Depois de idas e vindas, a eleição presidencial vai terminar do modo como se imaginava. Desde quando começamos a discuti-la, a hipótese de redundar em uma disputa entre o PT e o PSDB era a mais provável para os especialistas e a aposta principal dos eleitores.

O segundo turno, diz o senso comum, é uma nova eleição. Trata-se de uma verdade parcial. Para quem votou nos candidatos remanescentes, serve apenas para confirmar sua escolha. Claro está que o cidadão tem de voltar a pensar, mas a chance de rever a decisão tomada há pouco é pequena.

A escolha eleitoral não é desimportante para a vasta maioria. Fixar-se em determinada opção não costuma ser algo resolvido de supetão ou levianamente. Ao cabo de um processo que pode ser demorado, os eleitores optam por uma candidatura (ou preferem anular o voto, deixá-lo em branco ou não comparecer). Quando chegam a esse ponto e, no dia da eleição, transformam a intenção em comportamento, definem-se. Daí decorre a premissa de que os dois candidatos que restam recomeçam a disputa do ponto em que terminaram a anterior.

Nossa história eleitoral a corrobora. Só tivemos um caso relevante de perda de votos entre o primeiro e o segundo turnos, o de Geraldo Alckmin em 2006. Na exceção, percebemos a regra: para o eleitor mudar o voto, admitindo para si mesmo uma escolha errada, é necessária mais que uma “onda”.

Ao se considerarem os resultados do domingo 5, a eleição do dia 26 será de confirmação para os mais de 78 milhões de eleitores de Dilma Rousseff e Aécio Neves. Neste caso, só o aparecimento de um fato tão desabonador em relação ao candidato preferido (ou de uma novidade tão extraordinária a respeito do outro) justificaria a revisão da decisão amadurecida ao longo de meses. Ou anos.

Entre os 38 milhões que não foram votar ou que escolheram branco e nulo, há aqueles que o fizeram por opção e quem assim se comportou por contingência, algo impossível de diferenciar com os dados disponíveis. Sabemos, no entanto, que entre o primeiro e o segundo turno das eleições tende a cair o total de brancos e nulos e a crescer a abstenção. Em 2010, entre um turno e outro, o número de eleitores que não compareceram aumentou 4,5 milhões, enquanto o total de brancos e nulos diminuiu em 2,4 milhões, o que fez a alienação eleitoral total subir 2,1 milhões.

No domingo 26, haverá efetivamente uma nova eleição para os 22 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva e os 3,7 milhões que preferiram os outros oito candidatos. Esses se dividem em dois blocos nítidos, um à esquerda e outro à direita. No primeiro, a maioria dos eleitores de Luciana Genro, Eduardo Jorge e dos três partidos de extrema-esquerda. No segundo, os do Pastor Everaldo e dos demais postulantes de extrema-direita. Não é difícil imaginar para onde iriam no próximo turno, no caso ao menos daqueles que não forem engrossar a alienação.

A dúvida (e a resposta à pergunta a respeito de quem vai ganhar a eleição) está no voto de Marina Silva. Algo difícil de decifrar, pois, de acordo com as indicações das pesquisas confirmadas pelos resultados eleitorais, votaram na ex-ministra diversos tipos de eleitores. Como saber para onde vai um contingente tão grande e díspar de brasileiros, dos generais de pijama do Clube Militar do Rio de Janeiro a jovens progressistas que participaram das manifestações de junho de 2013? Com Marina à frente, aceitavam caminhar juntos. E sem ela?

Nas pesquisas realizadas antes da morte de Eduardo Campos, a proporção de votos brancos e nulos e a resposta “ninguém” atingia mais de 25%. Quando Marina entrou, caiu para 10%. Quantos dos eleitores que permaneceram fiéis a ela até o fim, quando o antipetismo já estava todo (ou quase todo) com Aécio, voltarão a não querer nenhum dos candidatos no páreo?

A cada incremento nessa quantidade, fica mais complicado o problema para Aécio. Sua tarefa neste segundo turno é difícil: suplantar os 9% a 10% de dianteira que Dilma tem sobre ele, contabilizados os votos que cada um recebeu e o reparte previsível do eleitorado dos oito candidatos menores. Se todos os eleitores de Marina votarem nominalmente (isto é, dividirem-se entre ele e Dilma), o mineiro precisa receber o voto de cerca de 70% dos marinistas. Se alguns preferirem não votar em ninguém (abstendo-se, votando branco ou nulo), a taxa de aproveitamento do tucano terá de ser mais elevada. Na hora da verdade, será possível levar 80% dos eleitores de Marina a votar em um candidato do PSDB?