assim daqui pr’ali pode me dar vontade de desistir
entre um lado e outro da ponte, atravessando a rua
entre a cama e a privada, entre uma página e outra
 
da esquerda para a direita
por dá cá aquela palha

pode ser simples como um fio de meus cabelos desgrenhados:
desistir
parar tudo no meio do risco, não desenhar-te mais e apenas rir
do rio
cortar

daqui pr’ali, assim, sem anúncio, sem choro nem vela
sem mingau na panela,

fácil como fechar os olhos e morrer, esquecendo-te de vez;
virar trinta gramas de poeira numa estrada rural do 3º mundo;
imitar a leveza do ritmo das lesmas nas paredes de tua mente

enquanto não acontece, enfim, tuas estrofes vão assim
se acumulando em mim,
como um eco afirmativo

vulcanizando-me os poros, enfarando-me de um sal grosso
feito do sofrimento e das palavras dum operário a queimar a vida
com orgulho numa fábrica de Pequim à espera de qualquer dia comum
povoado de homens simples, pouca umidade relativa e certo frio

quando acontecer, daqui pr’ali, que essa munição seja,
sem ter nem pra quê, lançada contra a muralha
que nos mergulha na pobreza e na imensidão

por agora, procuro o fim do novelo do velho movimento
meio a pau e pedra, mas com cautela e caldo de galinha,
ouvindo pacientes acordes orientais.