A Suíça é o único país da Europa que não se envolve em guerra desde a época de Napoleão, mas há algum tempo encontra-se em estado de guerra. Uma guerra, propriamente, monetária, que a cada dia que passa torna-se cada vez mais dura e mais difícil. Tanto que este pequeno país dos Alpes já avalia a eventualidade de perder sua autonomia monetária.

A convulsão nos mercados internacionais fez com que os investidores guinassem ao refúgio seguro que lhes garante o franco suíço com resultado de sua paridade ter sido valorizada em níveis que criam problemas para a economia real. Mas os acontecimentos estão afetando milhares de tomadores de empréstimos em todos os países da Zona do Euro que endividaram-se em francos suíços para adquirir a casa própria.

Por exemplo, um saldo de empréstimo da ordem de 125 mil francos suíços no início deste ano valia 100 mil euros. Mas, hoje, com a alteração da paridade, oscila nos níveis dos 114 mil euros, isto é, 14% superior. A evolução da paridade tornou-se pesadelo para todos aqueles que endividaram-se em moeda suíça.

Na quarta-feira da semana passada, o Banco Central da Suíça, desesperado por causa de seus infrutíferos esforços para conter a corrida ao franco para tonificação da liquidez, chegou a um passo antes da indexação do moeda suíça ao euro.

Ano passado, o franco suíço valorizou 14% em relação ao euro e 32% em relação ao dólar norte-americano. Este ano, o franco valorizou 11% a mais com relação ao euro. Mas a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), considerando o poder aquisitivo da moeda suíça, avaliou que o franco está supervalorizado em 39% contra o euro.

Sem competitividade

Esta excessiva valorização equivale a uma corda no pescoço das empresas suíças, cujas exportações despencam dramaticamente, enquanto seus produtos tornam-se cada vez mais caros, quer dizer, cada vez menos competitivos nos mercados internacionais.

Já no interior do país a carestia tornou-se insuportável, e não só para os visitantes estrangeiros. Esta cidade de Zurique já é a segunda cidade mais cara do mundo depois de Oslo, enquanto o governo suíço anunciou que dispõe de 2 bilhões de francos suíços para apoiar os consumidores, os exportadores e a indústria de turismo do país.

"O franco é destrutivamente supervalorizado. Estamos em meio a uma guerra econômica. E em todas as guerras deverá ser usado qualquer meio possível para vencer", declarou – cheio de si – Christoph Blocher, empresário bilionário, ex-ministro da Justiça e membro do Partido Popular, o maior do país.

Este empresário suíço, defensor intransigente da indexação paritária do franco suíço com o euro, exigiu a demissão de Philipp Hildebrand, presidente do Banco Central da Suíça, a quem considerou responsável pelos sucessivos esforços em aplicar freio e brida na moeda nacional. Ano passado, o Banco Central da Suíça gastou US$ 21 bilhões em infrutíferos esforços para conter a valorização do franco.

Euro será adotado

Thierry Stern, presidente da indústria de relógios Patek Phillippe, deu também um passo a frente propondo a integração da Suíça à Zona do Euro. "O franco tornou-se pesadelo para todos nós, disse o relojoeiro dos mais famosos relógios suíços. Não sei quando isso acontecerá, mas algum dia acontecerá".

Alguém dirá que a Suíça tornou-se vítima de seu sucesso. Que paga com os "disponíveis" para continuar sendo considerada refúgio seguro pelos investidores que trocam seus recursos expressos em diversas moedas em francos suíços para garanti-los contra os riscos da sempre presente e ameaçadora crise mundial de dívida e contra a sempre ameaçadora incerteza econômica.

"Sinto-me orgulhoso pela força do franco suíço, mas algo deve ser feito. Se a situação atual continuar, os salários e as aposentadorias serão aos poucos reduzidos, enquanto muitos perderão seus empregos", declarou Peter Saind, septuagenário professor aposentado, morador no belíssimo Bitertour, a 30 quilômetros de Zurique.

Segundo um ex-presidente do Banco Central da Suíça, que prefere manter-se anônimo – "Não quero aparecer" diz – três são as opções para o tomador de empréstimos expressos em francos suíços:

1. Não fazer nada, enquanto avalie que o euro será valorizado contra o franco e a taxa de juro da moeda estrangeira permanecer nos atuais baixos níveis por longo espaço de tempo ainda.

2. Trocar somente a espécie da taxa de juro de oscilante para estável, com a premissa de aguardar a valorização do euro contra o franco. Desta forma tranca uma taxa de juro estável baixa e, aposta em redução de sua dívida em euros.

3. Transferir seu empréstimo em programa com euros, para não correr risco cambial. Neste caso, a transferência será realizada com paridade desfavorável e, sua dívida em euros aumentará.

Juros baixos

Os empréstimos em francos suíços foram concedidos nos últimos cinco anos e, principalmente, antes do ano passado. Foi a época quando os bancos liberavam, generosamente, empréstimos, principalmente, habitacionais, e a competição os havia guinado ao franco suíço, que oferecia taxas de juros mais baixas do que o euro.

O grande "movimento" para o franco suíço ocorreu em 2008, quando a paridade era particularmente favorável (perto de 1,60-1,62) e as taxas de juros do euro ainda mais altas. Foi, então, quando quase 15% das novas concessões de empréstimos habitacionais realizavam-se em moeda suíça. Obviamente, esta vantagem permanece ainda hoje. As taxas de juros da moeda suíça conformam-se em historicamente baixos níveis e consideravelmente inferiores ainda às correspondentes européias.

Por causa disso, os tomadores de empréstimos podem perder com a desvalorização do euro, mas ganham pelas muito baixas taxas de juros do franco suíço, as quais evoluem em níveis perto de 0,20%. Isto é, a taxa final de juro, a duras custas, poderá superar no caso do franco suíço 3,50%, em antítese com as taxas européias de juros, as quais, superam na maioria dos casos, níveis entre 4% e 4,5%.

Além disso, de acordo com executivos de bancos suíços, os atuais níveis de paridade consideram-se baixos para a moeda comum européia, fato que significa que talvez existam oportunidades escondidas para aqueles atrevidos que transformarão suas dívidas de euros em francos suíços.

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Fonte: Monitor Mercantil