Um correspondente indicou-me recentemente o noticiário da Suécia, que parou de flertar com a deflação e avançou diretamente para ela. É surpreendente: o país, que no início suportou a crise recente razoavelmente bem e não enfrentou as restrições institucionais que a participação na Zona do Euro teria imposto, conseguiu, de maneira completamente gratuita, cair em uma armadilha deflacionária.

As autoridades do Riksbank dizem, na verdade, que ninguém poderia ter previsto esse desenvolvimento. Mas é claro que o próprio ex-vice-presidente do banco, e meu ex-colega, Lars Svensson mais ou menos freneticamente advertiu em 2013 que o Banco Central da Suécia estava cometendo um erro terrível ao aumentar as taxas de juros apesar da inflação baixa e da grande folga econômica. Sua recompensa foi um crescente isolamento e, afinal, ele saiu. Você vê, todos os SMS – Suecos Muito Sérios – sabiam que era importante aumentar as taxas de juro porque, bem, porque sim. E sair da armadilha vai ser muito difícil.

Eu gostaria de imaginar que as pessoas vão admitir que Lars estava certo o tempo todo, e que em geral a vontade de purgar foi altamente destrutiva. Mas meu palpite é de que ele ainda será considerado inconfiável – ele foi prematuramente antideflacionista – e que os defensores do dinheiro justo continuarão sendo considerados prudentes e confiáveis, mesmo enquanto levam todos para a estagnação duradoura.

A queda da Suécia na deflação oferece na verdade várias lições relevantes para todos nós. Primeiro, é uma lição sobre o poder do sadomonetarismo, o desejo de muitas autoridades monetárias de aumentar as taxas de juro porque, bem, porque sim. Em 2010 a Suécia tinha alto desemprego e baixa inflação; a macroeconomia básica teria indicado que não era o momento de aumentar as taxas. Mas o Riksbank foi em frente e aumentou de qualquer modo. Por quê?

As autoridades hoje dizem que teve a ver com estabilidade financeira, com temores de preços excessivos da habitação e empréstimos. Mas não era isso o que diziam na época! Stefan Ingves, presidente do Riksbank, realizou um bate-papo online em dezembro de 2010 no site do banco, no qual declarou que aumentar as taxas teve a ver com a inflação: “Se a taxa de juro não for aumentada agora”, escreveu, “corremos o risco de excesso de inflação à frente. Isso não seria bom para a economia. Nossa tarefa mais importante é garantir o cumprimento de nossa meta de inflação de 2%”.

Estranho dizer, quando a inflação começou a chegar bem abaixo da meta, o Riksbank continuou aumentando as taxas de juro e adotou justificativas de estabilidade financeira.

Segundo, a experiência da Suécia ajuda a esclarecer uma polêmica histórica sobre a política econômica dos EUA. Existe um contingente substancial de críticos do Federal Reserve que insiste que todo o ciclo da bolha da última década foi culpa do Fed, que ele manteve as taxas de juro baixas demais por muito tempo. Se você pensar nisso, porém, o Fed por volta de 2003 e 2004 enfrentava uma situação muito semelhante à do Riksbank em 2010: o desemprego continuava alto, mas caindo, a inflação estava baixa e os preços da habitação, subindo.

Então o que os críticos do Fed estão dizendo é que o banco, que estava preocupado com a inflação na época, deveria ter feito o que o Riksbank fez. (Vocês ainda têm certeza disso?)

Finalmente, a saga sueca é uma clara ilustração dos limites da influência intelectual. Na época em que a política estava saindo dos trilhos, Svensson, um dos principais macroeconomistas do mundo e, especificamente, um especialista em riscos de deflação e armadilhas de liquidez, era vice-presidente do Riksbank. Ele protestou vigorosamente contra o rumo que a política estava tomando e foi completamente congelado por seus colegas que tinham certeza de que eram mais espertos.

E note que esse não foi o caso de seus colegas manterem a ortodoxia econômica, enquanto Svensson propunha ideias radicalmente novas; ele foi o que adotou argumentos de economia básica, enquanto eles inventavam novas razões para endurecer imediatamente.