Entre as muitas possíveis, há três de grande importância para projetar o futuro.

Uma, basilar, relaciona-se com o que vimos chamando de crise da teoria revolucionária, no sentido preciso de exigência de seu desenvolvimento. Renovar o marxismo e o leninismo, superar o dogmatismo que empobreceu a criatividade e a dialética e cerceou a criatividade e a compreensão dos processos complexos do desenvolvimento social, segue sendo um balizamento estratégico prolongado. Estagnada como esteve, com a compreensão idealista do conhecimento teórico, ela não poderá cumprir sua função. Tampouco se poderá seguir muito longe desconhecendo a indispensabilidade de uma teoria crítica e revolucionária, da qual o marxismo segue sendo expoente máximo jamais ultrapassado.

Desde o 8º Congresso em 1992, desvencilhamo-nos de muitas incompreensões. Se queremos ser herdeiros honrados da vocação histórica do PCdoB, estamos chamados perseverar nesse caminho, seguir adiante, para superar o hiato.

Mas a teoria precisa se consubstanciar na capacidade de reformular o programa e estratégia para o tempo contemporâneo, nas relações de forças dadas no mundo e no país, em especial sendo capaz de interpretar a realidade nacional à sua luz. Essa é a outra questão central: a reformulação está em curso no PCdoB, com méritos notáveis, aceleradas pela coragem teórica e política do 8º Congresso, capitaneado por João Amazonas. O Programa de 2009, aprimorou os caminhos para tornar exequível a luta pelo socialismo no Brasil. Extraiu outras consequência estratégicas para a luta, a compreensão nodal da exigência de um projeto nacional para a nação brasileira, um novo patamar civilizatório de um país com elevado desenvolvimento, soberano e ambientalmente sustentável, de ampla democracia popular, de plenos direitos sociais para o povo trabalhador e integrado a seus vizinhos regionais.

Isso se liga indissoluvelmente a compreender, também, a exigência de uma força política e social combativa, um Partido Comunista forte e influente, para que as conquistas se aprofundem e sejam consolidadas. Quanto mais madura se faz a perspectiva de um caminho brasileiro ao socialismo, tanto mais devem se plasmar, com originalidade, as características que deve assumir o Partido Comunista do Brasil na contemporaneidade. O Estatuto de 2005 e a Política de Quadros de 2009, deram passos avançados na renovação de concepção e práticas nesse terreno: um influente partido comunista de quadros e de militância de massas, em funcionalidade com o papel estratégico que o PCdoB se propõe, para lutar pela hegemonia.
É preciso perseverar também nesse caminho, seguir adiante para consolidar esse rumo.

Uma terceira consequência é tangível e está na intersecção das anteriores. É a necessidade de ousar sistematizar a partir da própria experiência os desafios da revolução brasileira. Sempre que o partido se mostrou capaz de interpretar as originalidades próprias do país e do povo brasileiro, sem esquematismos nem cópia de modelos próprios de outras realidades, ele foi capaz de ousar e empolgar a nação. A ANL e sua bandeira anti-imperialista, em 1935; a União dos Brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista, proposta na VI Conferência em 1966; a tática radical e ampla das “Três Bandeiras” na fase final da luta contra a ditadura; a defesa da ida ao Colégio Eleitoral para pôr fim à ditadura; a constituição de uma originalidade expressiva que foi a constituição da UJS para liderar a juventude brasileira, a assunção de responsabilidades no novo governo instalado em 2002, foram alavancas de ascensos marcantes da influência política do partido no cenário do país.

Mais que hábeis movimentos táticos, expressava-se aí a crescente maturação de um caminho brasileiro para o socialismo, um socialismo com a cara do Brasil, decantado afinal no Programa aprovado em 2009. Com base nisso, tendo no comando uma política capaz de ser ampla e radical a um só tempo, vai se modelando progressivamente no terreno teórico-ideológico, e sobretudo prático, a renovação de concepções e práticas de partido.

Em resumo, as três questões interligadas implicam elevar a capacidade de discernir de mote próprio os desafios estratégicos da luta dos brasileiros, na perspectiva do projeto programático e estratégico do PCdoB, alicerçada na capacidade de desenvolver o marxismo e o leninismo em ligação com os originais problemas da revolução brasileira, para construir um partido comunista renovado na luta pela hegemonia. Essa é a expressão concentrada da cota de contribuição da atual geração dirigente dos comunistas brasileiros, desafiados a interpretar em profundidade a época corrente e levar adiante o legado que recebemos nestes 90 honrados anos de luta.

* Walter Sorrentino é secretário nacional de Organização do PCdoB