O ImprenÇa traduziu um importante artigo do The Guardian a respeito das influências e modos de influenciar nas redes sociais. O que mais chama atenção é o papel exercido por empresas de multibilionários americanos e russos na hora de impactar massas através das redes sociais. Mas o que mais chama atenção é o modus operandi de grupos brasileiros, muito semelhantes aos gringos.

Segundo a jornalista Carole Cadwalladr, do The Guardian, o uso dos metadados são a real força de grupos pontencializadores das fake news, com um objetivo bem claro de influenciar as massas.

Metadados

A definição da wikipedia é clara, Arnaldo: “Metadados ou Metainformação, são dados sobre outros dados. Um item de um metadado pode dizer do que se trata aquele dado, geralmente uma informação inteligível por um computador. Os metadados facilitam o entendimento dos relacionamentos e a utilidade das informações dos dados.” Não entendeu nada? Calma que o ImprenÇa vai deixar as coisas mais óbvias pra nós.

Quando você acessa o Facebook pelo seu celular seu Android ou seu IOS ou Windows Phone {{ou seja lá o nome do sistema operacional usado pelo seu celular}} faz um registro da hora e local físico de onde ele foi acessado. Isso significa que o seu Mark sabe onde você está ? Sim e não.

Os dados ficam armazenados em bancos de… {{adivinha…}} dados. Mas como você deve estar imaginando é humanamente impossível observar e analisar 1,6 BILHÃO de usuários individualmente, certo? Certo. Então mantenha isso na cabeça, os dados estão lá guardados.

Aí o seu Marquinhos, dono de uma loja de doces na região central de São Paulo quer fazer uma publicidade. Quais as melhores pessoas para que ele atinja no Facebook? Exatamente, as que mais acessam na região do centro. Mas isso ainda diz pouco. Bom mesmo seria atingir diretamente seres humanóides do tipo docídios {{termo quase científico para identificar seres humanos que são tarados ou taradas por doces}}.

Você que usa o Facebook sabe que já deve ter curtido centenas ou milhares de páginas e interesses por lá, certo? Pois bem.

Junte o dado “local de acesso” com o dado “interesse por doce” e pronto, você será alvo do marketing digital do seu Marquinhos®. Dois dados juntos formam um metadado.

Os especialistas de TI terão mil e uma outras considerações, mas cá pra nós, o que importa mesmo está nessa explicação acima. 

Agora troque “seu Marquinhos doceiro” por “Seu Kim Katamarã” e o interesse em vender doces por vender informações. Ou troque informações por sensações. Parece absurdo? Então vamos consultar os tiozinhos mais antigos para que eles nos ajudem.

“Tornava-se cada vez mais claro que a sua propaganda política de massas, lidando exclusivamente com a discussão de processos socioeconômicos objetivos numa época de crise (modo de produção capitalista, anarquia econômica, etc.), nunca alcançaria mais do que uma minoria, já pertencente às fileiras da esquerda” Wilhelm Reich em Psicologia de Massas do Fascismo.

O uso dos metadados
A reportagem de Carole mostra como a Cambridge Analytica, onde um bilionário financiador do Brexit e da campanha de Trump possui 10 milhões em ações, trabalhou com o uso dos metadados para campanhas de Donald Trump, além de ligações com centenas de sites de direita que são usados para estrangular a mídia {{descreditar talvez fosse o termo, mas no caso brasileiro não resta muito em créditos na imprensa nacional}}.

Funciona assim:

 

{{não acredite em mim – Cambridge Analytica}}
 

O uso dos metadados comportamentais mais a análise destes metadados por cientistas pode resultar em modelos previsíveis de comportamento. Entendeu onde quero chegar?

“Nós tornamos os metadados em grupos manejáveis e acionáveis de pessoas que compartilham características similares e ajudamos a aumentar sua audiência identificando e localizando grupos semelhantes pelo país.” Acho que agora ficou mais claro.

Bolha de Informação
O ponto é que os metadados, como vimos, auxiliam na expansão da influência entre semelhantes, ou seja, entre seres do tipo humanóide que pensam {{ou não pensam}} de maneira aproximada. A famosa bolha de informação.

