Num encontro que contou com um quorum excepcional de participantes, os principais envolvidos em cada setor das Secretarias de Formação e de Organização, da Fundação Maurício Grabois e do Centro de Documentação e Memória, fizeram balanços positivos sobre os inúmeros avanços que estes segmentos alcançaram, mas também apontaram os desafios que se apresentam para a superação de gargalos.

O presidente da Fundação Maurício Grabois e secretário de Formação do PCdoB, Adalberto Monteiro, pontuou com uma visão geral o modo como as várias áreas veem se afirmando institucionalmente no último quadriênio, por meio da sistematização de procedimentos e consolidação de práticas, garantindo a infraestrutura necessária para saltos de qualidade. Para ele, o principal salto precisa ocorrer na integração das seções estaduais à mecânica nacional de funcionamento, tanto da Escola Nacional de Formação, quanto na Fundação Maurício Grabois,

A afirmação da Fundação tem se dado por diversos meios, desde a dotação orçamentária própria que permitiu a estruturação física e pessoal da instituição. “Temos uma agenda anual de realizações que põe em movimento um quadro de lideranças e intelectuais, assim como fortalece a relação com outras fundações e universidades.” Monteiro ainda mencionou a atuação perene da Fundação em eventos periódicos como os encontros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Foro de São Paulo (FSP) e o Fórum Social Mundial (FSM).

O dirigente da Fundação ainda destacou a necessidade de haver um esforço de recuperação da memória e da história e documentação do Partido Comunista em cada Comitê Estadual. Segundo ele, neste período em que a Fundação ampliou o espectro da documentação e análise desse acervo, foi possível propiciar ao Partido uma nova síntese sobre a história do comunismo no Brasil, o que deu massa crítica para o 13º. Congresso elaborar uma nova leitura sobre esta trajetória.

“Hoje, avançamos num resgate de memória que valoriza o conjunto das gerações comunistas e no elenco de lideranças dessas gerações, muitos deles esquecidos pela narrativa tradicional das lutas de esquerda”. Adalberto lembrou que a perseguição sofrida pelos comunistas nunca permitiu ao PCdoB se ocupar com sua memória e história, tendo sempre que se concentrar na conjuntura presente. Pela primeira vez, o Partido conta com uma continuidade democrática que possibilita fortalecer a narrativa da trajetória comunista entre as forças de esquerda e progressista do país.

Adalberto fez ainda observações rápidas sobre o trabalho do portal Grabois, que condensa os debates mais candentes de uma forma mais profunda e dissemina o trabalho da Fundação, seus eventos e resgate da memória e da documentação do Partido. Hoje, o portal disponibiliza coleções inteiras de publicações históricas como o jornal A Classe Operária.

O dirigente mencionou o trabalho editorial da Fundação ao produzir cerca de 40 livros nestes últimos cinco anos, com quadros comunistas escrevendo com colaboração de intelectuais do campo marxista e progressista. “Os intelectuais do país querem saber o que os comunistas estão pensando, e essa produção editorial busca dar conta de atender essa demanda e garantir o respeito intelectual e a circulação de ideias”.

Monteiro destacou como a revista Princípios enfrenta os grandes temas da conjuntura nacional, mantendo-se como referência, ainda que o desafio da distribuição permaneça. Existe agora um esforço para avançar na ideia de assinaturas virtuais e na dinamização do site da revista.

O dirigente comunista considera que há, hoje, um reforço de quadros na formação e propaganda, com uma tomada de posição dos comitês estaduais para os temas. Com a consolidação da Escola, há o desafio de aumentar sua capacidade de resposta à demanda de formação para o marxismo leninismo num partido que cresce em todo o país. “Mas a luta pela persuasão para o trabalho de formação não está ganha, porque há direções estaduais que não entendem a importância orçamentaria desse trabalho estratégico”, salienta.

Com a realização da Copa do Mundo e das eleições, o foco do trabalho de formação vai até junho. Para isso, Monteiro afirma a necessidade de enfrentar o discurso da Oposição de que o ciclo do atual governo se esgotou. “Temos que cimentar a ideia de uma nova plataforma de  governo com avanços significativos no sentido de avançar nas reformas estruturantes. Por outro lado, não podemos entrar com ideias improvisadas no apoio a candidatos majoritários nos estados”.

Escola, Organização, Princípios, Pesquisa e Memória

A reitora da Escola Nacional de Formação, Nereide Saviani, falou da disposição de massificação dos Cursos do Programa Socialista, uma etapa inicial de formação política. Nesta sexta-feira haverá a oficina de ensino à distância, outra modalidade de formação que se consolida e deve ampliar muito o público formado, ao dar maior autonomia às seções estaduais realizarem os cursos. “Formamos quase 15 mil militantes nesse quadriênio, fora as sobreposições de quadros que fizeram etapas esparsas”, contabilizou Nereide.

Ela ainda mencionou os cursos realizados no âmbito do Foro de São Paulo, organismo que reúne partidos de esquerda de toda a América Latina e Caribe. A dinamização da página virtual da Escola e a interatividade via redes sociais são outras ferramentas de fortalecimento do trabalho.

Uma conquista importante da Escola, apresentada por Nereide, foi o currículo sistematizado para todas as etapas dos cursos com os temas imprescindíveis de serem trabalhados em cada etapa. Nereide tem expectativa de que a plataforma virtual permita a aferição do aprendizado, que tem sido difícil de garantir de outras formas.

“Mas ainda sofremos com as dificuldades com informação dos estados, quadros deslocados para tarefas que não podem continuar os cursos, necessidade de consolidação das seções estaduais e o desafio de garantir cursos para a demanda de crescimento do partido”, ressaltou. 

