Localizado no Oeste da África e detentor de um dos IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixos do planeta, o Mali terá, neste fim de semana (10 e 11 de agosto) o segundo turno da eleição presidencial. São as primeiras, depois de uma série de terremotos políticos, ocorridos nos últimos dezesseis meses.

Primeiro, a maior parte do território ficou sob controle de grupos fundamentalistas ligados à Al Qaeda e provenientes da Líbia — fortemente armados, após o desmantelamento do exército de Muamar Kadafi. Depois, houve um golpe militar e o “novo” governo apelou para intervenção francesa — que ocorreu em janeiro. Por tudo isso, a maior parte dos analistas internacionais viu no pleito uma grande vitória e o primeiro passo para a retomada da uma trajetória “democrática”.

É diferente o ponto de vista de Giorgio Cafiero, publicado hoje no Foreign Policy in Focus, um excelente site alternativo sobre relações internacionais. Ele aponta três dois grandes fatos, desprezados pelos comentários convencionais.

Em breve, as tropas francesas irão se retirar do país, substituídas por uma força da ONU, muito menos preparada. Como os fundamentalistas recuaram sem confronto diante dos franceses, é provável que voltem. Além disso, a classe política de Bamako (a capital) não mostra flexibilidade nenhuma diante dos tuaregues, o povo semi-nômade que habita todo o Norte do país (80% do território, em meio ao deserto do Saara). Foi nestes grupos que a Al Qaeda apoiou-se, em sua incursão de 2012.

Se Cafiero estiver certo, a intervenção francesa vai aparecer, muito em breve, como mais um capítulo das ações “humanitárias” do Ocidente — aquelas que nem arranham os problemas de fundo dos países visados, e muitas vezes os agravam.

Publicado originalmente no Blog da Redação do Outras Palavras.