“um esquilo morrendo na frente da sua casa pode ser mais relevante para seus interesses agora que as pessoas morrendo na África” Mark Zuckemberg
Veja esse vídeo, se puder:

Se você não tem tempo ou paciência pra assistir o vídeo completo, nós resumimos pra você:

 

 

 

“Mas algumas semanas atrás, eu pedi para um grupo de amigos ‘googlear’ a palavra “Egito” e me enviarem as telas com os resultados que obtiveram. Então, eis aqui a tela do meu amigo Scott. E aqui, a tela do meu amigo Daniel. Quando você as coloca lado a lado, você nem mesmo precisa ler os ‘links’ para ver quão diferentes estas duas páginas são. Mas quando você lê os ‘links’, de fato, é realmente muito marcante. O Daniel não obteve nada sobre os protestos no Egito em sua primeira página de resultados do Google. Os resultados do Scott estavam cheios deles. E esta era a manchete do dia, naquele momento. Isto é o quão diferentes estes resultados estão se tornando.”

“E isto no leva muito rapidamente para um mundo no qual a internet nos mostra aquilo que ela pensa que queremos ver, mas não necessariamente o que precisamos ver.” Eli Pariser

O grande problema, diz o homem branco que fala no vídeo, é que na bolha de informação, você não escolhe aquilo que fica de fora. Então os algoritmos é que decidem aquilo que será visto por você.

As bolhas existem porque tanto o Facebook quanto o Google e boa parte das grandes empresas responsáveis por entregar as informações {{não estamos incluindo os jornais aqui}} são empresas de marketing, ou seja, o principal objetivo delas é entregar informações que você goste. Longe, portanto, da necessidade de entregar diferentes perspectivas ou pontos de vista.

E o MBL ?
Pois então, vamos brincar de aula de álgebra e somar os fatores da equação. São eles:

Percepção negativa do governo Dilma/PT
Percepção negativa da classe política
Sentimento de corrupção como algo generalizado no poder político

Frase do velhinho “Tornava-se cada vez mais claro que a sua propaganda política de massas, lidando exclusivamente com a discussão de processos socioeconômicos objetivos numa época de crise (modo de produção capitalista, anarquia econômica, etc.), nunca alcançaria mais do que uma minoria, já pertencente às fileiras da esquerda”
Mídia Tradicional

É nesse último aspecto que nossa conjuntura difere da americana. Nossa mídia proporciona amplo apoio ao governo atual, ao contrário do cenário enfrentado por Trump {{se você duvida basta comparar as matérias da revista Veja sobre o Mais Médicos, os editoriais do Estadão sobre impeachment de Dilma e de Temer e por aí vamos}}.

Um sentimento mais amplo de que os governos do PT não nos servem mais, somado a um sentimento de que a classe política está fora de nossa época e além disso tudo é composta por corruptos e ladrões. Soma isso tudo com a conclusão de Reich de que argumentos objetivos só conversam com uma minoria já pertencente às fileiras da esquerda e temos um prato cheio para discursos vazios a respeito da corrupção no país.  Algo muito semelhante com:

 

 

Com o uso certo de algoritmos e algum financiamento, você expande sua base de influência de maneira progressiva {{mas não progressista – ok, desculpe o trocadilho}}.

 

Nada do que foi descrito aqui é ilegal, é bom que se diga. Mesmo o financiamento internacional do MBL, conforme mostrou reportagem do Democratize em reportagem de Francisco Toledo de pelo menos duas organizações liberais americanas, também não é ilegal.

Mas fica claro que a maneira de operação destes fundos milionários ou bilionários é a mesma. Financiar grupos, seja em treinamentos, seja em suporte financeiro direto, para a expansão de ideias que convirjam com o pensamento econômico destes poucos endinheirados.

No contexto brasileiro as fake news servem apenas de fins retóricos para os poucos casos nos quais a grande mídia não está de acordo com os interesses que o difundem. Como se sabe, o JornaLivre está na lista de meios de comunicação online que mais produzem notícias falsas.

Quem mais divulga o mesmo JornaLivre é, claro, o Movimento Brasil Livre. E assim a fake news ocupa a lacuna que por ventura algum jornalista resolveu deixar no campo de apoio aos interesses econômicos internacionais.

Nada é por acaso e nada disso é teoria da conspiração. Ao contrário, se a esquerda soubesse o que é comunicação, teria investido há tempos em conhecimento específico do uso das redes e metadados. Ou na regulamentação deles. Nós, ao contrário, ficamos no reforço delas, ao compartilhar ações de marketing da Amazon {{ei, livros grátis graças à briga do Dória! eeeeeeee}}, vídeos de Holiday e links de textos falsos apenas para dizer “Ei, este link é falso”; como se não soubéssemos que esse compartilhar aumenta o ranking de quem postou originalmente, colaborando, no mínimo, para que notícias falsas sejam ainda mais compartilhadas. Isso quando não entramos nós mesmos nestes links, colaborando financeiramente com seus donos.