Vai, semeador, semear tuas sementes*

Semeador, mas sem liberdade,
Trabalhei da alba à escuridão;
Com mão sem mancha e sem maldade
Contra as rédeas da escravidão
Joguei a semente da vida.
Mas foi só jornada perdida,
Propósito bom e aflição.

Gente de paz, pastai! A nada
A honra vos persuadirá.
Não serve franquia à manada:
Degola e tosa ela terá.
Sua herança é canga pesada,
Sobre ela açoite estalará.

(1823)

* A epígrafe é obviamente inspirada na parábola do semeador, narrada em Mateus, XIII, 1-23; em Marcos, IV, 3-20; e em Lucas, VIII, 4-15. Todavia, não se trata de citação, embora muito se aproxime do texto dos versículos 3, 3 e 5 dos autores indicados, nessa ordem.


Poesias escolhidas
Aleksandr Púchkin
Organização e tradução: José Casado
Editora Nova Fronteira – edição 1992