Prosa@Poesia
Uma canção no Magdalena
Nicolás Guillén Publicado em 15.02.2017
Poema de Nicolás Guillen escrito nos anos quarenta à razão de uma viagem que fez navegando pelo rio Magdalena, na Colômbia, serve de mais um motivo para o exercício musical da linguagem, valorizando o ritmo da música popular caribenha, tão desvalorizada pela poética modernista elitista que vigorava antes deste poeta cubano. Observe como as palavras e sons descrevem com riqueza de imagens o passeio pelo rio.

(Colômbia)
Sôbre o duro Magdalena,
longo projeto de mar,
ilhas de areia e pena
grasnam sob a luz solar.
E o voga, voga.
O voga, voga
prêso em sua aguda pirágua,
e o remo, rema: interroga a água.
E o voga, voga.
Verde negro e verde verde,
a selva elástica e densa,
ondula, sonha, se perde,
caminha e pensa.
E voga, voga.
Certos
portos de braços abertos!
Crianças de ventre avultado
e olhos espertos.
E fome. Petróleo. Gado...
E o voga, voga.
Vai a gaivota esquemática,
com asa breve e sintética,
voando apática...
Vai alva a garça esquelética.
E o voga, voga.
Sol de azeite. Um mico, em muda
pose, pensa se saúda
ou não, lá de um galho, na alta
floresta, onde guincha e salta
sua...
E o voga, voga.
Ai, que longe Barraquilla!
Vela o caimão como quilha
na água, a boca aberta e torta.
Lá no peixe a escama brilha.
passa a vaca amarela, ilha
morta.
E o vaga, voga.
O voga, voga,
sentado,
voga.
O voga, voga,
sentado,
voga.
O voga, voga,
sentado,
voga...
O voga, voga,
preso em sua aguda pirágua;
e o remo, rema: interroga
a água.
OUÇA A VOZ DE GUILLEN RECITANDO O POEMA:
Veja e ouça a versão musicada do poema:
Livro: Antologia Poética
Autor: Nicolás Guillén
Seleção e Adaptação: Ary de Andrade
Editora: Leitura
El son entero, Vapor, Medellín, 1946