Como membro da Comissão Nacional de Organização, Neide Freitas fez um balanço de mobilização do 13º. Congresso, quando observou a necessidade de inverter ou frear uma tendência de desmobilização nas capitais, dados que combinam com queda de votações nessas regiões. Ela entende isso como uma questão complexa, não apenas organizativa ou política, mas um conjunto de fatores que precisam ser atacados.

O editor-executivo da revista Princípios, Claudio Gonzalez, apontou os desafios da publicação que pretende ser a voz do debate de ideias com os militantes e quadros do partido. Há uma preocupação em tratar temas do projeto nacional de desenvolvimento, tais como educação, agricultura e o financiamento do desenvolvimento, assim como o esforço de ampliar a rede de contatos com intelectuais, por meio da formação, para ampliar o alcance da revista para fora do Partido. “Mas permanece os desafios da distribuição e da sustentabilidade financeira, além das colaborações de quadros e amigos que precisa ser maior”, afirmou, apontando que, agora, a revista avança para fortalecer sua presença na internet e nas redes sociais.

O diretor de Estudos e Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, Aloisio Sérgio Barroso, tratou da importância da ampliação do debate leninista para além das fronteiras do Partido. Com o lançamento da Sociedade Amigos de Lênin (SAL), amplamente divulgada nos órgãos do partido, ele observa o interesse crescente pela participação nesse núcleo de pesquisas. “Discute-se muito Marx, mas ninguém enfrenta Lênin, um pensamento muitas vezes descartado nos debates de esquerda. É preciso enfrentar a luta de ideias pela contemporaneidade do pensamento de Lênin, em temas como o imperialismo, as transições prolongadas, o poder (estado e partido) e a cultura”, diz ele. Barroso anunciou para o final de maio um seminário com lançamento do manifesto de constituição da SAL e formação de sua coordenação.

O secretário-geral da Fundação, Augusto César Buonicore,  apresentou o trabalho do Centro de Documentação e Memória (CDM), talvez um dos setores em que mais se investiu para consolidar suas finalidades. O “passo à frente” do CDM, na opinião de Buonicore, baseia-se na continuidade dos trabalhos que avançam e na superação do gargalo de incorporar os estados com CDMs “para evitar uma história paulista e carioca do comunismo” e ampliar este resgate documental para todos os cantos do país.

Ele citou entre as conquistas do CDM a aprovação em edital do Projeto Marcas da Memória,do Ministério da Justiça, projeto importante que garantiu a gravação de um conjunto de entrevistas de comunistas que resistiram à ditadura entre 1964 e 1985 e posterior publicação em livro. Mencionou também a digitalização de jornais e fotos que compõem um acervo, parte dele já disponível na internet. Houve ainda o resgate de um grande acervo de documentos, fotos e filme do período ditatorial que encontrava-se arquivado na Albânia, quando os comunistas brasileiros realizavam suas reuniões sob a proteção daquele governo comunista.

“Se existe um apagamento da história na década de 80 e 90, conseguimos recolocar a história do PCdoB, por meio de resgates biográficos”, diz Buonicore, referindo-se aos ricos subsídios do CDM, que possibilitaram a narrativa biográfica de dirigentes comunistas por meio de livros. O historiador apontou a importância de trabalhos como esse, por haver uma luta pela memória das classes dominadas, que é constantemente apagada pelos setores dominantes.

“A burguesia sabe a importância disso. A maioria das organizações de esquerda da resistência à ditadura não mais existe, mas o PCdoB continua. Por isso o esforço de apagar sua importância histórica. Até quem nunca nos defendeu no passado nos ataca hoje defendendo um suposto caráter superior do Partido Comunista no passado. Nenhum outro partido tem essa prolongada história de resistência, daí a importância de seu registro documental.”

Outras perspectivas para o ano são os 50 anos do golpe militar, quando ocorre um grande ato público em Brasília, no dia 1o. de abril, e outro no dia 2 ato no Tuca, teatro da PUC-SP. Dia 4, ocorre a seção da Comissão Nacional de Anistia para filhos de presos políticos, em São Paulo, um ato que Buonicore considera “de partido”, já que as 18 famílias perseguidas durante aquele período eram do PCdoB. Nos estados também estão programados vários atos de memória dos 50 anos do golpe. “O PCdoB tem que protagonizar essa denuncia, pois nenhum outro partido perdeu tantos quadros”.

Ainda este ano, outras efemérides são os 90 anos da Coluna Prestes, quando haverá Sessão Solene na Câmara dos Deputados e tantos outros eventos. Os 30 anos da União da Juventude Socialista (UJS) terá a publicação de um livro sobre a história da entidade. O CDM prepara-se para o lançamento de uma iconografia com mil fotos, um trabalho inédito no Partido Comunista, assim como o lançamento do filme sobre o Osvaldão, em março e abril, sobre o comunista negro que comandou a Guerrilha do Araguaia. “Este filme tem grande importância num país em que a valorização do negro no comando das lutas sociais é apagada. Vai ser uma grande conquista do Partido”.

Após as exposições dos dirigentes da Formação e Propaganda, iniciaram-se as intervenções de dirigentes estaduais, que prossegue para o período da tarde. Desta forma, é possível ter um quadro detalhado do funcionamento das seções estaduais, por meio do balanço e das perspectivas de cada dirigente, assim como a direção nacional pode fazer uma ajuste de expectativas para a área no próximo período, seja pelos avanços possíveis, seja pelos gargalos locais.