Por muitos anos comemorada como a data marco da redenção do povo negro, 13 de maio hoje já não é vista como uma data para festividades.

A escravidão não acabou no imaginário social e os reflexos de sua permanência, 126 anos depois, podem ser vistos de forma clara na sociedade atual.

Com efeito, não obstante os levantes revoltosos da senzala, o fim da escravidão já era ansiosamente esperado até pelos senhores mais conservadores, tudo em nome de uma emergente sociedade de classes, fundada no trabalho livre. A  questão tão somente como substituir a mão de obra, o que foi rapidamente resolvido com a importação de mão de obra europeia.

Neste contexto histórico, o negro se tornou dono de seu próprio destino e à ele coube a missão de inserir-se na nova dinâmica de trabalho.

A reparação devida ao povo negro, neste passo, não é só material. Ao povo negro é devido também o despreparo psicossocial para inserir-se na sociedade do trabalho livre, na medida que seus anseios pela liberdade, refletida nas revoltas das senzalas, foram manipulados para um fim desastrosamente “humanitário”.

O negro perdera seu papel na cena histórica como agente de trabalho e, obviamente despreparado para inserir-se em uma relação de trabalho livre, logo recebeu o estigma de vagabundo, desordeiro, cachaceiro, o que acabou de excluí-lo de vez da competição na nova dinâmica de trabalho, jogando-o à sua própria sorte às margens da sociedade inclusiva.

No tocante às relações raciais, o imaginário social não acompanhou a nova dinâmica da sociedade de classes fundamentada no trabalho livre e do negro esperou-se a eterna servidão e docilidade, de modo que, para o bem da paz social, este deveria saber o seu lugar.

Hoje, 126 anos depois da abolição da escravidão, o povo negro resistiu ao abandono material, ao despreparo psicossocial e apesar de todas as adversidades impostas pela sociedade inclusiva, se encontrou como uma parcela da população que ainda é racialmente dominada por uma escravidão suja, dissimulada em preconceitos, estereótipos, pobreza, assassinatos em massa nas periferias, ausência de moradias e etc.

Hoje o povo negro já enxerga que não há paralelos entre as péssimas condições sociais que enfrenta e a cor de sua pele e, por tal razão, já não comemora mais a bondade humanitária da Princesa Isabel.

Hoje, dia 13 de maio, é dia de reflexão sobre o passado, o presente e o futuro, para que o negro seja o agente histórico de sua verdadeira redenção.

Publicado em Advogados Ativistas.