Cada vez mais tensa e mais complicada torna-se a situação na Síria, onde desde meados de março deste ano encontram-se em plena evolução manifestações contra a liderança do presidente Assad.

A divulgação com relação ao que está, realmente, acontecendo é proporcionada a conta-gotas pelos veículos de comunicação oficiais, enquanto a única saída para obtenção de informações para os correspondentes estrangeiros permanece a Internet, a qual invoca sempre a TV Al Jazeera, transmitindo dados e imagens que ninguém pode cruzar para checar sua autenticidade.

O governo de Damasco insiste de que enfrenta uma amplo plano de desestabilização, promovido pelo exterior (Agência Central de Inteligência – CIA, Estado de Israel e alguns Estados europeus ex-colonialistas) e posto em prática por grupos de criminosos armados, assim como é verdade que uma série de organizações contra o regime e organizações humanitárias "sem fins lucrativos", das quais a origem, tanto de financiamento, quanto dos motivos mais profundos, não é muito difícil de ser adivinhada, denunciam um interminável "banho de sangue" de cidadãos desarmados, indiscriminadamente massacrados pelas forças armadas do regime.

Atrás deste nebuloso ambiente a verdade é que centenas de cidadãos sírios atravessam a fronteira com a Turquia nos últimos dias. Também é verdade que – com base, pelo menos, nas imagens transmitidas – a maioria dos manifestantes que marcham é composta – direta ou indiretamente – por membros de organizações religiosas, e isto comprova-se pelas separadas marchas de homens e mulheres, assim como pela indumentária das últimas.

Acesso fechado

Igualmente, é verdade que as autoridades sírias, apesar de suas sucessivas garantias de livre acesso das comissões da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Cruz Vermelha, mantêm inviável este acesso, assim como não têm sido materializadas, por causa – conforme relata-se – das continuas escaramuças, a suspensão da situação emergencial que vigora no país desde 1963, anunciada pelo presidente Assad, assim como as reformas com relação à liberdade de Imprensa, à Constituição e ao funcionamento dos partidos políticos. Mas, mesmo assim, todos os presos políticos já foram anistiados.

Em meio a esta extremamente preocupante situação somou-se a notícia de que na cidade de Jiar al Chugur, perto da fronteira com a Turquia, foram mortos, em apenas um dia, 123 soldados sírios. Ninguém sabe as exatas circunstâncias durante as quais ocorreu isto.

Indiscutivelmente, contudo, constitui evolução extremamente importante e perigosa e muitas autoridades sírias avaliaram que "o eventual em tudo isso é a situação assumir dimensões de guerra civil", hipótese que já deverá ser considerada provável.

Planos imperialistas

E enquanto, o ambiente interno, com relação aos acontecimentos reais, permanece nebuloso, a situação começa a se esclarecer, gradualmente, sobre a posição e os objetivos de certas forças periféricas neo e ex-colonialistas. E é mais provável que as forças imperialistas, como EUA, França e Grã-Bretanha, não pretendem – pelo menos por ora – assumir uma ação militar contra a Síria. Mas não se descarta que o façam por procuração. O belicoso exército israelense poderá aceitar a procuração.

As forças imperialistas, após seu estrondoso fracasso para derrubar Muamar Kadafi, esperam que o EUA o façam, repetindo a operação do assassinato de Osama bin Laden. Mas os Estados Unidos não têm a menor disposição de abrir novo front no exterior após Afeganistão e Iraque, reduzindo as possibilidades de reeleição de Barack Obama.

Mas todos estes sabem que se atacarem a Síria, abrirão a Caixa de Pandora para toda a região do Grande Oriente Médio, considerando as estreitas relações do governo de Damasco com Hezbollah, Hamas e Líbano, assim como por causa do Acordo de Defesa da Síria com o Irã.

Além disso, Rússia e China declaram-se, categoricamente, contrárias a qualquer medida agressiva, até, inclusive, a adoção de sanções contra a Síria, com a característica reação do governo de Moscou que declara – em qualquer oportunidade – que "não existe nenhuma razão para tomada de medidas, considerando que o que estiver acontecendo dentro da Síria não ameaça a estabilidade e a segurança da região do Grande Oriente Médio".

Dissidência interna

A exclusão da opção de solução militar não significa, naturalmente, que as forças colonialistas que têm adotado e apoiam os argumentos da oposição contra o regime de Assad não gostariam de contar com uma "mais cooperadora" liderança síria do que esta de Bashar Al Assad, o qual, como se sabe, tem nos últimos anos estreitado consideravelmente suas relações com o Ocidente em todos os níveis.

Mas sabe-se, também, que os EUA – desde 2006 – estão financiando organizações contra o regime de Assad com milhões de dólares, principalmente a Frente Nacional de Salvação da Síria, sediada na Bélgica e fundada por Abdel Alí Khadam, que foi braço-direito de Hafez Al Assad, pai do atual presidente sírio.

Anotem que Khadam – que tem parentesco com a família real da Arábia Saudita e pode, perfeitamente, receber de Riad generoso financiamento, considerando que os sauditas buscam assumir papel protagonista na região do Grande Oriente Médio – já passou por todos os cargos de órgãos de segurança do governo sírio e foi figura do primeiro escalão do regime.

Mas, repentina e inexplicavelmente, demitiu-se e auto exilou-se na França, em 2005, denunciando a liderança de Bashar Al Assad e reclamando, essencialmente, porque o poder não passou às suas mãos como era esperado. A questão, obviamente, é que Khadar e os que gravitam em torno dele não têm apoio popular, embora esteja de acordo com as reivindicações dos manifestantes em Damasco.

________________

Fonte: Monitir Mercantil