Baixou rápido o “modo pacificação” na ação de Bolsonaro. Suas insanidades se multiplicam a cada dia. Chegam a ser criminosas e indignas: pólvora, maricagem, disputa inescrupulosa com a vida e sobre a vacina contra a COVID-19 (até mesmo com o sentimento que é devido a uma tragédia se confirmado que o voluntário da Coronavac se suicidou.

Desespero do isolamento com a derrota de Trump? Alguma sabedoria sobre o que é de fato o Centrão e seu “apoio”? Clareza de que a direita liberal e centro-direita liberal, mais o Centrão, vão crescer nas prefeituras e de que o campo bolsonariano vai se dar relativamente mal nas urnas? Um pouco de tudo e mais sua psique própria. Só não se deve imaginar, mais uma vez, que não há cálculo político nessa opção política do presidente. A ver na sequência.

De todo modo, a conjunção de fatores na situação brasileira está em agravamento. O governo é trôpego e sem rumo, o país está à deriva, o impasse econômico sobre a austeridade do teto e a exigência contracíclica de enfrentar a recessão e inflação, a precarização dos empregos e renda básica da população, vai indicando o rumo de uma crise política de vulto. A questão dos cálculos de Bolsonaro é que, às vezes, dão errado.

Para tirar o país da crise e salvar o interesse popular e da produção, mais uma vez se pode dizer que políticas de união de esforços emergenciais consensuais são necessárias para dar uma perspectiva com alguma esperança. Ninguém vai impor sua agenda própria a ninguém, nessa realidade de falta de rumos, destruição e falta de lideranças nacionais capazes de reorganizar o jogo político e repactuar a democracia; Aí sim, se poderá voltar a disputar rumos para o país. “Esperar” 2022 para isso é uma impropriedade.

Bolsonaro desmoraliza a nação brasileira, quebrando sua índole altiva e digna. O preço histórico disso é incalculável e duradouro. O presidente deve ser isolado e derrotado em todos os campos possíveis, na luta política, parlamentar, social e cultural Há base renovada para isso com os resultados eleitorais esperados e, sobretudo, com o aumento da rejeição do governo e do presidente nos grandes centros urbanos do país, inclusive Sul e Sudeste. Só não há força capaz se não se unirem esforços.

Uma palavra sobre o resto do mundo. Para além do assustador repique da pandemia, afetando a vida de milhões de pessoas, a economia vai dar mais um mergulho recessivo e o desemprego estrutural vai se cristalizando. Os EUA dão mostra de uma disfuncionalidade política e radical divisão, que reduz em perspectiva seu papel por algum tempo, ainda que cevando o essencial: sua guerra contínua e multidimensional com a China e pela contenção militar da Rússia. O Brasil, inteiramente isolado nesse contexto.

No mais, no mundo não se deve comemorar sem reservas críticas dois fatos. O impeachment do presidente Vizcarra no Peru cheira mal, independentemente de seu posicionamento político.

Como informou Ana Prestes na mídia, a alegação foi de “incapacidade moral permanente” do presidente para seguir ocupando o cargo. Ele ainda tinha cinco meses de mandato antes das eleições gerais de abril de 2021, mas foi denunciado por prática de corrupção quando era governador da província de Moquegua (2011-2014). O curioso dessa história é que Vizcarra, que havia assumido o poder em 2018 com a queda de Pedro Pablo Kuczynski, de quem era vice, usou justamente a bandeira do trabalho anticorrupção para se manter no poder, ousando inclusive dissolver o congresso (setembro, 2019) de maioria fujimorista e chamar eleições legislativas. O parlamento que saiu dessas eleições é o mesmo que agora o destitui por acusações (ainda em processo de julgamento) de corrupção. Virou moda: é o sexto presidente do país acusado de corrupção.

A controvérsia política é enorme. O partido Pátria Roja, comunista, chamou o processo de golpe parlamentar para prejudicar a transparência do processo eleitoral em vias de ocorrer. É a nova moda: a direita quer dominar sem ganhar eleições. Ao que parece, Vizcarra estava atrapalhando os planos da elite política de direita de se reposicionar melhor com as próximas eleições.

O outro já passou, mas não deve ser esquecido. Várias redes de TV dos EUA, durante o pronunciamento de Trump em meio às apurações, tiraram o presidente do ar e editorializaram o fato. As declarações eram praticamente criminosas. Mas de modo nenhum justifica a atitude da mídia – ela devia informar seu posicionamento após transmitir o pronunciamento. É básico: a opinião pública precisava tomar conhecimento do teor e fazer seu juízo. Se a moda pega, se a mídia pode intervir desse modo, assim como a crescente judicialização da política, a insegurança jurídica se instala. Logo, logo, isso se vira contra as forças progressistas.

Em tempo: Resultados preliminares de testes clínicos apontam que a vacina Sputnik V é 92% eficaz em proteger pessoas do novo coronavírus. A Rússia foi o primeiro país a registrar uma vacina contra o novo coronavírus, em agosto. Os dados da análise preliminar ainda serão publicados em uma revista científica internacional e não passaram por avaliação de outros cientistas. Oxalá! É uma luz nesse mundo louco.