Em 5 de novembro de 2017, o PCdoB oficializava a pré-candidatura da deputada Manuela D’Ávila à presidência da República. Laura, que ainda não tinha completado 2 anos e meio, foi a companheira inseparável de Manu nesta jornada. Isso não era exatamente novo na sua vida, já que Laura sempre esteve ao lado da mãe, na Assembleia Legislativa, em reuniões, debates, seminários. No início no colo, mamando – para o espanto de muitos – depois dando seus primeiros passos ou já correndo. Mas a dimensão e repercussão do que viria a partir daquela data foram muito maiores e mais intensas. 

Desde o seu primeiro mandato como parlamentar, na Câmara Municipal de Porto Alegre, Manuela sempre foi uma das personalidades do mundo político mais ativas na internet e nas redes sociais.  E foi dessa forte presença nas redes sociais, dos seus posts com relatos das andanças com a Laura pelo país, que uma amiga, Cris Lisbôa, sugeriu à Manuela que transformasse a experiência em livro. “Ela acreditou nesse projeto e começou a ver a publicação muito antes mesmo de eu acreditar no projeto”, conta Manuela.

O exercício da maternidade e seus desafios sempre são emoldurados com mais de uma dezenas de clichês, a maioria deles na busca de impor um padrão de maternagem historicamente construída. Aos poucos isso vem sendo desconstruído em razão de posturas como a de Manuela, que optaram por não se dividir em duas personalidades distintas – a mãe e a mulher. “Como a minha vida é muito pública, o entrelaçamento da Laura e as transformações que ela me provocou, mesmo as privadas, sempre foram públicas. Porque eu fui gestante deputada, depois eu passei o meu puerpério e a minha licença maternidade sendo deputada, e depois numa etapa de transição da primeiríssima infância [da Laura] eu me transformei candidata à presidência da República. Então, além das revoluções que a mulher vive pela maternidade, as mais profundas que eu vivi foram justamente por eu ter acreditado que eu não precisaria sair do espaço público vivendo a maternidade do jeito que eu acho correto para mim”, explica Manuela. 

E, nos já três anos e meio de vida da Laura, a vivência da maternidade foi definida por escolhas e decisões que Manuela considerou as mais adequadas para cada momento. E qualquer que elas fossem, sempre foram alvo de alguma controvérsia. “Isso significou para mim não ter concorrido à prefeitura de Porto Alegre e depois ter aceitado concorrer à presidência, vivendo a maternidade do jeito que eu considero adequado, para mim. Então, elas [as revoluções que a Laura trouxe] se entrelaçaram porque só existe uma Manuela, e essa Manuela é a mãe da Laura agora, e a minha vida pública teve que dar espaço para essa minha condição. Eu acho que o nosso maior desafio quando pensamos em políticas sociais e na visibilidade da maternidade, é dizer que a nossa vida — seja ela a vida pública em si, como a minha, ou o exercício do trabalho, dos homens e das mulheres, principalmente dos homens, porque a paternidade dos homens é invisível — não contempla, não transforma em público esse espaço.

A forma como a Manuela sempre tratou sua relação com a Laura, trazendo para o espaço público o debate sobre a maternidade e paternidade, em particular durante a campanha eleitoral, causou uma impressionante identificação em milhares de mães. Manuela disse que não imaginava que seria assim, até porque, “não foi sempre assim. Esse espaço foi um processo de construção. No início eu recebi muitas críticas. —Ah! A Laura vai hoje também? —Por que ela fica viajando com a criança, ela tem dinheiro para pagar babá? —Por que ela aceitou ser candidata? Ou então, —por que ela não aceitou ser candidata à prefeitura? Ou seja, foi um processo muito difícil. O que me fez aguentar tudo isso foi a minha convicção individual, aliada à força que eu recebi de muitas mulheres que são mães”.

Manuela ressalta que há uma dificuldade histórica em se tratar o tema da maternidade no movimento feminista. “No movimento de mulheres há uma resistência muito grande de se falar em maternidade. Porque nós, feministas, um dos primeiríssimos debates que nós fazemos é sobre a não compulsoriedade da maternidade, da sua não romantização, sobre a possibilidade de a mulher se realizar fora disso, que é um debate absolutamente correto. O problema é que uma parte imensa das mulheres, eu diria a maioria delas, são mães. E dentro dessas que são mães, uma grande parte gosta de ser mãe, como eu gosto. O foram de forma consciente. Então, nós precisamos também debater que a forma como nós podemos enfrentar os privilégios é discutir como uma parte das mulheres conseguem ocupar os espaços públicos e outras não conseguem nem trabalhar, por exemplo. O que explica isso? É por causa da divisão de responsabilidades, porque existem homens absolutamente desresponsabilizados; é porque existem crianças absolutamente terceirizadas, porque a desigualdade permite isso e o machismo também? Isto é, crianças cuidadas por outras mulheres, mesmo quando as mulheres protagonizam? Este é um debate que as mulheres mães acabaram abraçando e respeitando a minha maternagem e a individualidade dela. Porque esse é outro debate né: cada um vive sua maternidade do jeito que quiser, ninguém é obrigada a nada, não existe modelo. As mães me acolheram nisso”.

O livro de Revolução Laura, reflexões sobre maternidade e resistência tem lançamento programado para acontecer em 10 capitais. “Mesmo sendo um mês curto, nós estaremos por todo o Brasil debatendo o livro, mas também as outras questões relacionadas à resistência”, diz deixando um convite para que todos apareçam para conversar com ela sobre maternidade, política e a luta necessária para enfrentar o que vem pela frente. Acompanhe as datas dos lançamentos e os eventos pelo Facebook: https://www.facebook.com/manueladavila/

Serviço:
Revolução Laura: reflexões sobre maternidade e resistência
Manuela D’Ávila e Cris Lisbôa
Editora: Belas Letras
Preço de capa: R$ 44,90
Pré-venda pelo site da Editora Belas Letras