Naquele ano, entrava em operação o primeiro canal de TV brasileiro, a Tupi, e tinha início a construção da maior obra de engenharia brasileira até então, o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso. Getúlio Vargas era reconduzido à Presidência e o país parava para assistir Brasil e Uruguai, pela final da Copa, no que foi considerada a “maior tragédia do esporte nacional”.

O estádio do Maracanã, “o maior do mundo”, então, foi construído em apenas três anos e inaugurado a uma semana do primeiro jogo. Ainda assim, foi o único legado concreto deixado pela Copa ao país, que não conseguiu tratar de seus problemas de insuficiência de energia e precariedade de transporte.

Passados 64 anos, o Brasil sediará, em 2014, sua segunda Copa do Mundo e, dois anos depois, os Jogos Olímpicos, uma excelente oportunidade de desenvolvimento, além de um grande privilégio para os brasileiros. No mundo atual, o esporte tem uma grande penetração em nossa sociedade, impactando todos os elos da cadeia econômica, da construção civil aos alimentos e bebidas, do vestuário à industria da informática.

A realização destes dois eventos internacionais, com suas oportunidades de negócios inerentes, não deve se limitar, portanto, ao cumprimento das metas elaboradas pelas entidades organizadoras. O governo precisa saber aproveitar este momento, montando estratégias para maximizar seus benefícios e promover uma necessária transformação social.

De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas, serão injetados R$ 142 bilhões na economia até a Copa de 2014 e mais R$ 50 bilhões até os Jogos Olímpicos de 2016. A previsão é que também sejam gerados 3,5 milhões de empregos, no que pode se tornar o momento de maior inclusão social da história do país, desde que o governo se disponha a qualificar nossa mão de obra, ajudando a transformar em definitivos muitos dos empregos temporários que surgirão.

Nossas pequenas e médias empresas também precisam ser capacitadas para identificar e trabalhar as oportunidades de negócios que se apresentam, evitando que sejam aproveitadas somente pelas empresas estrangeiras que, por sua expertise, chegam em ocasiões como esta, agregadas à cauda do cometa dos jogos, levando todo o capital para fora do país.

Os clubes esportivos, futuros gestores das arenas multiuso e centros esportivos em construção, não estão sendo ouvidos. A Copa da Alemanha aumentou a receita das equipes locais em 33%, mesmo com a crise de 2008. Na França, por outro lado, o estádio de Saint Dennys, construído sem o envolvimento do Paris Saint Germain, encontra-se hoje utilizado somente para shows eventuais e corridas de cachorros.

Na África do Sul, as equipes de rugby e críquete não utilizam os estádios porque o tamanho do gramado é inferior ao necessário ou não têm estrutura adequada. Como não houve um planejamento para desenvolvimento do futebol, tão cedo os estádios não terão torcedores. Viraram, assim, uma manada de elefantes brancos, num país onde a inflação chegou a 5% e o desemprego a 25% no pós-Copa.

Apesar de termos nos tornado a sexta economia do mundo, ainda estamos em décimo-nono lugar entre os países do g-20 em níveis de desigualdade, o que evidencia o tamanho dos desafios que temos pela frente. É preciso que todo o investimento realizado no país em função dos eventos esportivos seja revertido em prol do bem-estar da população, para além desse período.

É fundamental que tanto o capital físico como o capital humano gerado transformem-se em capital fixo e sirvam de legado a ser usufruído pelas próximas gerações. Afinal, o potencial de transformar e evoluir encontra-se na essência da atividade esportiva, e os jogos no Brasil devem ser aproveitados em toda sua plenitude.

* Helio Viana é empresário

Fonte: O Globo