País já está em regime de tutela mas dissimula para evitar o ridículo

Dias de pesadelo para o governo de direita do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, foram os últimos da semana passada. Antecipou sua autocrítica perante o plenário do Parlamento do país: “Nós, os espanhóis, não podemos escolher se vamos fazer ou não vamos fazer sacrifícios. Não temos mais esta liberdade”, confessou, publicamente, diante dos parlamentares.

“Com o presidente do governo reconhecendo que não existe para o país liberdade econômica e sequer política, não resta mais dúvida alguma sobre a situação miserável da Espanha”, escreveu o jornal El País, referindo-se às letais medidas de frugalidade anunciadas por Rajoy, as quais transgridem todas as suas promessas pré-eleitorais.

Na noite de terça-feira passada chegaram a Madri os 180 heróicos mineiros de carvão da “marcha negra”, os quais percorreram a pé cerca de 400 quilômetros que separam a capital espanhola das minas de carvão das Astúrias.

Acompanhadas por milhares de manifestantes entusiasmados, as negras figuras com a luz de lanterna acesa em seus capacetes criaram uma estranha, quase de “outro mundo”, atmosfera, quando estavam passando diante do Palácio Moncloa, sede do governo de Mariano Rajoy.

“Guerra, guerra, guerra, se não for dada solução”, gritavam erguendo seus punhos fechados. Os mineiros de carvão chegaram a Madri decididos a obrigar o Governo Rajoy a cancelar sua decisão de não dar os 190 milhões de euros de recursos europeus para manter em funcionamento as minas de carvão da Espanha, conforme havia sido decidido em 2010, em uma ajuda total de 350 milhões de euros.

Sem estes recursos, as minas – restaram cerca de 40 – serão fechadas e 8 mil mineiros irão à rua, condenando ao desemprego, também, mais 30 mil trabalhadores que dependem – direta ou indiretamente – das minas de carvão em várias zonas do interior.

Guerra Civil

No dia seguinte (quarta-feira) chegaram a Madri 500 ônibus com milhares de outros mineiros de carvão e seus parentes, que uniram-se a dezenas de milhares de manifestantes madrilenos, revoltados com a política de frugalidade de Rajoy.

“Rajoy, seu futuro é muito mais negro do que o carvão”, foi o característico slogan gritado pela massa popular que lotou as ruas e praças centrais de Madri. “Se o governo quer nos calar, nós, que somos mais duros do que o carvão, vamos mostrar aos outros como podemos acabar com tudo isso”, declarou o mineiro Ramon Pérez aos jornalistas.

Muito mais explosivas foram as declarações do operador de máquina extratora de carvão Carlos Casado: “Ninguém pode apagar riscando a história de um setor inteiro que sustentou e manteve vivas gerações de espanhóis. Os mineiros de carvão são aqueles que deflagraram as mais importantes lutas. Lembrem-se: a Guerra Civil Espanhola eclodiu nas Astúrias, nas profundezas das minas de carvão”.

Como de hábito, a polícia reprimiu com violência os mineiros que realizavam passeata em frente ao Ministério da Indústria, ferindo 75 trabalhadores. Mas estas “perdas” não farão cessar as agressivas manifestações.

“Rajoy dispõe de maioria absoluta, mas, a exemplo do que ocorreu em outros países e com outros governos, a maioria pode despencar rapidamente”, declarou ao jornal britânico Financial Times Francisco Longo, professor da Universidade de Barcelona.

O fato é que o Governo da Espanha encontra-se sob regime de memorando, imposto pela Alemanha, a fim de ser liberado o pacote de salvação. Simplesmente, “Frau” Angela Merkel concordou manter em rigoroso sigilo a decisão oficializando o acordo para evitar que o primeiro-ministro espanhol fosse totalmente ridicularizado.

_____________

Fonte: Moniror Mercantil