, mas cada um é que sabe do seu sonho e da sua dor.

Também não virei adepto destas modas de vida alternativa, pregador da sustentabilidade em comunidades ecológicas, nem pretendo me tornar um vagabundo. Busco e proponho apenas um pouco mais de equilíbrio, aquela história de que menos pode ser mais, qualquer que seja a nossa condição de vida. É uma boa hora para pensarmos nisso. Afinal, não custa nada.

Fonte: Balaio do Kotscho