Prosa@Poesia
Prometeu
Johann Wolfgang von Goethe Publicado em 06.04.2016
Prometeu, personagem da mitologia grega, emblema da rebelião dos homens contra os deuses, irá, no texto de Goethe, mostrar seu desejo de independência e revolta contra a criação divina. Afirma seu domínio sobre a terra, a mesquinhez dos deuses, a potência humana sobre o seu destino e a recriação humana de um mundo melhor do que aquele criado pelos deuses. Uma metáfora de rebelião contra o poder opressor.

Encobre, ó Zeus!
o céu com suas nuvens.
E como o jovem
que gosta de colher
cardos no campo, em teu poder conserva
o robusto carvalho e o alto cume
da espaçosa montanha.
Mas consente que eu use
essa terra que é minha,
êsse abrigo que eu fiz,
e esta forja que quando faço arder,
tu, no Olimpo, me invejas.
Nada mais pobre eu conheci, ó deuses
do que vós próprios.
Apenas vos nutris
de sacrifícios
e de preces,
dedicados a vossa majestade.
Morreríeis de fome se não fossem
as crianças, os loucos, os mendigos
que vivem de ilusões.
Quando eu era menino
e nada conhecia,
ao sol se erguiam meus sentidos olhos
como se lá houvessem
ouvidos que escutassem meus lamentos,
e um coração tivesse igual ao meu
capaz de consolar a minha angústia.
E quem contra a insolência
da turba dos titãs me auxiliou?
Quem me salvou da morte
e me impediu a escravidão?
Não foste tu meu coração somente,
Ardendo numa chama inextinguível?
Jovem e ingênuo eu tudo agradecia
Àquele que no céu
dorme na ociosidade.
Como prestar-te honra? Mas por quê?
Deste jamais alívio
aos oprimidos?
Já enxugaste as lágrimas
dos que são infelizes?
Formei um homem,
mas um homem afinal que só se curva
perante o Tempo e o Fado
que são tão meus senhores como teus.
Pensaste tu talvez
que poderia desprezar a vida
e ao deserto fugir
porque nem todos
os meus sonhos floriram?
Aqui estou.
Homens faço segundo a minha imagem,
homens que serão logo iguais a mim.
Divertem-se e padecem,
gozam e choram,
mas não se renderão aos poderosos
como também eu nunca me rendi!
Poemas da Liberdade
Uma antologia poética de Dante a Brecht
Edmundo Moniz
Civilização Brasileira
1967