Entre 1978 e 1979 realizou-se a VII Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na Albânia socialista, devido à violência com que a ditadura brasileira tratava reuniões políticas. Até, então, havia uma única foto deste evento com os dirigentes de costas (apenas João Amazonas, de frente), por motivo de segurança. Com o resgate do filme, é possível saber muito mais sobre a participação na Conferência. Ela representou uma grande vitória do PCdoB, que havia sido duramente atingido pela repressão menos de dois anos antes, na chamada Chacina da Lapa.

No episódio brutal promovido pela ditadura militar, três importantes dirigentes foram assassinados – Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond – e quatro quadros, presos e torturados: Elza Monnerat, Haroldo Lima, Aldo Arantes e Wladimir Pomar.  Segundo Fernando Garcia, coordenador do Centro de Documentação e Memória (CDM), o objetivo da ditadura militar era eliminar o partido que havia organizado a Guerrilha do Araguaia. “Portanto, a reunião na Albânia tinha como objetivo reestruturar o Partido após a Chacina da Lapa e repassar a política partidária no novo contexto mundial e principalmente brasileiro”, explica.

A VII Conferência realizou-se com militantes que se encontravam no exterior ou haviam chegado ali clandestinamente de várias partes do Brasil. Uma equipe de cinema albanesa filmou todo o evento e produziu um documentário a partir do roteiro feito por comunistas brasileiros. A narração coube a Dynéas Aguiar, Edson Silva, José Reinaldo de Carvalho e Ana Rocha. Nele, entre outras raridades, destacam-se as imagens de Diógenes de Arruda Câmara, que morreria alguns meses depois ao voltar do exílio.

Este documentário – nunca exibido no Brasil e que muitos imaginavam desaparecido para sempre – foi encontrado por Bernardo Joffily e Olívia Rangel. Ambos moraram naquele país entre 1974 e 1979, trabalhando nas transmissões em português da rádio Tirana, e estão entre os raros brasileiros que podem entender os documentos completamente registrados em albanês.

O CDM divulga, a princípio, uma versão condensada de 16 minutos, mas, em breve, a íntegra do documentário e de outros documentos encontrados será disponibilizada ao público, através da página do Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois (CDM-Grabois).