A braços com o quadro de profunda estagnação económica e crise sistémica, o imperialismo norte-americano insiste na estratégia irracional de hegemonia mundial absoluta e crescente utilização do poderio militar. A casta exploradora dos EUA, país cuja dívida pública ultrapassa já os 15 biliões de dólares e se prepara para atingir os 100 por cento do PIB respectivo, não esconde a sua inquietação para com o desafio resultante do desenvolvimento da China, segunda maior economia mundial desde 2010 e seu maior comprador de títulos da dívida. Sintomáticas afirmações das mais sinistras intenções, como a do candidato à nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2012 e antigo embaixador em Pequim, Jon Huntsman, que não tem pejo em sugerir «deitar a China abaixo» (Global Times, 19.11.11), tornaram-se quase uma banalidade na boca de altos representantes do poder estadunidense.

É este o pano de fundo em que se realizaram, nos últimos dias, as cimeiras da APEC (Cooperação Económica da Ásia e do Pacífico) e ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), momento escolhido pela Casa Branca para uma investida diplomática-militar na região que tem a China como claro destinatário.

Deslocando-se à Austrália – consorte dos EUA e da NATO na guerra do Afeganistão –, Obama oficializou a criação de uma base militar permanente em Darwin, costa Norte da ilha, anunciando que os EUA elevarão à condição de prioridade de topo o seu peso militar na Ásia-Pacífico. A primeira-ministra anfitriã, Julia Gillard, eleita pelo Partido Trabalhista, lembrou que se tratará do maior destacamento militar dos EUA na Austrália desde a II Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, a secretária de Estado, Clinton, assinou em Manila, a bordo do destroyer USS Fitzgerald, uma declaração com o seu homólogo filipino que carimba a política de ingerência dos EUA no intrincado processo de disputas territoriais do Mar Meridional da China que envolve vários países da zona e prometeu reforçar a aliança militar com as Filipinas. Washington conta com os préstimos valiosos do governo de Benigno Aquino nos esforços para exacerbar e internacionalizar o contencioso e instrumentalizar em seu torno uma «frente comum» contra Pequim.

Na escalada de contenção e cerco estratégico da China, os EUA contam com o apoio e a ampla presença militar no Japão e Coreia do Sul. Simultaneamente, desferem um ataque na frente económica, surgindo como impulsionadores de peso do acordo de liberalização de comércio da Parceria do Trans-Pacífico que não é integrado pela China.

Não podendo no momento prescindir da relação de «dependência económica assimétrica» com o maior mercado emergente mundial, o aumento da pressão imperialista sobre a China visa obrigá-la a actuar segundo «as regras do jogo» (, People’s Daily, online, 18.11.11). As mesmas regras que ditam que o imperialismo não desista dos objectivos de forçar a total abertura do mercado interno chinês à sua exploração ilimitada e anular a emergência soberana da China. Tudo e muito mais continuará a ser feito pelo poder dos EUA para paulatinamente procurar , instabilizar , a China e, em última instância, poder subverter a sua ordem interna e derrotar a orientação assumida do socialismo.

É no âmbito das tarefas estratégicas de monta das forças do imperialismo, em que se incluem também as medidas para anular a breve trecho com o escudo antimíssil o poder de dissuasão nuclear que a Rússia basicamente herdou da URSS – o que coloca em risco evidente, não só a soberania, como a integridade territorial da Federação Russa –, que no presente momento se assiste à escalada de tensões e da barbárie no Médio Oriente e à onda de caos e desestabilização que alastra do Norte de África à Ásia Central.

A actual perigosa conjuntura e as sérias ameaças à paz mundial exigem hoje o redobrar do protagonismo das massas trabalhadores e dos povos, pela democracia, contra a exploração capitalista, contra as guerras do imperialismo.

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Este artigo foi publicado no “Avante!” nº1982, de 24.11.2011