O “fogo cerrado” das elites francesas acerta Sarkozy acusado de ter restringido a França em papel de “parceiro menor” dos EUA, em escala mundial e da Alemanha em escala européia e até da Turquia na África do Norte. As elites francesas lhe atribuem imagem de debandada geral da influência e autonomia francesa: “A Europa é fraca, a África está perdida para a França, o Mediterrâno está furioso conosco, a China sobrepõe-se a nós, enquanto, os EUA nos ignoram…A voz da França desaparece internacionalmente. A política de submissão que seguimos contra os EUA desencarrilha muitos de nossos parceiros”.

A incondicional adesão da França na estratégia alemã de “refundação” da União Européia (UE) elevou as vozes de protesto contra a política externa de Nicolas Sarkozy. Ao que tudo indica, as críticas têm assumido dimensões assustadoras na eleitoralmente dividida França. Criticam o gaullista presidente de ter anulado qualquer resquício do gaullismo e diminuído a França geopoliticamente!

As elites francesas preocupam-se que, enquanto, a França predominava durante os dois séculos passados sobre grande parte da África, isto agora está mudando. A Turquia tem aumentado sua influência política sobre os países árabes que encontram-se em período de “Primavera”. As duas antigas potências imperiais competem agora por relações empresariais lucrativas e para a oportunidade de conformar uma nova geração de líderes em territórios que, em tempos passados, controlavam.

Soner Cagaptai, pesquisador-chefe do Institute for Near East Policy, em Washington, destaca que, “se a Turquia jogar suas cartas acertadamente poderá contrabalançar a influência da França ou ainda tornar-se a potência dominante na região. Durante a última década a Turquia registrou crescimento econômico recorde. Não é mais um país pobre que, desesperadamente, pede para ser integrado na UE. Tem uma economia de US$ 1,1 trilhão, poderosas forças armadas e, ambições para conformar a região do Grande Oriente Médio de acordo com suas feições”.

Em sintonia com os esforços da França para criar uma União Européia-Mediterrânea, uma idéia desde 2008 de Sarkozy que ambicionou colocar a França no comando do Mundo Mediterrâneo, uma questão tornou-se perfeitamente clara aos turcos: Seja quem for o vencedor destas eleições presidenciais francesas, a França jamais permitirá a integração da Turquia na UE e muito menos permitirá que se torne um player forte em uma periferia mediterrânea sob a liderança francesa. Por isso mesmo a política externa da Turquia que ultimamente tornou-se ativista, tem se distanciado da Europa. O partido (governista) de Justiça e Desenvolvimento (AKP) do Primeiro-Ministro, Retzep Tayyip Erdogan já cultiva relações com territórios ex-otomanos, os quais, ignorou durante maior parte do Século XX. Das 33 novas representações diplomáticas turcas abertas durante a última década, 18 estão sediadas em países muçulmanos e africanos.

Isto resultou em novas relações comerciais e políticas, frequentemente, em detrimento das relações da Turquia com a Europa. Em 1999 56% do comércio exterior turco destinava-se à UE. Em 2011, este percentual despencou em apenas 41% e, durante o mesmo período, a parcela dos países islâmicos no comércio exterior turco aumentou em 20% de 12%. Esta evolução resultou no surgimento de uma elite empresarial turca mais conservadora, que tem como sua base a Turquia Central e, a qual, recebe sua força das relações comerciais de além Europa e utiliza sua nova riqueza para pressionar a favor de uma redefinição da tradicional aproximação da Turquia ao caráter laico do Estado.

Após 2002, o inspirado pela França modelo de “Ataturk” (Mustafá Kemal) entrou em falência. O partido governista AKP e seus aliados tem promovido em sua substituição uma feição mais suave de Estado laico, que permite à religião manifestar-se mais sobre o governo, a política e a educação. Esta transformação tornou o modelo turco mais atraente entre os países árabes, os quais, consideram maldição o estilo francês de Estado laico.

Embora, anteriormente, tanto a França, quanto a Turquia sempre dispensavam “tratamento especial” a ditadores árabes, a Turquia apoiou – desde o início – as “Primaveras Árabes”, conquistando partidários em quase toda a região do Grande Oriente Médio. Já a França apostava que as ditaduras durariam e, até ano passado, quando passou a apoiar os insurgentes da Líbia não havia construído relações com as forças democráticas às quais se opunha.

A Turquia penetrou nos países árabes construindo redes empresariais e criando escolas super-modernas, dirigidas pelo todo poderoso movimento de Fethullah Güllen, mentor de Erdogan e hoje diretor de grupo educacional e editorial norte-americano, inspirado pelo Islã sufico e destinado a educar a futura elite árabe.

A França encontrará dificuldades para “vender” seu modelo de Estado laico na região ou de competir com a rede empresarial da Turquia, particularmente, na Síria, Líbano e, Iraque. Contudo, seja lá como for o caminho é difícil. Soner Cagaptai, em recente conferência na Universidade Zirve de Gaziantep, relata que, “árabes liberais e islamitas de diversos países árabes discordaram sobre a maioria dos temas, mas concordaram em apenas um: A Turquia é bem-vinda no Grande Oriente Médio, mas não deverá predominar sobre esta região”.

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Fonte: Monitor Mercantil