Muito querido em seu país, o artista plástico Ramón Maldonado Díaz, viaja pelo mundo expondo seus enormes painéis à óleo com o colorido e os detalhes da pintura naíf que encanta intelectuais e pessoas comuns sem formação artística mais sofisticada. De passagem pelo Brasil para exposições, como a que fez em João Pessoa (PB), o pintor visitou a Fundação Maurício Grabois, onde encontrou o secretário-geral e poeta Adalberto Monteiro, seu colega de faculdade em Goiânia, quando se formaram em jornalismo.

 

Adalberto Monteiro e antigo colega de jornalismo em Goiás (Foto: Cezar Xavier)

Seus quadros são representações folclóricas da vida cotidiana em seu país, com as festas e os rituais religiosos, que concentram toda a dinâmica social das vilas venezuelanas. Para ele, esses rituais concentram o caráter místico que explica o povo venezuelano. Díaz evoluiu para o estilo naif, que é conhecido pela ausência de erudição artística, mas espontaneísmo intuitivo presente numa arte colorida, simples e comunicativa.

Evidentemente, são poucas as galerias mais importantes dispostas a expor arte naif, o que mantém os artistas à margem do circuito artístico da crítica. Nada disso intimidou Díaz. Pelo contrário, ele é muito franco e direto sobre esse polemismo da crítica artística. Desde o início, diz ele, sempre produziu seu trabalho carregando a postura de um artista de sucesso e seguro da qualidade de sua obra, ainda que não vendesse nada no princípio. Para ele, chegar a galeristas e outros artistas com a postura e segurança de quem sabe o que está fazendo, fez toda a diferença para alcançar o sucesso nacional e internacional em mais de 80 países. Ele também aprendeu a se vestir bem, com terno e gravata, “para parecer rico” e enfrentar os “entendidos” em artes plásticas.

Está sempre viajando pelo mundo, sem muito planejamento e convite, mas sempre levando seus enormes painéis coloridos. Além de buscar a originalidade, um estilo claro e único, Díaz busca um sentido intelectual para seu trabalho. Uma intelectualização muito própria, que busca explicar a disposição de cores e detalhes pela mística familiar venezuelana. Um olhar quase antropológico de quem conhece o interior venezuelano de perto.

Ele explica a opção pela arte naif, pela necessidade de “esnobar” com o francês, em vez de assumir sua arte como primitiva ou ingênua. Segundo ele, o significado de naif, como “nascido livre”, foi o que o ganhou para o termo. Para além disso, ele defende seu trabalho como arte contemporânea, pelo modo como sua arte se expressa e cativa na contemporaneidade, sem nostalgia ou passadismo, mas pela vitalidade do traço e da vida presente na sentimentalidade de sua obra.

Sua passagem por Goiânia, quando se matriculou no curso de jornalismo sem saber que tipo de profissão era esta, já que a conhecia como “periodismo”, foi importante para sua formação e inserção cultural. Ele voltou em 1983 a uma Venezuela em frangalhos econômicos, aos trinta e poucos anos, sem perspectiva de trabalhar com jornalismo, mas pintando para sustentar a família. Voltou a Goiás, para Cristalândia, onde trabalhou como jornalista por um tempo, até se desencantar com as “mentiras” da imprensa de interior. Fez uma pesquisa trabalhosa para um livro sobre a história da cidade, entrevistando inúmeros personagens, que nunca lhe foi paga, o que o levou a assumir as artes visuais como sua área de comunicação.

O artista observa que a população que apoia o governo venezuelano e sua proposta socialista, mantém a alegria. Segundo ele, aqueles que se opõem, se contaminam com a mentalidade imposta pela mídia e acabam se comportando de forma dissociada da realidade. Parte de sua fama está relacionada ao modo como embaixadas e governos compram e distribuem seus trabalhos como presente para autoridades. Seus trabalhos, então, se tornaram icônicos da realidade venezuelana. Um dos temas frequentes é a festa da burriquinha, que mostra a fuga do menino Jesus para sobreviver à sanha assassina de Herodes. A locaina, um personagem da festa, vestido com fitas coloridas e com uma dança imprevisível, expressa a loucura das mães que perderam seus filhos naquela ocasião. O colorido da festa da burriquinha é um tema frequente, colorido e expressivo de sua obra.

O Brasil é um dos maiores celeiros de artistas naif e Díaz participou da Bienal de Arte Naif (Binaif) na estância turística de Socorro (SP), em setembro de 2017. Na comparação com trabalhos alheios, Díaz consolida sua originalidade e orgulho pelo tipo de trabalho que produz.

 
(Foto: Cezar Xavier)